Em livro, Cinthia Lages monta o “Memorial da Pandemia no Piauí”

A jornalista lança na quinta (22) e sexta (23) a publicação “2020 Histórias do Ano que Vivemos em Perigo”, que traz relatos emocionantes e históricos da pandemia no Estado

Jornalista Cinthia Lages | Divulgação
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O que era para ser um artigo sobre  obituário virtual virou o livro "2020 Histórias do Ano que Vivemos em Perigo", escrito pela jornalista Cinthia Lages, que será lançado nesta quinta-feira, 22, e sexta-feira, dia 23, na Livraria Anchieta.

A partir desta quarta, 21, Cinthia começa a fazer a divulgação virtual por meio de lives com pessoas cujas histórias estão retratadas no livro desde as pessoas que venceram a Covid-19 aos profissionais de saúde que atuam bravamente no enfrentamento do vírus há mais de um ano.

A iniciativa do livro partiu da percepção da jornalista do comportamento das pessoas que passaram a usar a timeline do facebook para avisos de morte, publicação de mensagens de despedidas de parentes, amigos e amores. "Eram mensagens diretas, sem a intermediação do jornalista que, historicamente, sempre escreveu os obituários. A linguagem era diferente, havia as hastags mais recorrentes e traziam sempre muita emoção.  Imaginei que tudo aquilo, que refletia um momento da vida daquelas pessoas se perderia com o tempo e que elas ficariam sujeitas a um algoritmo para ter aquelas lembranças de volta. Comecei a guardar as mensagens pensando em escrever sobre eles", explica Cinthia.

Então surgiu o desafio de escrever o livro e a jornalista cita também a postura dos gestores que não abriram mão de adotar medidas impopulares.  "A primeira pessoa que entrevistei para o livro foi , o então prefeito, Firmino Filho. Tanto Teresina como o Piauí, através do governador Wellington Dias prepararam suas ações para a chegada da pandemia, o que  foi definitivo para que tenhamos fechado 2020 com baixas taxas de letalidade e a pandemia  sob controle. Os gestores foram os responsáveis por termos sobrevivido aquele primeiro ano", explica.

Em um ano de perigo e temor, Cinthia Lages traz muitas histórias em 260 páginas. "Existem relatos de dor e perdas, como o da professora Márcia Soares que perdeu o amor da sua vida, o médico Ubirajara Soares, para a doença que ele contraiu, provavelmente, no hospital.  Tem os jovens médicos de Parnaíba, cuja dedicação me comoveu muito. Uma das entrevistas, com o Eduardo, foi feita no dia 25 de dezembro. Ele tinha ido para a casa dos pais, em Mossoró (RN) depois de muitos meses trabalhando na linha de frente, em Parnaíba. Ele é da turma que teve a formatura antecipada", conta a jornalista. 

Na sua obra, ela conta que a maioria dos profissionais formados antecipadamente optou por trabalhar na região. A Universidade Federal do Delta do Parnaíba fez um estudo mostrando isso. "Eu acredito que eles foram muito importantes em 2020. Muitos médicos se negavam a atuar no enfrentamento e eles estavam lá dia e noite de plantão. Tem muitas histórias assim.  Gostei muito de ter tido tempo e ajuda para pesquisar as referências da Gripe de 1918/1919", conta. 

Segundo a jornalista, graças ao apoio do Arquivo Público, ela teve acesso a documentos que revelam como foi o enfrentamento, o volume de recursos e como os jornais abordavam a pandemia no Piauí. "Assim como em 2020, também na pandemia da gripe,  a Ciência foi definitiva. O Piauí contou, naquela época, com médicos que tiveram formação fora e chegaram num momento em que mais se precisava deles", afirma.  

A história da Medicina no Piauí, de acordo com Cinthia, teve um capítulo importante naquela pandemia pois tivemos aqui, um dos primeiros especialistas em Otorrinolaringologia do país. Ele era do sertão do Piauí, estudou Medicina fora, morou na Europa e quis voltar para seu estado.

Jornalista Cinthia Lages registra histórias emocionantes de pessoas que enfrentaram a Covid

A proposta de "2020 Histórias do Ano que Vivemos em Perigo" é montar um  Memorial da Pandemia no Piauí. "Que não seja esquecido o que vivemos. Que as pessoas que se foram tenham suas histórias lembradas. Que possamos ter referências de como um estado como o Piauí usou suas equipes de atenção básica para ir atrás de casos. O estado não esperou o caos – que chegaria se não tivesse havido preparo", conta Cinthia.

A jornalista conta que o Piauí, em 2020, tinha uma das menores relações  leitos de UTI por habitante do país, 70% dos médicos estão concentrados na capital, o Programa Mais Médicos, do Governo federal, havia acabado. Não tinha teste, tratamento e nem se cogitava vacina. 

"Então, esse estado do Nordeste  forma comitês científicos, escuta especialistas, monta equipes de monitoramento, ou seja, enfrenta como as armas que tem e de forma inteligente, apesar de todas as dificuldades que sabemos que existiram.  Nós tivemos, em grande parte do ano, um dos cientistas mais brilhantes do país, o Miguel Nicolelis que coordenou o Comitê Científico do Nordeste e que eu entrevistei para o livro. Na época, ele alertava que nenhum país sério enfrentava uma pandemia sem um Comitê. 

Sei que muitos especialistas estão escrevendo sobre a pandemia, já existem muitos trabalhos científicos em que os casos são analisados, a adoção de medicamentos e tal.  Mas eu queria essa visão jornalística e com essa característica de resgate", diz Cinthia.

Livro de Cinthia Lages registra histórias da pandemia

Maior perigo de 2020

"Quando olhamos para o ano passado parece que foi tudo bem, né? Se comparado com os números de agora. Mas era o começo. Era tudo novo. Somos uma sociedade de certezas. E, de repente, não tínhamos mais certeza alguma.  Mas lembro que, quando voltávamos de uma viagem pelo interior, com a Caravana (que, aliás, foi interrompida por causa das primeiras medidas restritivas), nosso caminho passava pela 135. Era uma sexta-feira, normalmente havia muito Trânsito. E estava tudo vazio. Restaurantes fechados, tudo silencioso. Deu medo aquele retorno porque era um momento em que circulavam noticias falsas sobre casos que estariam sendo escondidos e coisas do gênero", lembra Cinthia.

A repercussão

A jornalista diz que há sempre o medo que é natural do escritor. Mas ela contou com uma equipe primorosa. "Agradeço a Miguel  de Araújo, da Criami, que foi o designer gráfico que trabalhou junto comigo em toda a construção, além da Maira Danuse, que fez a revisão, do professor Wellington Soares e o Gisleno, da editora Quimera. Sei que fizemos o melhor que pudemos para que o livro pudesse estar à altura do que aquelas pessoas que dedicaram seu tempo e, muitas vezes, tiveram que superar seu luto para conversar comigo e compartilhar suas histórias", relata.

Jornalista Cinthia Lages traz relatos e experiências de quem enfrentou a Covid



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