Sete décadas na vida de um homem comum

Na autobiografia “Gastura - rastreando as profundezas da mente”, Fernando Machado intercala vivências pessoais a fatos históricos no Brasil e no mundo

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O Parque Ibirapuera ainda não existia. No Cine Leblon, as sessões aos domingos de manhã exibiam Tom e Jerry.  O bonde era um veículo de locomoção usual na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Os circos estavam na moda. A televisão virou uma novidade entre os vizinhos, que se reuniam na casa de quem tinha o privilégio de comprar o aparelho.

A São Paulo dos anos 1950 é o ponto de partida do escritor Fernando Machado em Gastura - rastreando as profundezas da mente. De memórias cotidianas a fatos históricos marcantes, a obra parte da ótica de quem viveu seus primeiros anos na Vila Mariana e acompanhou, no calor dos acontecimentos, os principais episódios sociais, políticos, culturais e esportivos daquela e das seis décadas seguintes. 

No dia da partida final, meu pai nos preparou uma surpresa: colocou no jardim, perto do chorão social, um equipamento inusitado: móvel baixo e comprido, com três repartições, rádio, toca discos 78 rpm e alto-falante. Era chamado de hi-fi, aparelho de rádio e vitrola valvulado com som em alta fidelidade; nessa época, ainda não havia televisores. A família toda, tios, primos e vários amigos ficavam sentados na grama do jardim de casa, para ouvir o jogo, bebendo cerveja e caipirinha. Meu pai era tolerante com um pouco de bebida alcoólica para os garotos; a cada gol, havia gritaria e fogos. E foram cinco! (P. 32, Gastura - rastreando as profundezas da mente)

Assim como a final da Copa de 1958, o livro mescla passagens da vida do autor a acontecimentos no Brasil e no mundo. Da morte de Getúlio Vargas ao assassinato de John Kennedy; do golpe militar à Guerra do Vietnã; da condecoração de Che Guevara à viagem do primeiro homem pelo espaço sideral, com Yuri Gagarin. O ineditismo e fascínio da obra residem justamente aí: o autor usa sua própria biografia como “linha do tempo” para relatar fatos notoriamente conhecidos.  

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Hoje, no alto dos seus 75 anos, Fernando Machado apresenta mais que uma autobiografia. O escritor e engenheiro civil aposentado compartilha com o leitor cenários e visões que só quem viveu aqueles tempos poderia tão bem descrever. E, principalmente, revela sentimentos genuínos e as experiências que fazem de um menino, um homem. Neste processo de amadurecimento, o alcoolismo e a recuperação em Alcoólicos Anônimos foram partes significativas.

A minha vida particular social-alcoólica estava provocando dissabores, cada vez maiores, pois estava bebendo muito e metendo-me em uma série interminável de acidentes de carro. Numa época sem bafômetro, nem radar, a velocidade máxima permitida era sistematicamente desprezada. Além disso, vez ou outra ocorriam episódios deploráveis, no fim das noites; alguns inconfessáveis, outros perdidos na amnésia alcoólica, blecaute que causa incapacidade de lembrança de fragmentos ou de eventos inteiros do período de embriaguez da noite anterior. Apagão!  (P. 153, Gastura - rastreando as profundezas da mente)

Lançada pela Editora Viseu, Gastura - rastreando as profundezas da mente trata de alegrias, perdas, encantamentos, dificuldades. Da simplicidade da vida e o que dá sentido a ela. A gastura que intitula a obra como forma de expressão de tudo o que incomoda e machuca não apagou as lindas memórias de uma época em que o tempo passava em outra velocidade, bem distante da pressa exacerbada trazida pelo aparato tecnológico.



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