Cantor Gilberto Gil afirma: “A maconha ajudou a minha música”

Ex-ministro da Cultura no governo Lula, ele comenta as vaias à presidente Dilma na abertura da Copa do Mundo

Gilberto Gil | Fábio Cordeiro
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Em entrevista ao site, o cantor diz que se vê saído há pouco da adolescência. Ex-ministro da Cultura no governo Lula, ele comenta as vaias à presidente Dilma na abertura da Copa do Mundo, defende a legalização das drogas e revela que já tomou quase 100 ácidos lisérgicos

Três xícaras de chá de hortelã bebidas com a leveza de sempre, pausadamente. É assim que Gilberto Gil, 71 anos, concede esta entrevista ao site. Mas não se engane. Acompanhado de perto por sua mulher, a empresária Flora Gil, 54, com quem está há 34 anos, o baiano tem pressa. É que, em tempos de Copa do Mundo, ele não deixa de assistir a nenhum jogo pela TV ? os do Brasil, ele acompanha nos estádios. Durante o papo, defende a legalização das drogas e revela que já tomou muito ácido lisérgico. ?Tem gente que toma um ácido e tem a pior onda da sua vida. Nunca tive uma bad trip.?

Gil fará a inauguração do Theatro NET de São Paulo, de 18 a 20 de julho, com o show de seu novo CD, Gilbertos Samba. Em outubro, segue em turnê ?voz e violão? pela Europa. É incansável. ?Minha vitalidade é a música?, garante o pai de Nara e Marília, do seu casamento com Belina Moreira. Com Sandra Gadelha, teve Pedro, Preta e Maria. Com Flora, são mais três filhos: Bem, Isabela e José. Tem oito netos, que classifica como ?bonecos?. ?Brinco como quem brinca de boneca. Eu brincava de boneca com minha irmã, então continuo brincando com meus netos?, diverte-se.

QUEM: Em algum momento o senhor chegou a temer pela realização da Copa do Mundo no país?

GG: Não, porque a realização da Copa passa por desígnios mundiais, definições globais... O Brasil é cada vez mais um país afeito a essa dimensão internacional, por razões da cultura, do esporte, da economia, da diplomacia. Não havia esse temor de não haver Copa.

QUEM: O que achou da vaia que a presidente Dilma levou na abertura do mundial, em São Paulo?

GG: Brasileiro vaia até minuto de silêncio, como dizia Nelson Rodrigues. No caso de autoridades, especialmente políticas, no momento em que a sociedade se manifesta, não tem muito jeito. Vai ter vaia! A vaia é exibicionista, é uma maneira de as pessoas anônimas e comuns terem seu momento de vocalização.

QUEM: O senhor já teve medo de levar vaia?

GG: Eu já tomei várias vaias! Mas nunca temi, não. Não acredito que afete o trabalho, mas afeta o emocional momentâneo. Vaia sai na urina. Como todo líquido que você ingere, deixa que é processado e eliminado naturalmente (risos). Como toda angústia, a vaia também passa.

QUEM: Aos 71 anos, como mantém a vitalidade?

GG: Minha vitalidade é a música, é espiritualidade, por isso foge a explicações. São coisas que vêm com essa capacidade inspiradora que as artes oferecem ao homem.

QUEM: Qual é o maior desafio trazido pela idade?

GG: A manutenção de uma condição plenamente saudável do corpo. O envelhecimento natural vem e você não tem o que fazer. Ainda assim, me sinto como um homem recém-saído da adolescência, entrando na fase adulta, com os primeiros sinais dessa postura mais séria, mas ainda com muitos elementos da vida fácil da infância.

QUEM: Como manter esse espírito zen no meio artístico, conhecido pelo ego, pela fama, pela vaidade?

GG: Muitos artistas são dominados pela vaidade, pelo ego, mas eu não sou, nunca fui. Guardo minha vaidade no espelho do meu quarto.

QUEM: Como cuida do corpo?

GG: Faço o que for preciso para ficar mais bonito. Não chego a ser metrossexual, pelo que sei dessa definição. Não chego a tanto (risos). Gosto de manter o peso adequado, a musculatura em forma, faço ginástica.

QUEM: Ainda mantém dieta macrobiótica?

GG: Volto à macrobiótica de vez em quando por questão terapêutica, me ajudou a cuidar da saúde. Levei a dieta macrobiótica por dez anos, e isso já tem uns 40 anos. Adoto dietas variadas, estudo minimamente sistemas dietéticos de diferentes lugares do mundo.

QUEM: Por quê?

GG: A legalização é mais benéfica do que a manutenção das drogas como questão criminal. Os malefícios causados pela criminalização são maiores do que os malefícios causados pelo uso. O uso monitorado, transformado em questão de saúde pública, diminuiria os malefícios na segurança pública.

QUEM: Acredita que a sua geração soube lidar melhor com as drogas do que a atual?

GG: A minha geração e a que foi um pouco anterior à minha estavam mais dedicadas ao uso, à intensificação e à experimentação. Mas muitos estavam dedicados apenas ao abuso, como forma de constatação, protesto, negação dos modos restritivos de se viver. Abusar das drogas era o equivalente a fazer manifestação na Copa (risos). Havia um uso político.

QUEM: O senhor já disse que ?a droga era um fetiche que exorcizava demônios?. Como foi isso?

GG: É isso mesmo. As drogas abriram portas celestiais para alguns e a porta do inferno para outros. Eu tomei quase 100 ácidos lisérgicos e nunca tive uma bad trip. Tem gente que toma um ácido e tem a pior onda da sua vida. É uma experiência individual. Não há receita. É como você se coloca para aquilo, como se deixa levar pelas ilusões possíveis e existentes.

QUEM: E a maconha?

GG: A maconha ajudou a minha música, sempre digo isso com toda a certeza. A maconha me ajudou pela criatividade, pelo modo do seu uso. Para o tipo de uso que eu queria fazer, ela me ajudou, sim.

QUEM: O que sua geração não fez e a geração atual teria a obrigação de fazer, em sua opinião?

GG: Minha geração fez o que pôde na medida do que compreendia ser necessário. Essa geração de agora vai ter que lidar com novas questões. Minha geração fazia uso da sexualidade para descobertas, hoje se faz uso excessivo disso. Há uma quebra de barreiras de gêneros sendo feita. Vocês vão ter de lidar com outros problemas que não são os meus (risos)! A gente queria quebrar as barreiras da sexualidade, hoje querem reconstituir tais barreiras que sumiram por completo. É muito louco pensar isso, não? As definições vão sendo redefinidas, reconstruídas, rediscutidas.

QUEM: O que o senhor traz da sua experiência na política, como ministro da Cultura (2003 a 2008)?

GG: Não sei o que eu trouxe. Ter passado o tempo fazendo aquilo (risos). Pronto! Não me arrependi, era a vida, estava vivendo intensamente aquilo. Não tenho a menor vontade de voltar, especialmente por causa da idade, dessa exigência da dimensão física. Tinha que acordar todo dia às 7h da manhã e dormir meia-noite, todo dia viajando muito pelo país. Deixei o trabalho artístico para me dedicar ao serviço público.

QUEM: E como é o Gil avô?

GG: Gosto de pensar que os netos são brinquedos, bonecos no sentido mais lúdico. As bochechas, perninhas, bracinhos... São bonecos com os quais eu brinco. Tenho também netos adolescentes, esses são como filhos, são relações fraternas com quem divido questionamentos, frustrações, alegrias, conflitos. Brinco como quem brinca de boneca. Eu brincava de boneca com minha irmã, então continuo brincando com meus netos (risos).

QUEM: Além de ser sua mulher, Flora Gil tem ativa participação na sua vida profissional. Quais são os limites para isso?

GG: Ela gosta, é o que ela escolheu fazer na vida, já era uma empreendedora nesse sentido, é paulistana, workaholic. Ela trouxe isso para o casamento. Não vejo limites... O segredo para uma boa relação é se gostar. Se esse gosto for suficiente para preencher a vida, que seja assim, acredito que a gente não precisa de mais nada.

QUEM: O senhor tem algum medo?

GG: Não tenho medo da finitude da vida. Escrevi uma música que diz: ?Não tenho medo da morte, mas sim medo de morrer?. Isso resume tudo.

QUEM: O senhor é tecnológico?

GG: Uso o mínimo possível. Nem sei o que são redes sociais. Se o Gilberto Gil pessoa artística precisa lidar com isso, há pessoas que fazem isso para mim. Olha, eu tenho computador e iPhone. Uso computador para ler jornais e o iPhone para telefonar.

QUEM: Já fez análise?

GG: Nunca, não saberia o que a análise poderia me dar. Não tenho como antever o benefício de uma sessão de análise. Fazer por diversão é caro. É quase tão caro quanto ver uma Copa do Mundo. Por isso prefiro gastar vendo os jogos (risos). Não deixa de ser uma terapia.



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