Stripper faz sexo pela internet e fatura mais do que uma dançarina de boate

Lili começa seu expediente às 18h e só deixa o serviço às 2h

Sexo na web | Folha
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Lili começa seu expediente às 18h e só deixa o serviço às 2h. Ferramentas de trabalho: PC, conexão com a internet, webcam de 4 Mpixels e o corpo. Em uma noite, consegue arrecadar até R$ 300 sem sair de casa ou manter relações sexuais. O salário mínimo é de R$ 1.500 mensais, mas pode atingir mais de R$ 2.000, dependendo do ânimo da clientela. A capixaba de 29 anos trabalha com strip-tease pela internet, ramo promissor do mercado erótico, tanto pelos ganhos, quanto pela comodidade.

"Muito homem está percebendo que é melhor brincar com isso na rede a fazer besteira e pôr o casamento em risco", diz a stripper virtual. Assim como as outras entrevistadas, ela cita apenas seu nome de guerra e afirma nunca ter feito programas. "Nem pretendo. Se eu não quiser realizar o show, é só desligar o MSN. Com garota de programa é diferente, acho perigoso."

O dinheiro que Lili e dezenas de mulheres --e também homens e travestis-- levantam com apresentações de nudez na web ultrapassa, em média, a quantia atingida em um mês por strippers de casas noturnas. Evaldo Shiroma, presidente da Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual) e criador da maior feira do setor no país, a Erotika Fair, aponta que o cachê base de uma dançarina de boate é de R$ 100. De acordo com ele, as strippers costumam fazer, no mínimo, cinco apresentações por semana.

Sem contar os gastos com locomoção e na própria boate, já perderiam na largada para as concorrentes virtuais. Lais, 26, do Rio Grande do Sul, consegue R$ 2.500 por mês. Seu segredo: ela também atua com o marido no MSN. Ex-professora de Magistério de 1ª a 4ª série, decidiu investir na web após ser demitida.

Por 30 minutos de show, cobra R$ 50. Acompanhada, o preço dobra. "O internauta escolhe e comanda tudo", diz. Os shows só começam após os depósitos serem feitos pela internet. Como o risco de calote é iminente, as garotas produzem blogs e sites para mostrar "credibilidade".

A página de Lili, por exemplo, explica que suas apresentações custam R$ 25 (10 minutos), R$ 35 (15 minutos), R$ 50 (20 minutos) ou R$ 70 (30 minutos). Essa última inclui fantasias de presidiária, empregada doméstica, bombeira, policial etc. "É tipo um filme pornô, só que nele o cliente é o astro, não um mero espectador", conta.

Das 7h às 18h, quando ela está fora do circuito, uma outra stripper virtual assume o posto, mas transmitindo da zona sul de São Paulo. Bruna, 40, adota um estilo de negócios menos profissional. Segundo ela, mais prazeroso. "Faço show há dez meses, mas me mostro na câmera há bem mais. Sempre tive essa coisa de entrar em chat de sexo, adoro. Daí pensei: "vou começar a ganhar com isso", explica. Salas de bate-papo e comunidades do Orkut são as avenidas de divulgação dessas profissionais.

Bruna (brunasexysp.blogspot.com) diz conseguir quantias entre R$ 600 e R$ 1.000 por mês, mas também trabalha com artesanato, o que permite um ritmo de apresentações menor. Prefere "brincar" com homens que também se mostrem na câmera. Tem cerca de 20 clientes fidelizados. Procuram seus serviços todo mês. É casada e tem um filho de 16 anos --"eles não sabem, ficam fora o dia todo".

"É bem mais barato do que uma prostituta ou uma stripper de boate. Se o sujeito quiser, me paga, vê o show, deleta e acabou", afirma. "Geralmente, são homens com mais de 30 anos, que não têm sexo na vida real, mesmo quando são casados."

A dançarina paulistana Chris Lima, 23, já se apresentou nas boates Enigma (Moema), Café Gauguin (Brooklin) e String Fellows (Itaim Bibi). Por 15 minutos de exibição com outra garota, ganha R$ 250. "A procura já caiu bastante em dezembro. Na primeira semana do mês, só fiz uma apresentação", conta. Chris explica que, normalmente, realiza três shows semanais. Já trabalhou pela internet e, ainda assim, prefere clientes reais a virtuais. A desconfiança e a concorrência na rede são os principais desafios, desabafa.

Teletrabalhadoras

De acordo com a Sobratt (Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades), o Brasil conta com cerca de 10 milhões de pessoas que desenvolvem atividades profissionais --formais ou informais-- fora do ambiente de trabalho tradicional e com uso de tecnologia da informação e comunicação. "A balança do mercado vem pendendo para a valorização das relações relâmpago", pondera Ana Manssour, diretora-presidente da associação.

De olho nesse tipo de contato, mas com apelo tridimensional, a empresa britânica Novo desenvolveu a webcam Minoru 3D. Com aparência entre um robozinho e um vibrador, o aparelho custará cerca de US$ 90. Ele capta duas imagens e as mistura, de modo a tornar a transmissão mais realista.

"O produto vai funcionar de forma fantástica para sexo virtual. Pensamos em um formato em que você possa usá-lo também como brinquedo erótico", diz Martin Illman, executivo de vendas da empresa. O ponto negativo é que o usuário precisa de óculos especiais para captar as cenas em 3D --o que não chega a ser um acessório sexy. O brinquedo tecnológico não tem previsão para chegar ao Brasil, mas já está à venda no Reino Unido.

No entanto, lojas on-line já oferecem ao consumidor nacional desde vibradores para conectar ao PC por meio de porta USB (R$ 134) até simuladores de genitália feminina que, além de imitar a pele humana, interagem com o usuário por meio de jogos de computador (R$ 396). Há também o VibraPod, consolo que entra no ritmo do que se está ouvindo no tocador de MP3 (R$ 395).

A crescente monetização do sexo na internet desperta não apenas a atenção de empresas, mas também de psicólogos, que vêem na obsessão pelo virtual uma patologia.

"A prática se torna doentia quando impede alternativas de relacionamentos reais", diz o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. Para ele, é equivocado classificar esse tipo de estímulo como masturbação. "Mesmo que exista automanipulação genital, a condição é diferente, pois existe uma troca entre duas pessoas", diz.

De acordo com a psicóloga e terapeuta sexual Arlete Gavranic, do Isexp (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática), as transas on-line são usadas por pessoas com "pouca liberdade para manifestar suas fantasias com o parceiro ou a parceira". Na rede, analisa, elas vivem uma transgressão segura. Podem "trair, fazer algo que consideram ilegal ou inadequado, pois de alguma forma se sentem protegidas no anonimato".

"No Brasil, cada usuário desses sites soma, em um mês, 54 minutos navegando em busca de conteúdo erótico. É um tempo que dobrou em três anos, principalmente porque agora há mais vídeos do que antes", diz José Calazans, analista do Ibope/NetRatings.

De acordo com o especialista, sites de sexo são fundamentais para web como "indicadores de tendências". "Grandes inovações são apresentadas primeiro nesses sites. A própria adoção de webcams e vídeos surgiu primeiro neles, a troca de arquivos em redes P2P, as comunidades, e agora o uso de mapas", afirma.



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