Adriano Lobão Aragão: Imposto sobre livro é atentado contra a educação

Manuel Bandeira foi fundamental para direcionar o interesse de Adriano Lobão para a poesia.

Adriano Lobão | Divulgação
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Por Wellington Soares

Professor do Instituto Federal do Piauí, o teresinense Adriano Lobão Aragão é autor de "Uns Poemas", "Entrega a própria lança na rude batalha em que morra", "As Cinzas as palavras" e um dos criadores da revista eletrônica Desenredos.

O primeiro impulso de Adriano foi desenhar histórias em quadrinhos, depois escrever romances e a preferência por poesia foi posterior e acabou sendo sua atividade artística predominante.

Ao Portal Meio Norte, o professor e escritor fala sobre produção literária, suas influências, a forma como trabalha com os alunos e diz que o livro "Destinerário", com poemas sobre cidades, foi o que mais gostou de fazer. "Para escrever os poemas que compõem o livro, estive em mais de 70 cidades espalhadas pelo Piauí, Ceará e alguns outros estados. E isso foi uma experiência muito instigante. E, felizmente, foi bem acolhido".

Adriano Lobão escreve muito mais do que publica

Há quem diga que pra escrever o autor precisa estar com um certo estado de espírito. Você concorda?

Adriano Lobão - Para ser bem franco, nunca penso sobre isso. Apenas escrevo e reescrevo continuamente. De qualquer forma, escrevo muito mais do que publico, e raramente publico a primeira versão de um texto. Quase todos são resultado de diversas reescritas feitas em momentos distintos. Então, pelo menos para mim, se há um estado de espírito, eu o chamo de trabalho, leitura e releitura.

Quais escritores e obras são importantes na sua construção literária?

AL - Na adolescência, as histórias em quadrinhos de Frank Miller e os romances de Machado de Assis foram as primeiras a me instigar a tentar produzir alguma coisa. Manuel Bandeira foi fundamental para direcionar meu interesse para a poesia. Pouco depois de publicar meu primeiro livro, Uns Poemas, em 1999, lia constantemente João Cabral de Melo Neto, H. Dobal, T.S. Eliot, Rainer Maria Rilke e a tradução da Ilíada feita pelo Carlos Alberto Nunes. Creio que eles passaram a ser minhas influências mais recorrentes desde então. No âmbito da prosa, cito Italo Calvino (Se um viajante numa noite de inverno), Jorge Luis Borges (Ficções) e Gabriel García Márquez (Cem anos de solidão) como indispensáveis para minha formação.

Embora escreva prosa, seu nome está mais ligado à poesia. Por que essa preferência pelo gênero lírico?

AL - Não faço ideia. Cronologicamente, meu primeiro impulso foi o de me dedicar a desenhar histórias em quadrinhos. Depois, escrever romances. A preferência pela poesia só surgiu depois, mas acabou se tornando minha atividade artística predominante. No entanto, não penso muito sobre isso. Apenas vou fazendo o que instiga meu interesse expressivo em cada momento, independente do gênero.

Fala-se sempre que os estudantes brasileiros, em todos os níveis, estão lendo pouco ou quase nada. Como professor de literatura, você tem essa mesma impressão?

AL - Penso que não apenas os estudantes. Isso é muito relativo e complexo. Sempre convivi com alunos desinteressados por leitura e com alunos ávidos por leitura. Almejo estimular os primeiros passos dos mais desinteressados e ampliar os horizontes dos mais ávidos. Numa sociedade tão desigual, tão injusta e iletrada, tento dedicar a eles o que de melhor eu possa oferecer nesse sentido.

Entre seus livros, qual o da sua preferência e qual teve melhor acolhida do público?

AL - Destinerário, que reúne poemas sobre cidades, foi o que mais gostei de fazer. Para escrever os poemas que compõem o livro, estive em mais de 70 cidades espalhadas pelo Piauí, Ceará e alguns outros estados. E isso foi uma experiência muito instigante. E, felizmente, foi bem acolhido. Além do Destinerário, creio que o romance Os intrépidos andarilhos e outras margens e o livro de poemas As cinzas as palavras foram meus livros que melhor circularam.

Além de livros impressos, você e alguns amigos publicam uma revista virtual. Do que trata a Desenredos?

AL - Comecei a publicar a revista eletrônica Desenredos, juntamente com Wanderson Lima, a partir de 2009, publicando poemas, contos, traduções, resenhas, ensaios, artigos acadêmicos. E esse trabalho continua até hoje, tendo como editores eu e Assunção Leal. A missão continua mesma, estimular a criação artística e promover o debate de temas vinculados, direta ou indiretamente, à literatura. Sendo assim, a Desenredos não se propõe a ser uma revista literária stricto sensu, mas um espaço que, tomando a literatura como epicentro das Humanidades, esteja atento aos movimentos da Cultura.

O ministro da Economia do atual governo, Paulo Guedes, defende a taxação de livros sob o argumento de ser consumido somente pelos ricos. Que acha dessa proposta e de sua fundamentação?

AL - Mais um atentado contra a educação, a cultura e a ciência. A fundamentação é, obviamente, tornar o livro ainda mais inacessível. De um desgoverno que menospreza a educação, a cultura, a ciência, o amparo social, o meio ambiente, os direitos trabalhistas, a liberdade sexual, e que busca continuamente promover o preconceito, a violência e a segregação social, não é possível esperar nada de proveitoso.



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