Vento forte traz preocupações aos moradores do interior do Piauí

A ventania na comunidade Sumidouro, em Queimada Nova, no Semiárido do Piauí, é tanta que as casas ao serem cobertas devem ter as telhas fixadas com cimento

Ventos | Reprodução
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As famílias que vivem na comunidade quilombola Sumidouro, no município de Queimada Nova, ficam incomodadas com a forte ventania, todos os dias, que destelha casas, impede que o fogo seja aceso e apaga velas quando janelas e portas estão abertas. Mas convivem bem com as rajadas de vento porque os ambientes ficam mais agradáveis e não é preciso usar ventilador e climatizadores.

Mas este bem invisível, que sopra com força por causa da geografia da região, um amplo vale entre serras esculturais, está atraindo preocupações. Isso, por causa da instalação de antenas de uma empresa de fora que pretende explorar o potencial de geração de energia eólico da região.
A ventania na casa da família de Dona Maria Marlene Albertina dos Santos e de José Raimundo dos Santos, no Sumidouro, é tão intensa que, para acender o fogão ou uma vela, é preciso fechar as portas e janelas. O conforto térmico é curtido pelos animais. É comum ver cachorro, por exemplo, dormindo nos terreiros sob o sol do meio-dia, já que a sensação térmica no horário é bastante agradável.

Por onde se anda, a ventania vai mexendo com a visão. Na casa de Sebastião Domiciano, as rajadas são tão fortes que as árvores sacodem sem parar. Já na residência de Fausto de Sousa Silva, também no Sumidouro, há uma brincadeira com o vento forte. Ele instalou na cerca do quintal de casa uma sucata de ventilador que movimenta a hélice com rapidez a cada ventania. Em outro aglomerado de casas que fica próximo há um poço que tem a água bombeada por catavento com a força dos ventos.
Mas pouco se sabe sobre o projeto de exploração da energia eólica no município. Comenta-se que as instalações começaram em São Miguel do Fidalgo e estão indo pelas serras, circundando as comunidades quilombolas de Queimada Nova. As famílias avistam de suas casas as imensas antenas lá no alto das montanhas e são capazes de apontar com o dedo a direção de cada uma.

“O vento aqui é muito bom, mas fico preocupada com o que está acontecendo porque tenho dois irmãos que moram vizinhos às torres. Isso aí pode até gerar empregos, mas tenho medo que gere mais preocupações que empregos. Um vizinho vendeu suas terras para essa empresa e, para irem para suas terras, eles terão de passar dentro da nossa área. Já foram oferecer dinheiro pelas terras de meus irmãos, mas eles não vendem porque não têm para onde ir”, diz Dona Maria Marlene.

José Raimundo dos Santos, esposo de Maria Marlene, disse que o vento é muito bom, mas está gerando preocupações entre os moradores. “Estamos cercados. Estão tomando tudo ao redor. Estão vindo aí por cima desta serra. Como vamos criar nossos bichinhos? Dizem que não vão tomar nada do povo, mas a gente não sabe. Toda nossa história está aqui. Meu pai morou aqui 94 anos e eu estou com 63 anos que neste local. Nasci e me criei aqui e nunca tinha visto tanta preocupação. Toda nossa família tem quase 500 anos de história nesta região. Somos descendentes de escravos”, falou José Raimundo.

O apicultor Hamilton Ferreira Coelho disse que a possibilidade de instalação de torres de geração de energia eólica nas serras do Mousinho e da Gamela está assustando os apicultores. Segundo ele, o barulho gerado pelas torres vai prejudicar a produção apícola de mais de 20 apicultores.

“Como é que as abelhas vão aguentar o barulho das turbinas de geração de energia eólica? E o pior é que não fomos procurados para dar alguma opinião. Já enviamos ofício para o Interpi, mas ainda não recebemos resposta”, falou. Hamilton falou que nas serras onde estão sendo instaladas as antenas de pesquisas são produzidas mandioca, feijão, mel e desenvolvida a criação de caprinos.

O morador Sebastião Do-miciano (foto maior), que é líder comunitário quilombola e membro da associação de moradores, explicou que o projeto de exploração de energia eólica está cercando a comunidade Sumidouro, gerando “muita” preocupação, mas, segundo ele, a empresa ficará impedida de entrar no local pelo fato das terras fazerem parte do território quilombola, que tem reconhecimento oficial. A reportagem tentou contato com a empresa, que pode ser a responsável pelo projeto em Paulistana, mas os diretores não foram encontrados.

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