Fenômeno: trilhões de cigarras vão emergir após 17 anos sob a terra

“Será um evento maravilhoso, único, muito especial” diz o entomologista Michael Raupp, professor emérito da Universidade de Maryland e membro da Sociedade de Entomologia da América (ESA, na sigla em inglês).

Cigarras | Reprodução
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Os Estados Unidos se preparam para presenciar neste ano um fenômeno biológico que não ocorre em nenhuma outra parte do mundo. A partir de maio, na primavera do hemisfério Norte, trilhões de cigarras que passaram 17 anos vivendo debaixo da terra começarão a emergir do solo, invadindo cidades e zonas rurais em 15 Estados.

"Será um evento maravilhoso, único, muito especial", diz o entomologista Michael Raupp, professor emérito da Universidade de Maryland e membro da Sociedade de Entomologia da América (ESA, na sigla em inglês).

Cigarra (Imagem: Getty Images)

Os insetos que irão emergir neste ano fazem parte da chamada Brood X de cigarras periódicas do gênero Magicicada.

"Definimos como 'brood' a emergência sincronizada massiva e geograficamente distinta de cigarras que aparecem a cada 13 ou 17 anos", explica Raupp.

As cigarras periódicas são diferentes das outras cigarras encontradas ao redor do mundo, as quais aparecem anualmente. Elas levam mais tempo para se desenvolver (de 13 a 17 anos) e emergem simultaneamente, e não individualmente ou em pequenos grupos. Costumam ter olhos vermelhos e coloração diferente.

"Neste ano, três espécies irão aparecer simultaneamente: Magicicada septendecim, Magicicada cassini e Magicicada septendecula", afirma Raupp.

"Elas não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo, somente na América do Norte."

Existem nos EUA 15 dessas ninhadas de cigarras periódicas: 12 com ciclo de vida 17 anos e outras três com ciclo de 13 anos, o que faz com que, quase todos os anos, em alguma parte do país, um desses grupos esteja emergindo.

Mas Raupp e outros cientistas dizem que o fenômeno deste ano será diferente. Não apenas esta é a maior dessas ninhadas, mas sua distribuição geográfica também é muito ampla, estendendo-se por boa parte da metade leste do país, desde Estados do Sul, como a Geórgia, até Nova York e Nova Jersey e também Estados do Meio-Oeste.

O entomologista calcula que cerca de 100 milhões de pessoas vivem nas áreas a serem afetadas neste ano nos Estados Unidos. Em alguns locais, espera-se densidade de até 1,5 milhão de cigarras por acre (0,4 hectare).

"Serão provavelmente trilhões de cigarras emergindo", estima Raupp. "Elas estarão em áreas densamente povoadas, grandes cidades, zonas rurais, subúrbios, áreas metropolitanas."

Cigarras (Foto: Getty Images)

Festas e casamentos

Segundo Raupp, as primeiras cigarras devem começar a aparecer no fim de abril, mas "o grande evento" vai ocorrer entre a metade e o fim de maio.

"Para as mães de noivas que estão planejando um grande casamento ao ar livre (em maio), vai ser um pouco problemático", brinca Raupp. "Meu conselho é que façam a festa em abril ou adiem até o fim de junho."

As cigarras periódicas que irão emergir nos próximos meses passaram 17 anos debaixo da terra, onde chegaram ainda como ninfas, alimentando-se da seiva de raízes de árvores.

"Não surpreende que esses adolescentes, quando levantam e saem do solo, vão querer fazer uma grande festa, cantar, cortejar parceiros", diz Raupp.

Após emergirem, transformadas em adultas, passam a procurar um parceiro. O barulho da cantoria, feita pelos machos para atrair as fêmeas, poderá ser ensurdecedor, podendo ultrapassar cem decibéis.

Ao final da "festa", as fêmeas irão depositar seus ovos em pequenos galhos de árvores. Enquanto árvores maiores e mais maduras resistem bem a essa atividade, sem impacto de longo prazo, nas mais jovens, recém-transplantadas, o efeito pode ser dramático, levanto até à morte.

Esse impacto pode representar um problema para fruticultores, prejudicando macieiras ou videiras jovens, mas Raupp salienta que as cigarras não afetam lavouras, não picam nem representam qualquer risco a crianças, adultos ou animais de estimação.

Ao mesmo tempo, o cientista alerta que cães ou gatos podem querer comer as cigarras. Com moderação, não há problemas. Mas se os pets exagerarem na dose, pode fazer mal.

Iguarias

O próprio Raupp diz estar planejando degustar um cardápio com diferentes pratos à base de cigarras. Uma de suas receitas é preparar os insetos em forma de omelete, com um pouco de alho, azeite de oliva e temperos.

"Elas são uma iguaria", garante.

Para pessoas com medo de insetos, a experiência de observar milhares de cigarras emergindo do solo e subindo em árvores e casas poderá ser assustadora.

Raupp recomenda que essas pessoas procurem aprender mais sobre os insetos, busquem aconselhamento para tentar lidar com a experiência ou, simplesmente, tentem viajar para outras regiões em que as cigarras não vão estar presente durante esse período - respeitando, é claro, as limitações impostas pela pandemia.

Mas o cientista rebate aqueles que descrevem o fenômeno como uma invasão terrível.

"Realmente não é isso. Este é um evento que não ocorre em nenhum outro lugar do planeta. É uma oportunidade maravilhosa para aprender sobre a natureza, as fases da vida, nascimento, morte, romance, todos os elementos da vida", afirma.

Depois de emergir do solo e fazer sua grande celebração, as cigarras irão morrer em algumas semanas. Ao final de junho, a maioria já terá partido.

"Elas irão basicamente fertilizar as mesmas plantas das quais surgiram. É o ciclo da vida. Elas receberam das (raízes) das árvores por 17 anos e agora irão devolver."



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