Gêmeas que fizeram cirurgia para trocar de sexo falam em 'alívio'

Irmãs que nasceram com o sexo biológico masculino são mais as jovens a fazer redesignação sexual no Brasil; cirurgia foi feita nesta semana, em Blumenau

gemeas | reprodução
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Um longo e angustiante período de espera acabou para as gêmeas Mayla Phoebe e Sofia. Mais precisamente 19 anos, a idade das duas. Ambas nasceram com o sexo biológico masculino, mas relatam que sempre se perceberam como mulheres. Nesta semana, elas passaram por cirurgias de redesignação sexual em uma clínica particular de Blumenau, Santa Catarina.

"Uma das lembranças mais antigas que tenho sou eu soprando uma flor dente-de-leão para fazer um pedido. Eu tinha uns 3 anos e pedia a Deus para ser uma menininha. Por isso eu acredito Nele, não fosse por Ele eu não teria chegado aqui", disse Mayla.

Gêmeas são as mais jovens brasileiras a fazer mudança de sexo - Foto: Arquivo Pessoal

Estudante de Medicina em uma faculdade de Buenos Aires, na Argentina, Mayla foi a primeira a entrar na sala de cirurgia, na quarta-feira (10). Ela já teve alta e passa bem. Sofia cursa Engenharia em uma universidade na cidade de Franca, no interior de São Paulo, e foi operada no dia seguinte.

Com a realização do procedimento cirúrgico, as gêmeas passaram a ser as pessoas mais jovens do Brasil a fazer mudança de sexo desde que uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada em 2000, diminuiu a idade mínima de 21 para 18 anos.

Mayla afirma que sempre se sentiu como mulher 

As cirurgias foram lideradas pelos médicos José Carlos Martins Junior e Cláudio Eduardo, no Transgender Center Brazil, que atende pacientes no Brasil e no exterior.

"Eu estou sentindo um alívio tão grande. Nós já passamos por tanta coisa, tanto preconceito e rejeição, mas também tivemos muita aceitação na nossa família. E hoje eu posso ser quem sempre fui, como todo mundo sabendo, sem esconder nada", afirmou Mayla.

Filhas de um funcionário público e uma dona de casa, as gêmeas nasceram e foram criadas no município de Tapira, de 4,7 mil habitantes, no interior de Minas Gerais. O comportamento delas chamou a atenção da família quando estavam com 4 anos. Com os pais separados, a mãe achou que faltava uma figura paterna na vida de Mayla e Sofia. Elas foram morar com o pai, mas durou pouco tempo.

“Todo mundo que me conhece sabe que eu sou assim desde muito pequena. Mas quando eu era pequena achavam que eu precisava de uma figura masculina por perto. Meus pais descobriram, mesmo, quando eu estava com uns 10 anos. Eles vieram conversar comigo e minha mãe chorou, mas não foi de vergonha, foi por medo da sociedade”, disse Sofia.

Sofia diz que apoio da família foi fundamental 

A preocupação da mãe se justificou. As gêmeas relatam ter enfrentado bullying, preconceito e até ameaças de morte por não se identificarem com o sexo biológico. Inclusive sofreram constrangimentos por parte dos professores nas escolas onde estudaram. Enquanto o tempo passava, as gêmeas resistiam e buscavam informações para concretizar o sonho de ser mulher.

Aos 8 anos, as duas já sabiam da existência de cirurgia para mudança de sexo. Desde os 15 anos elas faziam tratamento hormonal, para crescer os seios. Nessa mesma altura, elas entraram na Justiça para mudar o nome registrado em seus documentos. A decisão judicial favorável saiu um ano depois.

A realização da cirurgia foi decidida em conjunto pela família. Para custear o procedimento, elas tiveram que vender uma casa da avó, em Tapira. E o maior incentivador para a realização do negócio foi o avô.

Gêmeas fizeram cirurgia de redesiggnação sexual

“Ser reconhecida é uma coisa muito boa, mas o maior prazer, o que é mais gratificante, é mostrar para o mundo quem eu sou. Mostrar para outras pessoas, na mesma situação,  que elas podem conseguir, mesmo em um país sem igualdade de gênero, o mais transfóbico do mundo. Quero conquistar o respeito da sociedade”, afirmou Sofia.

As gêmeas agora pretendem se engajar na luta contra o preconceito. “Quero participar de tudo, quero estar na linha de frente”, conta Sofia, que está ansiosa pela volta às aulas presenciais.

“Quero abrir meu Instagram para todos, quero compartilhar a experiência que passei, quero esclarecer para quem tiver dúvida, vou ajudar e orientar. Nós vivemos em um país onde pessoas como nós são mortas diariamente, mas só queremos ter a liberdade de ser quem somos”, acrescentou Mayla.



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