Evangélico e nudista: brasileiro é alvo de fake news desde 1999

O arquiteto conta ainda que existem, de fato, “igrejas do nudismo” nos Estados Unidos, mas que ele nunca chegou a visitar uma.

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O arquiteto Estêvão Prestes , 48, faz parte de um grupo pouco conhecido no Brasil: o de evangélicos que também são adeptos ao naturismo . Apesar de diferente, não haveria motivos para estardalhaços com o estilo de vida de Prestes, se não fosse uma entrevista que ele deu em 1999 para a revista Ecklesia , publicação voltada ao público evangélico, que o fez ser alvo de fake news até os dias de hoje, 20 anos depois. As informações são do IG.

"Foi uma matéria boa, embora tenha pecado pela falta de isenção, mas dentro de uma margem previsível. As fake news surgiram anos mais tarde. Um outro site copiou partes da reportagem, juntou com partes de matérias sobre cristãos naturistas dos Estados Unidos, inventou o restante e montou sua própria matéria com tons de escândalo e sensacionalismo", conta Prestes em entrevista ao iG .

Em uma rápida pesquisa em sites de busca é possível ver que, em 2014, um site especializado em notícias gospel publicou uma matéria falando sobre um possível crescimento de naturistas cristãos e que os mesmos se organizavam em comunidade. O nome de Estêvão é citado, mas ele diz que nunca foi entrevistado pelo site. Além disso, apesar de citar aumento do número de evangélicos adeptos ao naturismo, as matérias não apresentam estatísticas, já que nunca foi feito estudo sobre o tema.

A onda de fake news com o nome do arquiteto voltou à tona este ano. Diversos sites republicaram a mesma "entrevista" com ele e apresentaram as mesmas informações falsas.

"Estamos vivendo tempos de retrocesso em que o discurso moralista ganha força. Então matérias sensacionalistas pretensamente 'escandalosas' são úteis a quem se alimenta do moralismo", aponta.

Atualmente, Prestes não frequenta nenhuma denominação evangélica, mas ainda se considera seguidor da religião. "Faço parte da segunda maior categoria de evangélicos no Brasil atualmente, a dos chamados 'desigrejados'. Pessoas que buscam viver o ensinamento do Evangelho (cristão) sem se submeter ao sistema de dogmas de qualquer organização pretensamente 'sagrada'", salienta o arquiteto.

Arquivo Pessoal

Mesmo com citações de seu nome em diversas publicações falsas, Estêvão ressalta que nunca pensou em entrar na Justiça contra os sites. "Não pensei porque não me senti prejudicado por essas notícias, mesmo sendo falsas".

Comparação com demônios

A relação de Estevão, evangélico "de berço", segundo ele mesmo, com o naturismo começou em 1999, aos 28 anos. Àquela altura, o arquiteto frequentava a Igreja do Evangelho Quadrangular. Ao contrário do que os sites publicaram, no entanto, ele não foi expulso por "orar nu" dentro da congregação e conta que a recepção entre os membros foi natural, mas a liderança chegou a compará-lo com demônios .

"As pessoas da igreja reagiram com a maior naturalidade, inclusive com curiosidade. Mas para a liderança aquilo foi visto como um problema, fui acusado de uma série de absurdos, fui comparado aos demônios e me foi dito com todas as letras que a igreja não tinha nada para mim e nem eu pra ela", lembra.

E Estêvão não é o único praticante do naturismo e que segue a fé evangélica no Brasil. Segundo ele, em 2000, juntamente com outras pessoas, foi formada uma entidade chamada 'Naturistas Cristãos'. "Na época chegou a ser reconhecida pela Federação Brasileira de Naturismo", revela.

"Depois da reportagem, muita gente veio me procurar, vários naturistas que também eram evangélicos e que gostariam de manter contato uns com os outros. Criei, então, um grupo virtual para esse fim (naquela época não existiam redes sociais) e logo comecei a ser procurado por naturistas de outras religiões também, sempre recebemos a todos. Criamos também um site onde tratávamos deste tema, onde os internautas pudessem sanar suas dúvidas e ter suas perguntas respondidas", acrescenta, e conta a razão do grupo ter acabado.

"Essa iniciativa tinha uma objetivo claro, que era o de desfazer essa ilusão de que naturismo e espiritualidade cristã são incompatíveis. Isso foi alcançado. Aos poucos, a procura foi diminuindo e hoje ninguém mais estranha encontrar cristãos em ambientes naturistas. Sentindo que a missão havia sido cumprida encerramos as atividades", completa Prestes.

O arquiteto conta ainda que existem, de fato, "igrejas do nudismo" nos Estados Unidos, mas que ele nunca chegou a visitar uma. Ressalta, por fim, que as imagens apresentadas de supostas igrejas nudistas no Brasil são de cultos de cidades norte-americanas. "Nunca existiu nenhuma por aqui".



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