Assis Brasil: a última entrevista do escritor parnaibano

Na semana passada ele concedeu essa entrevista, que seria publicada na edição do fim de semana do Jornal Meio Norte e resolvemos antecipar a publicação em razão da sua morte. Foi sua última entrevista. Um legado que nos marca com respeito e saudade.

A última entrevista de Assis Brasil | Lucrécio Arrais
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Francisco de Assis Almeida Brasil, nascido em Parnaíba em 18 de fevereiro de 1929, foi o famoso escritor parnaibano Assis Brasil, falecido no último domingo (28) em razão de uma embolia pulmonar, deixou saudade entre amigos, familiares e admiradores. No auge dos 92 anos, o autor concedeu uma última entrevista ao jornalista Lucrécio Arrais, realizada no dia 22 de novembro. A entrevista inédita e exclusiva está disponível  abaixo.

A entrevista seria publicada na edição deste final de semana do Jornal Meio Norte,  na editoria Nossa Gente, que é veiculada semanalmente no impresso. O material mostra a lucidez, inteligência, grandeza e, ao mesmo tempo, a humildade de um verdadeiro literata. Mais de cem obras lançadas, inúmeros artigos em jornais e dezenas de prêmios fazem a carreira de um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. 

Assis Brasil em entrevista exclusiva para o Jornal Meio Norte no dia 22 de novembro. Crédito: Lucrécio Arrais.

Embora não se negue como um dos principais nomes do realismo brasileiro, o escritor reforça que quem reina é a fantasia. Suas últimas obras, voltadas para o universo infantil, mostram que a criatividade de Assis Brasil é multifacetada e rica. 

Era fascinado por José de Alencar, então a escrita foi algo natural para mim. Iracema, Guarani, Senhora, Lucíola…Clássicos do escritor eram minhas leituras de menino. - escritor Assis Brasil, em 22 de novembro de 2021, aos 92 anos.

Dos romances históricos ao regionalismo, outra característica marcante do autor de “Beira Rio, Beira Vida” e “Os que Bebem como Cães”, o legado de Assis Brasil possui uma riqueza literária inexplicável. Da política aos conflitos sociais, da história tradicional que se transforma em romance, uma obra ampla e para todas as idades. 

Das memórias de Parnaíba para a vida boêmia no Rio de Janeiro, Assis conta sobre o Nordeste na intimidade de um piauiense que experimentou o estilo de vida cosmopolita desde cedo. A saudade da boemia de Copacabana é uma das lembranças do autor, que é uma referência literária em todo o mundo. 

Com a experiência de quase um centenário, Assis Brasil ensinou que é preciso ler para entender o mundo e não se enganar com políticos. Ele afirma que sua alegria é ver a produção de conhecimento ao redor da obra, que é uma das mais extensas e impressionantes da escrita brasileira. Este é Assis Brasil, um piauiense que tem o Brasil no nome e que leva a literatura do Piauí para o mundo inteiro. 

Lucrécio Arrais: Quando a escrita passou a fazer parte da sua vida? 

Assis Brasil: Eu sempre gostei de ler e sempre desejei ser escritor. 

LA: O seu primeiro livro o senhor escreveu aos 16 anos, a publicação Verdes Mares Bravios. O que o senhor lia naquela época quando escreveu o romance? 

Autor de mais de 100 obras viveu parte da vida no Rio de Janeiro, onde também foi jornalista. Crédito: Lucrécio Arrais.

AB: Era fascinado por José de Alencar, então a escrita foi algo natural para mim. Iracema, Guarani, Senhora, Lucíola…Clássicos do escritor eram minhas leituras de menino.

LA: O senhor é um grande escritor, mas também um grande cronista e crítico literário. Qual tipo de produção mais lhe fascinava? 

AB: Eu gosto de escrever tudo. Eu gostava muito da crítica literária, mas a literatura também é uma grande paixão. Não saberia escolher. Mas o que tem me fascinado é a literatura juvenil. Fiz livros para crianças, gosto muito. 

La: O que o senhor pensa de ser encaixado no realismo brasileiro? 

AB: Se faço realismo, pois muito bem. Mas remeto à fantasia. Nos meus livros infantis, principalmente. O mais perto do realismo, na minha opinião, são meus romances históricos. 

LA: Falando em romances históricos, o senhor escreveu um clássico que foi “Tiradentes - Poder Oculto o Livrou da Forca”, que fez muito sucesso. Qual a função do romance histórico em tempos como este? 

AB: Analiso com criatividade e fantasia o fato histórico. No caso do Tiradentes, muitas pessoas falaram que preferiam que minha estória fosse a história de verdade. O bom do romance histórico é recontar uma história a partir de uma perspectiva criativa. Entre meus livros, considero Tiradentes o meu melhor romance. Ficou uma história muito bem elaborada. É bom de ler. 

LA: Seus livros foram muito cobrados em vestibulares. Lembro de “Os que Bebem como Cães”, um clássico. Como você observa a literatura na escola? 

AB: A literatura na escola é essencial para o pensamento crítico. Gosto de “Os que Bebem como Cães” pelo forte potencial político. É um livro que fala sobre política até nas entrelinhas. O Brasil precisa conhecer melhor a própria política. 

LA: O brasileiro está lendo cada vez menos…O que acha disso? 

AB: Assim ninguém entende política. Nem como o mundo funciona. 

LA: O senhor é um piauiense que morou em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Quais suas melhores lembranças de Parnaíba?

AB: Eu morei em Parnaíba, nasci lá. Meu pai tinha uma fábrica de gelo, no cais. Próximo ao Porto das Barcas. A gente morava na Rua do Passeio, não sei se ainda chama assim. Eu estudei no Colégio São João, que era uma escola privada da época.

LA: O senhor sente falta do Rio de Janeiro? 

AB: Ah, eu era boêmio, né? Eu gostava mesmo era de uma cervejinha. É claro que sinto falta dessa época. Mas continuo um galã.

LA: O senhor publicou mais de 100 obras. Agora temos um hiato de mais de 10 anos sem novas publicações. Pensa em lançar algo novo?

AB: Se eu for lançar algo mais, será para as crianças. É um universo que me encanta.



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