Cactos ameaçados do Atacama são alvo de contrabando milionário

A apreensão, a maior da chamada “Operação Atacama”, escancarou o tráfico internacional de cactos raros, uma realidade que pode comprometer a biodiversidade do deserto chileno

Cactos | PIXABAY
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Há pouco mais de um ano, em fevereiro de 2020, a polícia italiana invadiu a casa de Andrea Piombetti, em Senigalia, uma pequena cidade de 41 mil habitantes no litoral nordeste do país. No local, encontraram mais de mil exemplares de cactos em uma estufa improvisada, sendo que 955 deles eram de espécies raras vindas do Chile.

A apreensão, a maior da chamada "Operação Atacama", escancarou o tráfico internacional de cactos raros, uma realidade que pode comprometer a biodiversidade do deserto chileno, onde muitas dessas espécies estão ameçadas por conta da biopirataria e da falta de regulamentação para coletas na natureza.

O próprio Piombetti, um colecionador e vendedor de plantas exóticas, já era conhecido dos policiais. Em 2013, uma carga de mais de 600 cactos chilenos endereçada a ele foi apreendida, mas a demora da Justiça italiana fez com que o caso prescrevesse antes que ele fosse formalmente processado.

Espécies raras de cactos que são alvo de crimes ambientais. (Foto: PIXABAY)

 "Esse é o problema com a maioria dos crimes ambientais na Itália, depois de quatro ou cinco anos eles não podem ser punidos", disse o tenente-coronel Simone Cecchini, que chefia a divisão ambiental da polícia italiana, em entrevista ao New York Times. "Desta vez, o promotor disse que será mais rápido, porque quer evitar que o que aconteceu em 2013 se repita".

O valor da carga apreendida no começo do ano passado surpreende. No mercado paralelo, as plantas podem ser vendidas por até 1,2 milhão de dólares (cerca de R$ 6 milhões). O impacto desse tipo de crime na biodiversidade mundial é inegável. Além de serem raras naturalmente por serem encontradas em um ambiente árido, essas espécies levam décadas e, em alguns casos, séculos, para se desenvolver.

Risco de extinção

Um artigo científico publicado na revista Nature calcula que das 1.500 espécies de cactos existentes em todo o planeta, quase 30% estão sob risco de extinção por causa, principalmente do tráfico e comércio ilegal de plantas. Algo que passa mais despercebido por não tratar de animais, que desperam naturalmente mais atenção.

Para o biólogo Pablo Guerrero, professor do curso de Biodiversidade da Universidade de Concepción e um dos principais especialistas em cactos do Chile, o problema é cada vez mais sério e pode levar à extinção de diversas espécies.

"Naturalmente, as cactáceas são muito suscetíveis ao dano que pode ser provocado pelo ser humano, têm distribuições muito limitadas na natureza ou são pouco abundantes. Além disso, as espécies mais ameaçadas são as mais apreciadas pelos colecionadores ilegais que procuram ter plantas mais exclusivas", explica ele.



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