Meninas são obrigadas a se prostituirem para conseguir comida

Histórias chocantes de meninas e adolescentes na Venezuela

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Usa batom vermelho, short jeans justo e uma camisa do falsa do time espanhol de futebol Real Madri. Mariela recebe 4 mil bolívares por dia para vender frutas nas plataformas onde os veículos ficam parados. Ganha menos de um dólar por dia em um país onde há, por um lado, um controle severo do câmbio, e por outro, várias cotações para a moeda americana, uma totalmente diferente da outra.

Na frente da mãe, a menina afirma que também estuda. Mas os seguranças, comerciantes e camelôs presumem que ela e pelo menos outras vinte adolescentes eventualmente exercem outro tipo de função na região central da cidade: a prostituição.

Por semana, a polícia do Estado de Zulia prende uma média de dez mulheres acusadas da prática na região do Mercado de Maracaibo. Daniel Noguera, comandante da Polícia Bolivariana ali, afirma que quatro integrantes desse grupo costumam ser menores de idade. E que sempre há uma indígena. Essas operações geralmente acabam com alguns conselhos e a liberação de todas elas.

Mercado 24 horas

O Mercado de Maracaibo opera ao ar livre, 24 horas por dia. Impossível não notar a sujeira e a lama em meio ao calor de 36°C dos últimos dias de outubro. Existe uma cerca, mas apenas em um dos lados. Os caminhões entram e saem em meio ao mau cheiro. Em meio a eles, crianças indígenas perambulam vestindo trapos e pedindo esmolas.

Kelvin Rincón, vendedor de bananas, explica o que acontece. "Essas meninas estão aqui a toda hora. É um desastre. Elas vendem café ou bananas, mas começam a te tocar, falar besteiras. Eles se relacionam com elas dentro dos caminhões."

Ilse Cruz, uma vendedora de café, diz que os programas acontecem dentro dos veículos, em pequenos apartamentos próximos do mercado ou em barracões. Oswaldo Márquez, presidente da Associação de Comerciantes do Mercado de Maracaibo, conta que o local também é marcado pelo roubo e consumo de bebidas alcoólicas e drogas, o que envolve pelo menos cem meninos e meninas, a maioria integrante de tribos indígenas.

Diferenças culturais

Cerca de 35% dos jovens venezuelanos tem a primeira relação sexual entre os 12 e 18 anos, de acordo com estudos. Mas na cultura wayuu não existe um período de transição entre a infância e a idade adulta e, por isso, não se pode falar de sexualidade precoce, explica o antropólogo Mauro Carrero.

Existe uma tradição entre os wayuu, chamada de "a clausura", na qual as mulheres adultas explicam para as jovens na puberdade quais são seus deveres como mulher e futura esposa. "Para elas, a virgindade não é uma preocupação moral, como na concepção judaico-cristã. E nos dias de hoje ainda existe uma pressão adicional, que é a crise econômica", explica ele, professor da Universidade do Estado de Zulia.

Os frequentadores do Mercado de Maracaibo contam que os corpos das meninas, sejam elas wayuu ou de outras tribos, são moeda de troca para a obtenção de uma quantia que varia entre 1 mil e 2 mil bolívares (algo que varia entre 25 a 50 centavos de dólar americano segundo a taxa do mercado "negro"), algumas bananas ou qualquer outro tipo de comida.

O que é uma consequência da fome e do abandono das populações indígenas da Venezuela, afirma o deputado Virgilio Ferrer, integrante da Comissão de Povos Indígenas da Assembleia Nacional. A Constituição do país dedica um capítulo inteiro para garantir os direitos das populações indígenas. Entre seus artigos 119 e 126, está a garantia do respeito a sua organização social, econômica e política.

Leis que não são cumpridas, diz o parlamentar. "Há um abandono total do ponto de vista social. Há fome, desemprego e pouca educação. Até os pais dessas meninas fazem vista grossa", explicou.



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