Polícia indicia assassino de guarda municipal e não vê crime político

A Polícia Civil levou apenas cinco dias para concluir o inquérito, que contou com 17 depoimentos e a análise das imagens

Polícia indicia atirador que matou petista por homicídio com motivo torpe | Ascom
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A Polícia Civil do Paraná indiciou hoje o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas. O guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros no último sábado (9) enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática em Foz do Iguaçu. As informações são do UOL.

Embora a investigação tenha concluído que o atirador foi ao local para "provocar" os participantes da festa, já que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Polícia Civil entende não haver provas suficientes para constatar que houve crime de ódio com motivação política.

A Polícia Civil levou apenas cinco dias para concluir o inquérito, que contou com 17 depoimentos e a análise das imagens captadas pelas câmeras de segurança no local do crime, que registraram o assassinato.

"Não há provas de que ele voltou para cometer crime político. É difícil falar que ele matou pelo fato de a vítima ser petista. Ele voltou porque se mostrou ofendido pelo acirramento da discussão", disse a delegada.

Os representantes legais da família de Arruda criticam o que entendem ter sido uma "conclusão apressada" do inquérito, sem que ao menos fosse analisado o conteúdo do celular do atirador. No entendimento dos advogados que representam os interesses da família do petista morto, é necessário investigar se há a eventual participação de terceiros no crime.

Polícia indicia atirador que matou petista por homicídio com motivo torpe - Arte UOL

Como foi o crime

Sócio do local onde ocorreu a festa, Guaranho foi lá de carro para fazer uma ronda com a esposa e a filha de 3 meses no banco de trás. 

Arruda saiu da festa com convidados e jogou terra na direção do veículo, como mostram as imagens das câmeras de segurança. Guaranho então mostrou a arma e saiu, dizendo que voltaria.

Ao retornar, desceu do veículo e atirou em direção ao interior da festa. Imagens internas mostram quando ele atirou em Arruda, atingido no peito. O guarda municipal revidou, acertando o atirador nas pernas e no rosto. Após cair, o assassino levou chutes na cabeça dados pelos convidados. Ele está internado em estado grave na UTI de um hospital de Foz do Iguaçu.

Crime de ódio x legítima defesa: versões do caso

Os defensores da família do petista dizem que houve crime de ódio por motivação política, já que o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho deu início à confusão com gritos em referência ao presidente Jair Bolsonaro e xingamentos ao PT. Contudo, os advogados do assassino alegam legítima defesa ao citar que Arruda estava com arma em punho quando o atirador voltou ao local.

O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família do petista morto, entende que houve uma escalada de violência, iniciada quando o policial penal foi de carro ao local com música em alusão ao presidente.

"Ele [Guaranho] deixou a esposa em casa e voltou para praticar o assassinato. Foi um crime de ódio por motivação política, tipificado como homicídio qualificado por motivo fútil", avalia.

Polícia indicia atirador que matou guarda por homicídio com motivo torpe - Imagem: Reprodução

A esposa do policial penal confirmou essa versão. "[Os convidados da festa] ouviram essa música e acharam ruim. Meu esposo fez a volta e falou: 'Bolsonaro mito'. A pessoa que estava lá dentro pegou terra e pedras e tacou no nosso carro", disse, em entrevista a uma filiada da TV Globo no Paraná.

Legítima defesa; advogado contesta

Para justificar a tese de legítima defesa, os advogados do policial penal citam as imagens captadas pelas câmeras de vigilância usadas pela Polícia Civil do Paraná como evidências do crime. 

"Ele sai de dentro do carro desarmado. Mas já havia uma arma apontada para ele. Só nesse momento, ele saca a arma. Se tivesse intenção de matar, já teria descido atirando", alega o advogado Cleverson Leandro Ortega.

Godoy, um dos representantes da família da vítima, contesta. "Ele já sai do carro com a pistola na mão. A esposa do Arruda [uma policial civil] mostrou o distintivo para tentar impedi-lo. Mesmo assim, ele atirou quando ainda estava do lado externo".

Atirador 'queria conversar', diz defesa

A advogada Poliana Lemes Cardoso, uma das defensoras do atirador, disse que Guaranho só voltou ao local para conversar. Segundo ela, a versão se baseia no relato da esposa do policial penal, internado em estado grave na UTI do Hospital Ministro Costa Cavalcante. Após abrir fogo contra Arruda, ele foi baleado nas duas pernas e no rosto. No chão, levou chutes na cabeça dados por convidados da festa.

"No local, o aniversariante jogou terra no carro dele. [Ao deixar a esposa em casa] ele falou: 'eu vou lá para conversar com esse cara'. Ele estava revoltado com a situação, e voltou por ter se sentido ofendido".

Segundo ela, Guaranho era sócio do clube onde Arruda comemorava o aniversário e costumava fazer rondas no entorno, próximo a uma favela e onde há relatos de roubos, segundo a defensora. "É o local onde ele ia duas vezes por semana para jogar bola, e onde confraternizava com amigos. Era como se fosse a extensão da casa dele", relata a advogada.

Embora as imagens mostrem que o policial penal se aproximou de Arruda para atirar já dentro do local da festa, ela sustenta a tese de que havia um confronto e que Guaranho tentava se defender. "Ambos atiravam um no outro".

'Tiro quase à queima-roupa'

O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família do morto, rebate a versão de que Guaranho não tinha intenção de matar.

Legítima defesa se caracteriza como a ação que repele a injusta agressão. Não foi o que aconteceu. Quem chega com a arma em punho e atira é o Guaranho. Ele disse que iria voltar e voltou. É a prova do dolo, da intenção de matar".

"Ele atirou duas vezes para dentro do salão [onde estava a vítima]. Então, entrou no local e desferiu mais um tiro quase à queima-roupa. Não foi legítima defesa. Só depois de atingido e caído no chão é que Marcelo atira", argumenta.

No atestado de óbito, ao qual o UOL teve acesso, consta que Arruda morreu em decorrência de "lesões intra-abdominais por projétil de arma de fogo", em razão do disparo dado no momento em que Guaranho se aproxima da vítima no chão, como mostram as câmeras que registraram o crime.



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