Segundo os estudiosos, existe um "aumento de risco alarmante" para funções cerebrais durante viagens ao espaço profundo, com potenciais impactos no humor e até na capacidade de tomada de decisões dos astronautas.
"(A radiação) pode ser o maior obstáculo que a humanidade terá de resolver para viajar além da órbita da Terra", afirma o estudo, publicado em agosto no periódico
Para chegar a essa conclusão, cientistas submeteram camundongos a doses de radiação semelhantes às que seriam encontradas durante a exploração ao espaço profundo, e os roedores sofreram "sérias complicações neurocognitivas", com impactos graves na memória e aprendizado. Além disso, adotaram comportamentos que os cientistas classificaram como "angustiados".
Munjal Acharya, radiologista oncologista da Universidade da Califórnia e principal autor do estudo, explicou à rede NBC que essas radiações "poderiam dificultar que os astronautas reajam de forma eficaz a imprevistos ou situações estressantes",
A pesquisa de Acharya indica que ao menos um em cinco astronautas que fossem a Marte regressaria à Terra com graves sequelas nas funções cognitivas.
A radiação, explica a Nasa, é a energia contida em ondas eletromagnéticas ou carregada por partículas. "Essa energia é distribuída quando uma onda ou partícula se choca com alguma outra coisa, como um astronauta ou um componente da nave espacial. Ela é perigosa porque atravessa a pele, irradiando energia e fragmentando células de DNA no caminho", diz um artigo da agência. "O dano pode aumentar o risco de câncer no longo prazo ou, em casos extremos, causar males de radiação aguda de curto prazo."
A agência lembra que, em circunstâncias normais, estamos protegidos desse risco na Terra, porque "a bolha magnética protetora do planeta, chamada de magnetosfera, desvia a maioria das partículas solares."
Proteção
Segundo a Nasa, uma estratégia para se proteger desses efeitos negativos seria construir "escudos temporários" nas espaçonaves. Kerry Lee, pesquisador da agência, explica que para isso estuda-se usar todo o tipo de massa (mesmo que terra) disponível para "preencher áreas pouco protegidas (da radiação) e fazer com que os tripulantes fiquem em áreas altamente protegidas".
Quanto mais massa houver entre os astronautas e a radiação, maior é a possibilidade de que essa massa seja a depositária da energia radiativa. O desafio é elevar a blindagem sem aumentar muito a quantidade de materiais na nave, o que a deixaria muito pesada.
Na Orion, a próxima espaçonave projetada para ir à Lua, a Nasa quer que os astronautas sejam capazes de construir escudos com o que tiverem em mãos, como sacolas cheias ou mesmo solo lunar, cobrindo seus abrigos com eles.
Outras possibilidades são o uso de coletes e dispositivos que aumentem a massa do corpo dos astronautas, ou mesmo superfícies eletricamente carregadas capazes de repelir a radiação.
Para isso, projetaram Helga e Zohar, duas bonecas que viajarão em uma missão não tripulada para pesquisar formas de proteger astronautas dos raios cósmicos e de tormentas solares.
Primeiro a Lua: depois, Marte
A Orion, por sua vez, vai primeiro à Lua, mas a ideia é que sirva também para explorar Marte. Portanto, as informações coletadas pela missão lunar serão úteis para aperfeiçoar os projetos posteriores rumo ao Planeta Vermelho. A viagem a Marte é muito mais longa do que a ida à Lua, e a tripulação estará exposta a muito mais partículas radiativas.
Além disso, a Nasa afirma que diferentemente da Terra, Marte não tem um campo magnético capaz de desviar a radiação. "Uma das razões pelas quais vamos à Lua é para nos prepararmos para ir a Marte", afirma Ruthan Lewis, engenheiro da agência espacial americana. "Fizemos muitas simulações. Agora, vamos começar a passar à (fase) prática."
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