‘Sessentões’, Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli ‘não contam’ a passagem dos anos

É nesse ambiente que a dupla, parceira na vida e na arte há 36 anos, recebe a repórter Eliane Trindade.

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"A Cantareira agradece", diz. Bruna Lombardi diante do aguaceiro que banha o jardim de sua casa no Morumbi, em referência ao reservatório símbolo da crise hídrica de SP. A chuva impede que ela e o marido, Carlos Alberto Riccelli, posem para fotos externas. Eles então se acomodam ao lado de pedras esculpidas pela natureza e que decoram a sala cheia de obras de arte.

É nesse ambiente que a dupla, parceira na vida e na arte há 36 anos, recebe a repórter Eliane Trindade. O bate-papo começa com o musical "Amor em Sampa", longa que produzem, atuam e roteirizam e estreia neste semestre, tendo a metrópole de novo como cenário. Com a palavra Bruna, 62, e Riccelli, 68, que discorrem sobre fama, longevidade da relação e o elixir da juventude.

36 ANOS JUNTOS
Ela: "Nunca contei. Matemática não é o meu forte. Ri é engenheiro, bom nisso".
Ele: "Não paro para pensar que temos mais tempo de vida juntos do que separados".
Ela: "Foi uma bênção começar uma relação no Xingu [em 1978, quando foram gravar a novela 'Aritana', da TV Tupi], dentro de uma selva intacta e no meio dos índios. E nós ali tentando nos mimetizar. Olhava para um lado era um enxame de borboletas amarelas, para outro, uma água quente onde se jogar".
Ele: "Foi sorte grande esse encontro. Para irmos ao Xingu pegamos um Bandeirante, uma aventura. A rigor, nos conhecemos no avião".
Ela: "Eu olhei: 'Que gato!'".
Ele: "Também pensei: 'Que gata!'. Descobrimos ali que tínhamos muito em comum. Lembro da gente tomando banho em lagoa de chão macio".
Ela: "O namoro foi natural, orgânico. Duas pessoas se encontrando física, espiritual e emocionalmente. Era mágico. Tudo depois teve essa aura e misto de natureza e arte".

ETERNAMENTE JOVENS
Ela: "Não dá tempo de envelhecer" (risos).
Ele: "A cada dia tudo está para acontecer. Não penso em idade. Quero sempre melhorar e olhar pra frente".
Ela: "Sou atemporal na dinâmica com o mundo. Com 17 anos tinha amigos de 80. Convivi com Mario Quintana, Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector. Conheci os meus ídolos e não me passou pela cabeça: 'Ah, tenho 18 e eles, 70'".

VAIDADE
Ela: "Já disse que não sou bonita, estou ficando. O melhor da vida sempre é agora".
Ele: "Eu também quero estar cada vez melhor".
Ela: "Minha vaidade é normal. Me cuido bem menos do que gostaria. Não consigo tempo para cabeleireiro, massagem. Adoro ginástica e ioga, mas não posso sempre".
Ele: "Me cuido. Sempre tive prazer em fazer esporte. Jogo basquete a vida toda. Parei com futebol, porque machucava demais".
Ela: "Ele é rápido, treina meia hora por dia".
Ele: "Jogo 15 minutos de basquete. Se tenho pressa, estabeleço: fazer 50 cestas, de todas as posições da quadra".
Ela: "Minha alimentação é maravilhosa. Nunca fiz dieta".
Ele: "Bruna adora verde, folhas. Come com prazer".
Ela: "Acho couve uma delícia. O Ri não é assim".
Ele: "Gosto de massa. Já comi muita carne vermelha, agora menos. Adoro pizza".
Ela: "Come como adolescente e a barriga tanquinho".

SÍMBOLO DE BELEZA
Ela: "Não carrego essa ideia comigo. Nem na escola fazia o papel da garota bonita. A beleza não é chave ou quesito. Claro que em alguns momentos era fundamental. Trabalhei como modelo. Ganhei muito dinheiro. Eu costumo me sentir bonita em horas impensadas: acordando, saindo do banho. É uma coisa de estar bem. Ano passado, fui pela primeira vez ao dermatologista. Nunca fiz plástica. Já fui milhões de vezes a cirurgiões e eles não querem mexer ainda. Sou corajosíssima, mas não rolou".

VOU PRA CALIFÓRNIA
Ela: "A gente já tinha um estilo de vida californiano antes de ir pra lá [nos anos 90], sem saber. E adoramos cinema. Deixar a Globo para morar nos EUA foi complexo. É trocar uma segurança por um desejo de se jogar no mundo".
Ele: "Éramos felizes na Globo, mas a vida foi nos levando, assim como a paixão pelo cinema. Nada era programado. Olhando de fora é até irresponsável. Com filho. Não sabíamos se íamos ficar uma semana, seis meses. Fomos ficando".
Ela: "É aquela coisa de pegar as oportunidades. Um dia descobri que Allen Ginsberg [poeta e ícone da geração beat] ia lançar um livro em Ventura [arredores de Los Angeles, onde têm casa]. Adiamos um trabalho e fomos. Peguei o telefone dele, nos falamos, tenho livros autografados. No ano seguinte, ele se foi. É 'priceless' [sem preço]".
Ele: "Sempre viajamos muito os três juntos, mesmo Kim hoje com 30 anos. Não temos mais aquela relação de pais e filho. Somos três grandes companheiros, muito unidos e criando".
Ela: "Criatividade é a mola da nossa vida. Inventamos sempre projetos. Ao mesmo tempo, adoro ordem. Parece contraditório: independência e organização. Queremos tudo no lugar e estamos sempre em movimento".
Ele: "Criamos uma base firme, de amor e cumplicidade absoluta. No set, um olha para o outro e já sabe tudo".
Ela: "Não temos nada de 'família margarina'. Nem gosto dessa imagem. A gente tem excesso de vida na veia".
Ele: "Sabemos cada vez mais levar as diferenças".
Ela: "Não quer dizer que não haja brigas. Mas nunca uma crise profunda. É não deixar acumular a ponto de virar algo maior. São faxinas periódicas para não ter que fazer uma gigante".

BRASIL DE HOJE
Ele: "O país melhorou e vai melhorar mais. Existe maior consciência, transparência e capacidade de mobilização. Veja São Paulo. Não tem cidade igual, mais excitante. Tem muitos problemas, mas tudo acontece aqui".
Ela: "A gente tem sempre a impressão de que as coisas estão piorando. As pessoas dizem: 'Nossa, como estão roubando agora'. Acho o contrário. Atravessamos piores momentos. A corrupção já foi gigantesca e não era notícia. As pessoas precisam entender que agora a imprensa pode fazer o seu papel, as instituições estão trabalhando, tem gente presa. Estamos melhores".
Ele: "A crise da água é mundial. Los Angeles está na maior seca em muitos e muitos anos. Água é ouro, temos que nos acostumar com essa ideia. Isso tá no nosso filme".
Ela: "Fiz um vídeo tomando banho para chamar a atenção para uma causa. Temos que ter consciência do desperdício. São pequenos gestos, não revoluções. Cada um faz a sua parte no seu pedaço".

FAMA X CELEBRIDADE
Ele: "É interessante quando a admiração vem junto".
Ela: "De certa maneira, a fama sempre me protegeu. É um sentimento até ingênuo. Gosto da sensação de saber que, se algo me acontecer, as pessoas vão me reconhecer e me ajudar. Tenho essa coisa de que a cidade é amiga".
Ele: "Mas tem gente que só é célebre, não é admirada".
Ela: "Não sofremos com assédio. Que novidade somos nós para paparazzi? Olha o furo: eu tô saindo com ele [risos]. Que graça tem a felicidade? Não é notícia. Vivemos uma vida tão plena que deve ser pouco interessante por aí".



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