Thammy conta motivo de não alterar nome e se diz homem evoluído

“Sou um homem evoluído”, diz Thammy Miranda

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Eleito desde o berço para assumir o posto de “Rainha do Bumbum” da mãe Gretchen, Thammy Miranda surpreendeu o país quando se assumiu um homem transexual. As mudanças em seu corpo foram acompanhadas pelo público, que viu a dançarina sensual, que já tinha posado nua, se transformar em um homem com pelos e barba.

Hoje, aos 34 anos, dois anos depois de uma mastectomia, o ator se sente completo e um namorado melhor para a atriz Andressa Ferreira, com quem divide uma cobertura na zona sul de São Paulo: “Sou um homem evoluído!"

Você se assumiu homossexual publicamente aos 24 anos e anos mais tarde, um homem transexual. Você passou por esse processo ou foi uma escolha não expor tudo de uma vez para o público?

THAMMY:  Passei mesmo por esse processo. Na verdade, o público passou por esse processo junto comigo. Eu nem sabia que existia transexual, nem mesmo o termo. Foi passando o tempo e ainda tinha alguma coisa que não estava certa. Não estava satisfeito comigo mesmo. Foi quando eu fui saber o que era transexual. Na hora falei: 'Cara, você é isso aí'. Fui me reconhecendo como homem e buscando adaptar o meu corpo da forma com a qual eu me sentia. Comecei a tomar os hormônios há dois anos e meio e, depois da cirurgia, é como se eu tivesse colocado tudo de dentro para fora. Não me sentia completo. Parecia que tinha algo fora do lugar.

Sua mãe realmente teve dificuldade em aceitar isso?

THAMMY: No começo ela não aceitou. Achava que era fase, que eu estava com encosto… Não bati de frente com ela. Apenas falei que era a minha realidade e que jamais iria fazer isso para chamar atenção. Quem quer sofrer preconceito de graça? Ninguém quer passar por isso. Acho que ela não aceitou no começo porque não sabia o que realmente estava acontecendo e porque tinha planejado muitas coisas para mim, que eu não poderia fazer, como assumir o posto dela. Mas quando ela entendeu que aquilo era a minha realidade, o amor prevaleceu. Ela me aceitou e me apoia.

Qual foi a importância da Andressa nessa sua adaptação?

THAMMY: É muito importante ter o apoio das pessoas que você ama, mas quando se é transexual não importa muito o que os outros acham. É uma coisa que é mais forte do que você. Mesmo se a Andressa e meus pais falassem que não aceitavam eu ia ser do mesmo jeito. Não tinha uma opção. Lógico que quando liguei para a minha mãe e falei que ia operar e tirar os seios e ela me apoiou, assim como meu pai, tudo ficou muito mais confortável. A Andressa não levou tão na boa no começo porque não queria que eu fizesse a cirurgia.

ANDRESSA: Não é que eu não queria! É que é complicado… Eu tinha medo que ele se arrependesse. Também tinha uma insegurança em relação ao nosso relacionamento. Antes eu só namorava uma mulher, era mais simples. De repente comecei a namorar um homem. É uma relação diferente da que eu estava acostumada e disposta. Daí me permiti a amar a pessoa, além do gênero. Ainda bem que eu sempre me coloquei como bissexual, caso contrário, nem poderia estar mais com o Thammy, que é homem. Se eu fosse só lésbica não ia ficar com ele de jeito nenhum. Tenho conhecidos que não conseguiram superar isso e terminaram o relacionamento.

Por ter estado do outro lado você se acha um namorado melhor?

THAMMY: Fiquei mais confiante, mas, ao mesmo tempo, mais egoísta. Tenho que tomar cuidado sempre com isso. A gente começa a se reconhecer, a se gostar, e acaba pensando só na gente mesmo, esquecendo um pouco da parceira. Então, até minha cabeça adaptar, foi complicado. Os hormônios mexem muito com a sensibilidade, me deixou nervoso. Mas não consigo programar o que quero ser ou fazer como namorado. É no instinto. Acho que tenho uma facilidade para entender melhor a mulher porque sou um homem evoluído (risos).

ANDRESSA: Menos, né! Mas acho que ele tem mais facilidade mesmo para me entender porque sentiu, de certa forma, o que é ser uma mulher. Já teve TPM, coisa que um homem nunca vai entender. Ele entende essa fragilidade que a mulher sente em certos momentos. O que eu senti é que no começo Thammy era mais sensível. Não só comigo, mas questões do dia a dia. Depois, a testosterona trouxe mais praticidade para a vida dele e é ótimo porque dá um equilíbrio. É ruim muita sensibilidade junta. Acho que foi a melhor parte dessa postura masculina dele!

Você mudou o gênero nos documentos. Como foi fazer com quem as pessoas passassem a se referir a você por meio do gênero masculino?

THAMMY: Decidi trocar os documentos muito tarde e por isso não quero trocar o nome. Acho que nem ia atender por outro nome. Ainda tem gente que não se acostumou a me tratar pelo gênero masculino. Visualmente acho que não tem motivo, mas tem gente que tem a imagem de antigamente. Respeito o tempo de cada um, mas me incomoda quando vejo que fazem de propósito. Meus parentes ainda oscilam. Até a Andressa ainda se policia. A gente teve uma conversa e eu disse: 'Se você que dorme e acorda comigo não se esforça, imagina quem não me conhece?'. Depois disso ela começou a prestar mais atenção.

ANDRESSA: Essas foi a parte mais difícil. Eu conheci com o Thammy como ela. Mas estou me policiando desde que ele começou a demonstrar que estava incomodado com isso. Até pensei em chamá-lo só de Miranda, por ser mais fácil e masculino.

A questão do uso de banheiros públicos por transexuais foi um tema forte nos Estados Unidos no último ano. Você usa banheiro masculino ou já foi impedido de usar?

THAMMY: Não tem como não usar. Imagina um cara barbado entrar em um banheiro feminino? Já que me posicionei como homem, tenho que frequentar o banheiro masculino. Ainda não passei por nenhum impedimento ao usar o banheiro masculino. 

Como é ser uma referência para tantas pessoas que passaram ou passam pela mesma experiência?

THAMMY: É puxado ter essa responsabilidade. Quero que as pessoas me vejam como alguém que faz qualquer coisa pela sua liberdade e felicidade. Mas não quero que pensem que fiz o que fiz por ser legal, porque ser trans é o maior barato. Tem um pessoal novinho com 12 ou 13 anos que fala que quer ficar igual a mim. Eles acham que isso é moda, mas não é. Demorei 32 anos para saber realmente o que estava acontecendo comigo. Claro que tem crianças que já sabem quem são e se reconhecem em determinado gênero. Acho que cada um é cada um e tem o seu próprio tempo, mas é uma decisão séria. É uma mudança radical que não tem volta. Mesmo se eu parar de tomar hormônio hoje, a barba não vai cair. Mesmo que eu quisesse colocar um silicone, o peito ia ficar deformado. Não é brincadeira.

Que conselho você daria para o Thammy de 18 anos?

THAMMY: De Thammy para Thammy, falaria para ele ter sido ele mesmo antes. Mas acho que tudo tem o seu tempo. Talvez antes eu não tivesse a maturidade de hoje.



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