Crianças com asma não têm risco maior de desenvolver Covid-19, diz estudo

Proteção dessa faixa etária estaria associada ao bom controle da doença, uso de corticoides nas crises e menor expressão de uma enzima responsável pela inflamação

Asma na infância | reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Logo no surgimento dos primeiros casos de infecção pelo coronavírus (SARS-CoV-2), no início de 2020, uma das principais preocupações dos pediatras era saber como ele se comportaria com as crianças asmáticas. A preocupação se justificava: a asma é a doença pulmonar crônica mais comum na faixa etária pediátrica e as crianças, em geral, são bastante afetadas pelos impactos das doenças respiratórias. Com informações da revista Einstein.

Como o coronavírus ataca justamente os pulmões, a comunidade científica decidiu pesquisar se essas crianças apresentavam maior risco ou não para a infecção por covid-19, em comparação com as crianças sem a doença. 

A boa notícia é que não. Um amplo estudo publicado no periódico científico Pediatrics fez uma revisão retrospectiva dos dados de saúde de 46.900 crianças, entre 5 e 17 anos, nos Estados Unidos, e concluiu que a proporção de crianças com asma que desenvolve a covid-19 era semelhante à proporção das crianças sem asma. Os dados são referentes ao período de 1 de março de 2020 a 30 de setembro de 2021 e se referem ao período em que a variante Delta era predominante – a Ômicron foi identificada após esse período.

Criança com asma (Foto: reprodução)

Segundo os pesquisadores, do total de registros analisados, 12.648 crianças foram testadas pelo menos uma vez para o SARS-CoV-2 e 706 (5,6%) testaram positivo para a doença, sendo 350 (2,8%) com asma e 356 (2,8%) sem asma. Apenas uma criança com asma precisou de hospitalização para tratar a doença.

“O resultado desse trabalho é muito importante e bastante robusto. O que vimos durante a pandemia foi que o acometimento das crianças pela covid-19, embora fosse importante, teve uma incidência muito baixa em comparação com adultos e idosos. Há outros trabalhos que mostram que os asmáticos adultos tiveram mais complicações pela infecção e maior índice de mortalidade. Como em crianças a quantidade de casos era menor, os pesquisadores demoraram mais para ter um número suficiente para chegarem a essa conclusão”, afirmou o pediatra Celso Terra, que também é médico intensivista do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Israelita Albert Einstein.

Entre as hipóteses apontadas pelos pesquisadores para essa “proteção” das crianças asmáticas estão o uso dos corticoides inalatórios – que reduziriam a inflamação que a doença provoca nos pulmões e também diminuiriam a replicação viral. “Quando estão em uma crise aguda, os asmáticos usam corticoide, que é um poderoso anti-inflamatório. Na alta incidência dos casos de covid no Brasil e no mundo, um dos tratamentos para os pacientes foi o uso de corticoides”, lembrou Terra.

A segunda hipótese apontada pelos pesquisadores é que as crianças com asma teriam menor expressão da enzima ACE-2, que está associada ao início do processo inflamatório dentro do organismo pelo SARS-CoV-2. “Ao que parece, a expressão dessa enzima nos asmáticos é menor do que entre os sem asma. Na teoria, o vírus teria menos condições de atacar esse organismo”, explicou o pediatra.

Para Terra, os resultados desse estudo reforçam que as medidas universais de prevenção foram e continuam sendo fundamentais para o controle da pandemia: uso de máscaras, higienização das mãos e a vacinação. E que o controle adequado das doenças crônicas também é essencial para evitar complicações.

“Esse trabalho nos mostrou que a covid-19 não atinge as crianças com quadros pulmonares da forma como imaginávamos no começo da pandemia. Mas mostrou que quanto mais bem cuidada e mais bem controlada estiver a asma dessas crianças, mais protegidas elas ficam. E que essa proteção não acontece apenas pelo uso de medicamentos. Inclui as medidas básicas de higiene – lavar as mãos com frequência e o uso de máscara – e também a vacinação [nos Estados Unidos a vacinação pediátrica começou antes que o Brasil]. O prognóstico é sempre melhor quando há acompanhamento médico e a doença está controlada”, finalizou Terra.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES