Paciente com Down fotografado em abraço com enfermeiro morre no AM

Emerson deu entrada no dia 20 no hospital de campanha do município de Caapiranga com sintomas da covid-19. De pronto, ele ficou internado recebendo assistência.

Emerson Júnior recebeu oxigênio do enfermeiro Raimundo Matos | Imagem: Mirene Borges Da Silva
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Após nove dias de internação, morreu hoje por complicações da covid-19, em Manacapuru (a 100 km de Manaus), o paciente Emerson Júnior, 30. Portador de Síndrome de Down, ele protagonizou uma foto emocionante no último domingo (24) ao receber um abraço do enfermeiro Raimundo Nogueira Matos e, assim, permitir que recebesse oxigênio. 

Assim que Emerson foi internado, o hospital pediu um leito de UTI à central de regulação do estado —a vaga, contudo, só foi disponibilizada ao menos cinco dias depois. O paciente havia apresentado melhora e a expectativa era de que fosse transferido hoje para uma UTI em Manaus, mas faleceu nesta manhã.

"Fiquei muito triste, chorei muito", contou, emocionado, o enfermeiro ao UOL. 

Emerson deu entrada no dia 20 no hospital de campanha do município de Caapiranga com sintomas da covid-19. De pronto, ele ficou internado recebendo assistência.

O local entretanto não tem leito de terapia intensiva, foi solicitada transferência para Manaus, mas inicialmente não houve retorno porque há fila de espera por leitos no estado. 

A reportagem acompanhava desde domingo a saga da família de Emerson em busca de um leito de UTI em Manaus. Na segunda-feira (25), quando ele piorou, uma campanha chegou a ser lançada nas redes sociais, pedindo intervenção do governador Wilson Lima (PSC).

Emerson Júnior recebeu oxigênio do enfermeiro Raimundo Matos - Imagem: Mirene Borges Da Silva 

Na madrugada da terça (26), a situação ficou ainda pior, e ele teve uma parada cardíaca, tendo sido levado às pressas para Manacapuru, cidade-polo da região. 

"Ele teve parada cardíaca e nós o entubamos aqui e o levamos às pressas a Manacapuru. Fomos ambuzando [fazendo ventilação manual] até lá, foram duas horas e meia de processo na viagem.", disse Raimundo Matos, enfermeiro.

Lá, Emerson foi entubado e estava internado. A cidade, porém, também não tem UTI. 

"Em Manacapuru, onde ele estava, pelo agravamento, era necessário aguardar estabilizar para transferir. Já tinha um leito certo de UTI, em Manaus, para transferência. E hoje, à 1h da manhã, ele estava com uma boa situação. Agora pela manhã estava saturando 98%, mas agora informaram que ele faleceu", afirmou o enfermeiro.

Na manhã de hoje, a irmã de Emerson, Eliane chegou a mandar um áudio à reportagem confirmando que Emerson tinha apresentado melhora no quadro de saúde e, por conta da saturação mais alta, estava apenas esperando a ambulância para a transferência. Porém, poucos minutos depois, ela mesma informou da morte. 

"Ele é a joia, a luz da minha vida e da nossa família. Queremos devolver ele com vida para minha mãe", disse Eliane, um dia antes do óbito.

Falta de UTI amplia risco de morte, diz infectologista 

Segundo informou a Secretaria de Saúde do Amazonas na segunda-feira, a transferência para Manaus naquele dia não foi efetivada porque seria necessário estabilizar o paciente para fazer o deslocamento. 

"Como o quadro clínico do paciente é grave, ainda não há condições clínicas que garantam a remoção do paciente para Manaus com segurança", informou. Naquele dia, informou a família, ele apresentava uma saturação muito baixa, que chegou a 42% (quando o normal é 98%).

Para a infectologista e professora de Doenças Tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães, a não transferência de um paciente grave para UTI é um fator que aumenta significativamente a chance de piora e morte. 

"É óbvio que a falta de UTI contribui muito para o desfecho do óbito. Algumas condutas em relação à covid-19 precisam ser realizadas precocemente. Eu não sei detalhes do caso, quais as alterações que ele teve, mas se ele necessitou de oxigênio, precisaria de dexametasona [corticóide usado na fase grave da covid], certamente precisou de intubação. Tudo isso retardado leva a um desfecho desfavorável, sem dúvida alguma.", disse  Vera Magalhães, infectologista e professora da UFPE.

Ela ainda explica que a síndrome traz, muitas vezes, fragilidades orgânicas que podem tornar o estado de saúde do paciente mais grave. 

"Down não é uma morbidade, porque não é uma doença. Mas o paciente tem, sim, uma maior vulnerabilidade em relação a covid-19. Eles, geralmente, têm alterações cardíacas e outras que fazem com que haja um um desfecho mais grave e desfavorável em relação a todas as infecções, inclusive à covid-19", diz.

Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde ainda não se manifestou sobre a demora por um leito de UTI. Assim que o fizer, o posicionamento será incluído nesta reportagem.



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