Como lidar com crianças que estão com medo de ir para escolas após ataques?

A sensação de insegurança no ambiente escolar tem aumentado cada vez mais devido acontecimentos de violência dentro de instituições de ensino

O coordenador do Programa de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP respondeu como lidar com essa fase | Reprodução: Internet
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Os trágicos acontecimentos de violência dentro de escolas no mês de março e em uma creche, no começo de abril, acendeu o alerta de perigo de pais, mães e docentes em todo país. A sensação de insegurança no ambiente escolar é alimentada por publicações que têm circulado nas redes sociais anunciando novos ataques às instituições de ensino. Embora os indícios apontem que esses conteúdos são falsos, eles têm contribuído para gerar pânico.

O medo após os ataques recentes é natural, mas é preciso ficar atento às repercussões que a situação pode causar a longo prazo na saúde mental de crianças e adultos, alerta o psiquiatra Fernando Asbahr, coordenador do Programa de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP. O profissional afirma que os recentes episódios de violência nas escolas e a propagação de boatos sobre falsos ataques podem ter desdobramentos sérios para pessoas que já têm alguma propensão a desenvolver transtornos de ansiedade.

Ainda não podemos falar sobre quadros de estresse pós-traumático porque é muito recente, mas você imagina que, da mesma forma que um veterano de guerra que passou por situações absurdas de risco de vida e depois disso ouve um barulho e já acha que é uma bomba, daqui a um mês pode ser que algumas crianças tenham medo até de passar perto da esquina da escola”, diz Fernando Asbahr, coordenador do Programa de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP.

Para evitar esse cenário, diz ele, é importante não estimular o pânico e manter uma boa comunicação com as crianças. Em conversa com o UOL, o psiquiatra deu dicas para aumentar a sensação de segurança neste período e falou sobre como lidar com o medo. Em primeiro instante, o profissional afirma que é normal sentir medo. “É absolutamente normal. Você fica até na dúvida "mas e se isso for verdade?". Estamos falando de algo muito sério. E é justamente essa dúvida que os boatos deixam no ar que é cruel. Isso é muito perverso”, começa ele.

"O problema é que, daqui a algumas semanas ou meses, esse medo pode ter desdobramentos sérios para pessoas que já têm alguma propensão de serem naturalmente mais preocupadas, nervosas ou ansiosas. Pais também podem se negar a levar seus filhos para a escola. Isso seria um exemplo de repercussão exagerada desencadeada por dois fatores: o fato concreto, que são os episódios de violência com morte dentro das escolas que aconteceram recentemente, e os boatos, que geraram ansiedade em excesso”, pontua.

O psiquiatra aconselha não compartilhar informações sem procedência. “A informação se espalha de uma maneira muito rápida e absurda, então, quando você compartilha esses boatos, isso implica em uma preocupação exagerada em todo mundo. Eu acho que quanto menos a gente divulgar esses boatos, melhor. A outra coisa é buscar a veracidade dessas informações. Não dá para tomar como verdade e pensar "vamos espalhar isso aí porque todo mundo tem que estar preparado". Você espalhar isso é tudo o que a pessoa que iniciou o boato quer, então não espalhe nem entre em pânico. Ao mesmo tempo, é importante ficar de olho e denunciar [essas ameaças]”, afirma.

Questionado sobre como os pais podem ajudar uma criança ou adolescente que está com sintomas de ansiedade e medo de frequentar o ambiente escolar, o psiquiatra aconselha: “Tem uma máxima do tratamento de ansiedade que diz que a melhor forma de perder os medos é gradualmente ir enfrentando essas fobias, seja de agulha, sangue, elevador ou ir para escola. Então, você vai, aos poucos, se aproximando da situação ou do objeto que te causa medo. No caso da escola, a mãe pode ficar um pouquinho esperando fora do local, mas a criança está ali, e ela vai se habituando novamente. Tratar medo e ansiedade evitando a situação só alimenta esses sentimentos”, afirma.

E continua: “Mas é muito difícil pensar no que fazer agora, imediatamente. Tem que ter muito cuidado ao falar "tem que enfrentar". Depende muito da idade, acho que não tem que forçar a barra nesse sentido. Mas, se daqui a duas semanas, por exemplo, depois que passar toda essa boataria, a criança tiver a mesma atitude, aí já tem alguma coisa que é exagerada e é essa criança que vai precisar ser estimulada a ir voltando aos pouquinhos, às vezes com auxílio de tratamento especializado. Eu ficaria atento para o exagero desses medos que são normais agora, se eles continuarem nessa intensidade quando você já não tiver mais uma situação potencialmente perigosa. Neste momento, agir com parcimônia e ponderação é a melhor coisa”, finaliza.



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