Governo de Dilma interrompe trajetória de queda da inflação

Essas duas marcas são fruto de erros de avaliação da situação econômica

A saída para esta espiral já foi detectada | Reprodução/internet
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Ao finalizar seu mandato neste ano, a presidente Dilma Rousseff vai interromper a trajetória de desaceleração da inflação que marcou a virada dos quatro governos anteriores, ao mesmo tempo em que entregará a pior taxa média de crescimento da economia nos últimos 20 anos.

De acordo com especialistas consultados pela Reuters, essas duas marcas são fruto de erros de avaliação da situação econômica, mantendo o estímulo à atividade via consumo --uma das principais marcas de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu segundo mandato-- aliado à demora em incentivar os investimentos.

A saída para esta espiral já foi detectada, via importantes concessões públicas de infraestrura, mas é preciso que o caminho seja mantido daqui para frente por quem estiver à frente da Presidência da República em janeiro.

"Houve um erro de estratégia. Demorou muito para perceber que o consumo estava perdendo força para impulsionar a economia... Não se conseguiu articular a queda do consumo com recuperação do investimento", avaliou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos conselheiros econômicos da presidente Dilma.

O primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) acumulou inflação medida pelo IPCA de 43,46 por cento. Esse número foi caindo até que Lula encerrou seu segundo mandato, em 2010, com alta de preços acumulada de 22,21 por cento.

Se a projeção do Banco Central de IPCA de 6,4 por cento neste ano se concretizar, Dilma vai interromper essa sequência de queda e terminar seu mandato com o indicador somando alta de 27 por cento em quatro anos.

Quando o assunto é atividade econômica, os dados também não são animadores. Dilma deve entregar crescimento médio anual de 1,8 por cento em seu governo, se confirmada a expectativa do mercado de expansão de 0,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, segundo pesquisa Focus do BC. Quando recebeu a faixa de Lula, a taxa média havia sido de 4,6 por cento entre 2007 e 2010.

O resultado da presidente será o pior contando os governos de FHC e de Lula.

CONSUMO

Mais medidas de incentivo ao consumo --como reduções tributárias para veículos e móveis-- em uma economia que já tinha uma taxa de desemprego baixa resultou em inflação alta, com a qual Dilma ainda tem que lidar às vésperas da eleição. Em junho, a alta acumulada em 12 meses do IPCA estourou o teto da meta do governo.

"Quando a desaceleração econômica veio, e aí é o erro de política dela (Dilma), entendeu-se que havia falta de demanda, mas era falta de oferta. A reação foi com políticas monetária e fiscal extraordinariamente frouxas", destacou o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.

Foi em 2012, segundo ano do governo Dilma, que a taxa básica de juros atingiu o menor nível histórico de 7,25 por cento, importante fator de estímulo do consumo via barateamento dos empréstimos. Esse patamar, no entanto, não se sustentou por muito tempo e, no início do ano seguinte, começou a ser elevado para o atual nível de 11 por cento ao ano --acima dos 10,75 por cento que Dilma recebeu.

Para os analistas, a correção do atual cenário passa invariavelmente pelo investimento em infraestrutura, destacadamente via concessões. Com isso, também conseguiria melhorar a confiança no país.

As concessões foram uma aposta do atual mandato da presidente, mas o governo acabou enfrentando mais dificuldades do que imaginava, sem conseguir por exemplo fazer até agora leilão das ferrovias. Ainda existem muitas dúvidas por parte dos investidores sobre esses processos.

Apesar disso, desde o ano passado o governo conseguiu leiloar seis lotes de rodovias e também foram concedidos à iniciativa privada seis aeroportos.

"O Brasil entrou em uma fase em que para voltar a crescer precisa ter aumento de produtividade. Isso demanda tempo e investimentos. Então Dilma acertou no final do governo abrindo concessões", afirmou o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, hoje chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

REEQUILÍBRIO

Ainda que na avaliação de alguns de forma atrasada, o fato de já ter dado início a esse processo de ajuste é o que pesa a favor de Dilma neste momento em que ainda mantém a dianteira na corrida eleitoral, mas com pesquisas apontando disputa muito acirrada num provável segundo turno.

"No frigir dos ovos, o governo Dilma custou a se ajustar à nova realidade e, quando se ajustou, talvez tenha demorado demais. Mas não a ponto de prejudicar a solvência do país", completou Freitas.

Independentemente de quem vencer as eleições de outubro, os especialistas destacam que o importante será continuar nesse caminho para garantir o reequilíbrio da economia --mesmo que isso signifique ao menos mais um ano de crescimento baixo.

"Tem que reconhecer que o país vai ter de crescer pouco para trazer a inflação para baixo, permitir desvalorização do real, subir juros. Um ano muito difícil, mas lançaria as bases para reequilibrar a economia, avançando ao mesmo tempo na questão das concessões", disse Schwartsman.

Na pesquisa Focus do BC junto a economistas, a expectativa é de que o Brasil crescerá 0,9 por cento neste ano, acelerando a 1,5 por cento em 2015 e chegando a 2,5 por cento em 2016, mesmo resultado visto no ano passado.



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