1 a cada 12 homens que fazem sexo com outros homens já foi preso ou condenado por homofobia

Países homofóbicos tem níveis mais altos de contágio por HIV na população

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O mundo estava voltado para conflitos em Israel e na Ucrânia quando especialistas de uma guerra silenciosa, que já deixou 39 milhões de mortos, se reuniram na Conferência Internacional da Aids que aconteceu em Melbourne (Austrália) na semana passada.

O alvo número 1 do combate ao HIV é o ?estigma e a discriminação", discursou Françoise Barré-Sinoussi, uma das responsáveis pela descoberta da Aids, durante a cerimônia inaugural do evento.

?Não ficaremos de braços cruzados enquanto governos, em violação dos direitos humanos, aplicam leis monstruosas? disse a Nobel da Medicina.

Amar pessoas do mesmo sexo é crime em ao menos 76 países. Em cinco deles, a punição para práticas homossexuais é a pena de morte, segundo dados da ILGA (Associação Internacional de Gays e Lésbicas).

Não por mera coincidência, a taxa de contágios e mortes por HIV nesses países é altíssima, de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Afinal, se um Estado sequer reconhece legalmente a orientação sexual de seus nativos, é natural que políticas públicas para o sexo seguro tendam a ser escassas ou inexistentes.

Estudos apresentados na convenção aponta que altos níveis de homofobia reduzem fortemente o acesso a meios de prevenção e tratamento da Aids - como camisinhas, lubrificantes, testes de HIV e coquetéis antivirais.

?Nossos dados mostram que a criminalização não é apenas simbólica. Ela corrói a saúde pública?, disse Glenn-Milo Santos, professor da Universidade da Califórnia e diretor da pesquisa.

Afinal, quem não usa camisinha e lubrificante corre muito mais risco de ser infectado. Quem não consegue se testar adia o tratamento da doença. E quem não se trata vira uma verdadeira "bomba humana". Isso porque a terapia antirretroviral diminui a "carga viral" no sangue do paciente, reduzindo as chances de transmissão do HIV a novos parceiros.

Estudo traz, ainda, uma estimativa alarmante: 1 a cada 12 homens que fazem sexo com outros homens já foi preso ou condenado por comportamento homossexual no mundo.

Outro estudo apresentado por Richard Parker, da Universidade Columbia, apresentou evidências de que comunidades vulneráveis da Nigéria apresentaram níveis de contágio muito maiores após o enrijecimento das leis que restringem a homossexualidade no país.

"Estamos observando números extremamente altos de novas infecções desde que a lei passou", disse Stefan Baral, um dos pesquisadores da equipe, ao USA Today.

Na Nigéria, país mais populoso do continente africano, o sexo gay é ilegal desde que o país era colônia britânica. Mas uma lei sancionada em janeiro pelo presidente Goodluck Jonathan fez tudo ficar ainda pior: para ser preso, basta ?exibir publicamente? a homossexualidade.

O que isso significa?

Demonstrar afeto em público, andar com gays, participar de grupos gays ou mesmo ir a festas gays são atitudes punidas com 10 anos de cadeia. Na região norte, onde a Justiça é regida por tribunais islâmicos fundamentalistas, quem pratica sexo gay é apedrejado até a morte.

Segundo projeções da OMS, em 2010, 17% dos homens gays nigerianos tinham Aids. Entre a população total, o número era de 4% (proporção oito vezes acima da média mundial).

Acontece que, a partir do momento em que grupos gays passaram a ser proibidos por lei, associações beneficentes que recebem doações de fundos internacionais para a prevenção da doença não podem existir.

Isso sem considerar a enorme subnotificação de casos de infecção pelo HIV que, calcula-se, pode estar acontecendo nesses países.

Como declarar-se portador de HIV é praticamente a confissão de um crime, milhares de casos de Aids podem estar sendo registrados como se fossem outras doenças.

Para se ter uma ideia, entre esses 76 países, 28 sequer passam quaisquer dados de casos de Aids à ONU.

A Nigéria é o caso mais alarmante, mas Suazilândia, Moçambique e Malaui também não ficam longe.

Para se ter uma ideia, a incidência de mortes anuais por Aids nesses países é mais de 30 vezes maior que a do Brasil, por exemplo.

Cerca de 2.8 bilhões de pessoas vivem nesses países, de acordo com o Guardian. Ou seja, quase 40% da população mundial simplesmente não tem o direito legal de ser gay.



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