Teresina tem foco de dengue nas quatro zonas

A reportagem do Jornal Meio Norte percorreu os bairros de Teresina e encontrou lixo acumulado e água parada

Em vários pontos da cidade é visível a sujeira e os focos do mosquito | Raíssa Morais
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Por Lucrécio Arrais

Lixo acumulado e chuva trazem um problema sério para a saúde pública: as arboviroses. A dengue, a zika e a chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, chegam a um patamar dramático no Piauí, sobretudo na capital, Teresina. A explicação para o surto das doenças é o lixo acumulado nas ruas, que com as chuvas se tornam um depósito de água parada, o verdadeiro criadouro do temido inseto.

Na Avenida Boa Esperança, região do Parque Lagoas do Norte, os insetos são visíveis. Ao final da tarde, é comum vê-los passar entre as cabeças. "A gente não sabe o que faz, é muito lixo acumulado. Nessa quadra mesmo tem muita água parada", revela Jorge Araújo, comerciante da região.

Lixo acumulado nas ruas atrai os mosquitos - Raíssa Morais

Descuido

Ainda na zona Norte, o Parque Brasil também tem muito "muturo", nome popular dado a uma região suja e descuidada. "A gente não sabe o que fazer. Tem muita gente com dengue, virose, e nem mesmo no hospital eles sabem dizer o que é. Nunca vi a cidade tão suja", explica a dona de casa Maria da Conceição.

Na zona Leste o problema é o mesmo. Próximo a chamada Praça do Prefeito, existem terrenos abandonados com muito lixo e água acumulada. 

Manoel mostra pontos de lixo acumulado em seu bairro  - Lucrécio Arrais

"Trabalho em um escritório perto dali e é uma irresponsabilidade o que estão fazendo com a cidade. É muito lixo espalhado e o pessoal só entrega atestado médico porque está doente. E essa dengue maltrata. A pessoa fica 15 dias prostrada", revela Tamires Alencar, que teve dengue recentemente.

Na zona Sudeste a situação não é diferente. No Dirceu é possível visualizar muito lixo acumulado nas principais vias da região, além do lixo existente ao longo da linha do metrô. "Quando dá de tardezinha é uma verdadeira nuvem e mosquitos", revela o universitário Manuel Júnior.

A sujeira por toda cidade é foco para a dengue-  -  Raíssa Morais

Praça da Costa e Silva vive situação dramática

Já na Praça da Costa e Silva, região centro-Sul, ao lado da Equatorial, existem verdadeiros criadouros do mosquito Aedes aegypti. O problema é bem visível e assusta as pessoas que ficam nas proximidades, como comerciantes e moradores de outras cidades que precisam ir até a região para resolver burocracias.

Dona Socorro Alencar, de 72 anos, lembra com saudade da praça quando era bonita. Afinal, com paisagismo de Burle Max, o local era a sensação na década de 70. "Era muito bonita, sim. É triste ver o ponto que chegou. Agora é só mosquito e lixo", conta.

Praça está tomada por pontos com água parada - Raíssa Morais

Água acumulada

Maria Sueli Portela é do bairro Ilhotas e conta que a situação da praça é a mesma do bairro onde mora. "Estamos abandonados. Aqui e no Ilhotas. Na verdade, eu vejo lixo espalhado em todo lugar. E a gente sabe que no inverno, quando chove, a água acumula e aparece o mosquito", conta.

Já dona Maria da Cruz, que vive em Monsenhor Gil e precisou vir até a praça para pegar o ônibus de volta para casa, Teresina precisa de atenção. "Acho que nem no meu interior a gente tem um negócio grande abandonado como essa praça aí. É uma vergonha", lamenta.

Em muitos pontos da cidade, a água parada se tornou uma ameaça - Raíssa Morais

Situação dramática em todo o Piauí

A situação é dramática em todo o Piauí, mas Teresina, que já contabiliza 3 óbitos, é o epicentro da epidemia de arboviroses por conta do contingente populacional. Oficialmente, a dengue já chegou a 127 municípios do Piauí, de acordo com informações do boletim da 13ª Semana Epidemiológica de 2022, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (Sesapi). Outro fator preocupante é que 97 cidades não atualizaram os dados sobre a doença.

Para se ter ideia da dimensão do problema, o número de cidades afetadas pela pandemia de dengue é quase três vezes maior que as 49 cidades registradas em 2021. Mesmo com as subnotificações, existe um aumento de 159% nos casos registrados em nível de Estado.

A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que é conhecido pelas patas, com pintas brancas. Em apenas uma picada, o mosquito pode transmitir dengue, zika e chikungunya sobretudo em regiões onde há surto da doença.

E os casos confirmados só crescem. Em 2022 já foram confirmados 1.780 casos da doença, contra 384 casos registrados no mesmo período do ano passado. Um aumento exponencial em 489,3%. (L.A)

Dengue cresce em 35,4% em todo o Brasil

A fêmea do mosquito da dengue é capaz de transmitir algumas doenças virais, como a dengue, zika e chikungunya. No dia 22 março de 2022, o Ministério da Saúde alertou que durante os dois primeiros meses do ano cresceu em 35,4% os casos de dengue em relação ao mesmo período do ano passado.

De acordo com Sebastião Filho, médico infectologista, o aumento desses casos acontece em razão de inúmeros fatores, que vão da variação climática com as chuvas, até o uso de utensílios que não são devidamente descartados ou fiscalizados. "Pneus, vasos de plantas, piscinas vazias que acumulam água. A larva do mosquito vai se proliferar em água parada", alerta.

Pneus estão por toda parte pela cidade - Raíssa Morais

Sintomas

As chamadas arboviroses possuem sintomas parecidos. "Dengue, zika vírus e chikungunya são três doenças causadas por vírus diferentes. As manifestações clínicas são muito semelhantes. O diagnóstico final precisa de um exame laboratorial", aponta o profissional da saúde. A dengue é caracterizada por muita dor no corpo.

 "As pessoas relatam que é como se um trator tivesse passado por cima. A dor atrás dos olhos é bem típica dessa doença, embora isso não defina, exclusivamente, a doença", explica. O zika vírus também causa febre. "Além de mal estar e, classicamente, tem como característica a conjuntivite, embora isso também não defina a doença", acrescenta.

Já a chikungunya, que também tem febre e dor no corpo, é caracterizada por dor nas articulações. "Isso é muito característico. Além disso, a chamada artralgia pode perdurar por até seis meses ou até anos, de acordo com relatos de pacientes", considera o médico.

Casos aumentam com focos ativos pela cidade - Raíssa Morais

Chikungunya também preocupa na cidade

De acordo com Amélia Costa, coordenadora de Epidemiologia da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), a situação em todo o Piauí é de alerta. A doença cresceu 3.009,5% no Piauí em relação ao mesmo período do ano passado.

A chikungunya também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A doença é conhecida pela dor intensa nas articulações, além de febres intensas e dores de cabeça.  "São muitos doentes com sintomas de Chikungunya, com dores nas articulações e até pessoas com dificuldade para andar. Eles chegam em uma situação muito preocupante", revela.

As arboviroses chegam a um patamar grave. Além de Teresina, as cidades com maior incidência são: São Pedro do Piauí, Oeiras, São Julião, Curralinhos e Alagoinhas do Piauí. 

Não existe tratamento direcionado

O médico infectologista Sebastião Filho explica que não existe tratamento direcionado para as arboviroses. "Infelizmente, não há medicamentos específicos para essas doenças. Então é preciso muito repouso, hidratação e remédios para dor, como dipirona e paracetamol. O uso de antiinflamatório é contraindicado pelo risco e complicações", alerta.

Médico chama a atenção para casos mais graves- Divulgação

Gravidade

No entanto, é preciso de uma atenção especial para evitar casos mais graves. "As maiores complicações são a desidratação. E, dependendo da gravidade, podem haver casos de sangramento. Se essa hemorragia não for interrompida, a pessoa pode morrer em razão das complicações da doença", afirma.O acompanhamento médico é essencial. 

"Caso o paciente apresente sintomas como febre, mal estar e dor nas articulações, ele deve procurar o médico o mais rápido possível. A terapia é feita com hidratação, repouso absoluto e o uso de dipirona e paracetamol. Dor abdominal, diminuição do xixi, sangramento na gengiva e tosse com sangue podem ser sinais de agravamento", considera.

A situação de gravidade da doença atinge todo o país, mas os cuidados são os mesmos, independente da região. "Devemos combater o vetor, que é a fêmea do Aedes aegypti. É preciso eliminar água parada e reservatórios que podem conter água parada. É preciso limpar as piscinas e evitar a proliferação das larvas. Os terrenos baldios precisam de atenção especial e o lixo sempre precisa ser recolhido", finaliza Sebastião Filho.



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