Infectologista fala sobre 'tratamento precoce' contra Covid-19

Alexandre Naime, médico de Botucatu (SP), ajudou a criar boletim divulgado pela AMB que condena o uso de remédios sem eficácia contra Covid-19. Segundo ele, alguns pacientes tiveram piora no quadro e precisaram ser hospitalizados depois de tomarem os medicamentos.

AMB divulga boletim que condena uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19 | Divulgação
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"O que eu mais queria era uma medicação que funcionasse, o que a gente não pode é transformar o kit Covid em um kit ilusão, que não tem benefício. Não é que a gente é contra o tratamento precoce, muito pelo contrário, mas isso precisa ser feito com drogas que realmente funcionem."

O posicionamento é do infectologista Alexandre Naime, de Botucatu (SP). O médico é membro do Núcleo Executivo do Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB) e ajudou a criar o boletim divulgado nesta terça-feira (23) pela associação, que condena o uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19.

No documento, a AMB afirma que medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da doença e, por isso, devem ser banidas. 

De acordo com o médico Alexandre, esses remédios não mostraram benefício ao passarem pelo ensaio clínico randomizado duplo-cego, que é um estudo científico utilizado como critério de validação de práticas experimentais.

Durante esse tipo de estudo, um grupo de pessoas toma o medicamento e uma outra parte toma o placebo, todas sem saberem o que estão tomando. Dessa forma, os pesquisadores analisam quantas pessoas apresentaram melhoras ao tomar o remédio.

Além dos medicamentos não terem eficácia comprovada, segundo o infectologista, alguns pacientes com Covid-19 tiveram piora no quadro e precisaram ser hospitalizados depois de tomarem os remédios.

“Nós tivemos em São Paulo essa semana já cinco pacientes que evoluíram com hepatite grave, e três deles foram a óbito. E aqui em Botucatu, tivemos três casos de grave piora do quadro clínico da Covid pelo uso inadequado do corticoide na fase inicial”, explica o médico.

De acordo com o documento da AMB, "o uso de corticoides e anticoagulantes devem ser reservados exclusivamente para pacientes hospitalizados e que precisem de oxigênio suplementar, não devendo ser prescritos na Covid leve, conforme diversas diretrizes científicas".

'Tomei e melhorei'

Sobre o relato de pessoas que utilizaram o kit Covid e apresentaram melhora, o infectologista destacou que a recuperação ocorre espontaneamente na maioria dos pacientes com coronavírus e não tem relação com o uso dos medicamentos do "tratamento precoce".

“Na verdade, tudo vem do fato que, em 90% das pessoas, a Covid é como se fosse um resfriado ou uma gripe. A grande maioria das pessoas vai ter sintomas leves e vai se recuperar espontaneamente. Então, se você tomar ivermectina, hidroxicloroquina, suco de beterraba ou refrigerante, você vai melhorar em 90% das vezes", comenta Naime.

Segundo o infectologista, atualmente, as pessoas podem tomar medicamentos apenas para tratar os sintomas da Covid-19, e não o vírus em si. Ele também informou que os pacientes com a doença devem monitorar diariamente os sintomas, principalmente a saturação (que deve estar acima de 94%).

"Se tivesse uma medicação que realmente mostrasse benefício, seria perfeito, seria meu sonho. Minha vida não teria virado de ponta cabeça. Qual seria o médico maluco que iria falar 'não, eu não vou tratar uma doença que tem tratamento'?", questiona o infectologista.

“A ideia é que se tenha um novo momento no tratamento da Covid, um momento em que a ciência tenha lugar. Nós temos que trabalhar junto a prefeitos, vereadores, todas as instâncias, em relação a oferecer para o paciente aquilo que realmente funciona, não fazer uma cortina de fumaça, não fornecer um kit de ilusão, que vão estar sendo utilizadas medicações que não funcionam e que podem dar uma falsa sensação de segurança e podem ter gravíssimos efeitos colaterais.”



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