Morto em acidente de avião, Emiliano Sala namorava atleta brasileira

“Emi”, como ela chamava o namorado, era o argentino Emiliano Sala.

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No dia 14 de janeiro, quando completou 31 anos, Luiza Ungerer estava feliz. Depois de cinco temporadas jogando pela equipe feminina de vôlei do Nantes, na França, a líbero brasileira havia se transferido para o Béziers Angels, atual campeão francês, que joga a 800 quilômetros de sua antiga casa. Por uma coincidência no calendário do campeonato, porém, o jogo naquela semana era contra o ex-time, o que lhe permitiria passar o aniversário perto do namorado, jogador de futebol do time mais popular da cidade. Recém-chegado do Reino Unido, ele tinha uma novidade para contar.

"Ele disse que tinha ido conhecer o Cardiff (clube galês que disputa o campeonato inglês) e que tinha fechado, ia pra lá. Fiquei muito feliz porque ele estava muito contente. Era o sonho dele ir, jogar a Premier League, o melhor campeonato do mundo", conta Luiza ao EXTRA.

"Emi", como ela chamava o namorado, era o argentino Emiliano Sala, 28 anos, atacante e ídolo do Nantes. No dia do aniversário de Luiza, Sala somava 12 gols e era o terceiro maior artilheiro do campeonato francês. Tinha sido comprado pelo Cardiff por 15 milhões de libras (cerca de R$ 72 milhões), a mais cara da história do time galês. No dia 21, uma semana depois daquele encontro, o avião que levava o jogador até sua nova cidade desapareceu entre a França e a Inglaterra, e só 13 dias depois foi encontrado, no fundo do Canal da Mancha.

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O corpo do piloto, David Ibbotson, ainda não foi encontrado, mas o do jogador estava na aeronave e foi reconhecido na última quinta-feira. Foi o fim de uma espera dolorosa, que encerrava também os sonhos do artilheiro e o caso de amor sul-americano vivido em solo europeu.

"Sempre tive esperança, porque nessas horas tem que ter. Até o momento em que anunciaram que encontraram um corpo eu tive. Mas ao mesmo tempo, pensava: "tomara que seja ele". Foi muita angústia, de não saber onde está o avião, e de não saber o que vai acontecer, das buscas que não deveriam ter parado. Todos os dias foram angustiantes", diz Luiza.

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No aniversário de 2018, quando ela completou 30 anos, o romance vivia seu melhor momento, e Luiza foi ver a partida do namorado contra o PSG. Neymar estava fora do time rival, mas a brasileira estava lá para ver outro atacante brilhar. Di María abriu o placar para a equipe de Paris. Logo depois, Sala empatou para o Nantes. O juiz, erroneamente, anulou o gol e a partida terminou com derrota por 1 a 0.

"Falei pra ele que sabia que o presente de aniversário era o meu gol, que o juiz anulou, mas para mim não contou. Guardei como meu presente", lembra ela, emocionada.

Aproximação pelas redes sociais

Foi pelo Instagram, em setembro de 2017, que Luiza e Sala fizeram contato, quando jogavam pelas equipes de vôlei e futebol de Nantes. Logo começaram a se ver e não desgrudaram mais. Se era discreto e tímido na vida pessoal, o argentino pisou fundo no relacionamento. Logo nas primeiras semanas, foi até o ginásio da equipe assistir a um jogo da nova namorada. Depois, conheceu a sogra e apresentou a nora à mãe. As conversas entre os dois, que começaram em francês, logo viraram bilíngues: ela perguntava em português, ele respondia em espanhol, o que causava estranheza para quem os ouvia em Nantes.

O "au revoir" dos dois da cidade — a ida dela para Béziers e a dele para Cardiff — vinha fazendo o casal reprogramar os planos para o futuro, pensando nas decisões a tomar com a vida mais distante. Mas não deixaram de se falar nenhum dia, nem quando Luiza veio passar as férias de fim de ano no Rio. Mais distantes do que nunca agora, o que ficou foi a memória dos dias felizes na sexta maior cidade francesa.

"Na rua, todo mundo o reconhecia e vinha falar, tirar foto. Eu dizia "quem manda fazer tanto gol". Para ele, isso era muito surpresa, porque ele é uma pessoa muito simples e não entendia. Ele tem um coração puro, não tem maldade, até ingênuo às vezes — recorda Luiza, que em meio à dor ainda usa o presente para falar do namorado: — Ele é um brincalhão. Um fofo.

Nascida no Rio, rubro-negra de ir a estádio, com jeitão de carioca "raiz" e muitas tatuagens, frequentadora das praias da Zona Sul quando está de férias e vem visitar a família, Luiza está há oito anos na França, o que já a faz falar com algum sotaque e esquecer algumas palavras. Na entrevista exclusiva que deu ao EXTRA, confundiu algumas palavras: quando quis dizer que queria que o namorado descansasse em paz, acabou usando o verbo repousar, da expressão "repose en paix". Em qualquer língua, porém, o que Luiza consegue transmitir é profundidade: seja no luto ou na admiração pela figura de Emiliano Sala.

No Brasil, Luiza jogou em três clubes e foi campeã da Superliga pelo Rexona/Ades duas vezes. Mais que profissão, o vôlei também foi salvação em momentos de desespero. Entre o desaparecimento do avião e a identificação do corpo de Sala, ela entrou em quadra quatro vezes, pelo campeonato francês e pela Liga dos Campeões de vôlei. No sábado, menos de 48 horas após a confirmação da morte do argentino, atuou de novo, apesar da insistência do técnico para que descansasse. É que, segundo Luiza, a única hora em que consegue ficar sem pensar no assunto é jogando, embora as lágrimas muitas vezes caiam ao fim das partidas, no vestiário, mesmo em dias de vitória.

A última vez que Luiza trocou mensagens com Sala foi no dia do fatídico voo, mas ela não gosta de falar sobre isso. E não quer achar culpados pela tragédia:

"O que eu queria é que ele voltasse, mas isso não tem como. Tem muita gente perguntando só coisas horríveis para mim sobre o acidente. É realmente muito difícil."

"Obrigado por você ser como você é", era a frase que Sala mais dizia para a namorada. Foi a escolhida por Luiza para um post no Instagram minutos após a confirmação de que o corpo encontrado era do namorado. Serviu de legenda para uma selfie tirada por Sala na última vez em que estiveram juntos, com os dois sorridentes usando chapéu de festa de aniversário. Uma felicidade que ela, ainda que chorando, diz não querer que desapareça:

"Agora, tenho que ser feliz por mim e por ele. Vou tentar viver por mim e por ele. Acho que é isso que eu vou tentar fazer. Vou tentar ser o mais feliz possível porque é isso que ele quer."



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