Mais velha que “Gabriela”, Juliana Paes se diz surpresa com os comentários

Juliana Paes diz não se importar com a rusticidade – visual, inclusive – da heroína de Jorge Amado

Juliana Paes | Divulgação
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Gabriela é brejeira, de sorriso escancarado. Juliana Paes, também. Ambas traduzem a beleza feminina brasileira em seus aspectos mais marcantes ? a morenice e a sensualidade ?, ainda que a clássica heroína de Jorge Amado exale a rusticidade da seca do sertão nordestino e a atriz seja um ícone da mulher urbana e vaidosa. Construir a primeira significou desconstruir a segunda. No remake de "Gabriela", no ar na TV Globo no horário das 11 desde segunda-feira (18), Juliana, que encarna a protagonista homônima, aparece, como define a própria, ?com a cara e a coragem?. ?Fica tudo assim mesmo: sem gracinha, sem pintura, sobrancelha grande... Tô bicho solto?, diz, aos risos.

A primeira versão do romance foi exibida em 1975 com Sônia Braga no papel principal, o que suscitou comparações entre as duas atrizes e críticas por Juliana, 33 anos, ser 12 anos mais velha do que a personagem, uma jovem de 21. Nada que a tenha abalado. ?Nunca levei idade em conta para nada?, afirma, com a segurança que lhe é peculiar, potencializada após o nascimento de seu primeiro filho, Pedro, de 1 ano e 6 meses. A confiança estende-se às gravações das cenas de sexo vividas por Gabriela e Nacib (Humberto Martins). ?Hoje, o meu pensamento é: o meu corpo está assim, é assim que eu sou e estou me sentindo ótima?, garante ela, quase repetindo a música tema da personagem, Modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi (?Eu nasci assim/ eu cresci assim/e sou mesmo assim/vou ser sempre assim...?).

Também não tem nada a ver com insegurança o fato de o marido, o empresário Carlos Eduardo Baptista, não querer assistir à mulher nas sequências mais fortes da novela. A atitude é explicada pela atriz como uma extensão da cumplicidade do casal, já que ela entende a opção dele, para quem tece inúmeros elogios: ?Tenho a noção de que meu marido está mais maduro, mais homem, e é um gato. O Dudu é muito mais bonito do que eu?.

Articulada, simpática e espontânea, Juliana fala do amor por Carlos Eduardo com devoção, mas não escamoteia a realidade ao avaliar o relacionamento dos dois ? oficializado há quase quatro anos, mas eles moram juntos há oito. ?Acredito que as pessoas achem que amar é viver em transe de paixão (...) Mas o amor do casamento é o carinho do companheirismo, do dividir?, afirma. Em quase duas horas de entrevista, nada fica de fora. Carreira, sexo, vaidade, religião e maternidade são alguns dos assuntos dissecados pela atriz, sem reservas. Quando o filho entra em pauta, a emoção rola solta. ?Todo dia choro com o Pedro. É impressionante?, conta, antes de revelar o que já pressente sobre o sexo do segundo bebê, previsto para ser encomendado depois que Gabriela acabar. ?Tenho uma intuição de que vai vir outro menino.?

Gabriela é o maior desafio de sua carreira?

JULIANA PAES: Pode ser, mas tenho uma certa dificuldade de colocar as coisas nesses patamares tão altos, porque sou muito autocrítica. Se eu disser que alguma coisa é o maior desafio da minha vida, estarei me maltratando, pois vou me cobrar ainda mais. Então, Gabriela é um superdesafio, mas que acontece no momento em que me sinto mais preparada para ele.

Como recebeu as críticas por ser mais velha do que a personagem?

JP: Com muita surpresa. Nunca levei idade em conta para nada. Óbvio que foi o pensamento de uma minoria e não foi uma questão discutida dentro da TV Globo. Acabei refletindo sobre o quanto o casamento e a maternidade vão te colocando como se você não estivesse mais para o jogo.

De que forma?

JP: Estar num casamento longo, com filho, às vezes nos dá uma velhice que não temos, como se não estivéssemos mais na pista para negócio. Talvez se eu não fosse casada, nem mãe, e estivesse na noite, trocando de namorado, passasse uma ideia maior de jovialidade.

Mesmo sendo bonita e sensual, Gabriela é rústica. Como foi a sua desconstrução?

JP: (risos) Eu estou até gostando. Não preciso deixar as unhas crescerem, fica tudo assim mesmo, sem gracinha, sem pintura, sobrancelha grande... Tô bicho solto (risos).

Desmontou aos poucos?

JP: Foram muitos processos. Pode parecer uma grande futilidade, mas, para a mulher, é importante estar com as sobrancelhas feitas. Eu me via superestranha no espelho, me sentia sujinha. Também me achava esquisita com essas extensões enormes no cabelo e já me acostumei a não usar maquiagem para me enfeitar, um brinquinho, nada. É com a cara e a coragem.

Esse papel tem cenas fortes de sexo. Ser mãe não aumentou seus pudores?

JP: Não, pelo contrário. O Pedro me ajudou, porque a Gabriela tem uma consciência corporal muito madura e serena. E, hoje, o meu pensamento é: o meu corpo está assim, é assim que eu sou e estou me sentindo ótima.

Viver uma personagem tão quente ajuda na vida sexual em casa?

JP: Inspira, lógico. O ator trabalha com energia. Não acho que as pessoas levem os personagens para a cama, mas a energia daquele papel nos impregna, consciente ou inconscientemente. Se está em cena e tem que estar sensual, quente, essa energia que você evoca, da lascívia, da luxúria, ela vai um pouco contigo.

Você declarou que o Dudu não vai assistir às suas cenas de sexo na novela. Isso não cria uma distância entre vocês?

JP: Acho que isso nos torna mais cúmplices, porque entendo o fato de ele não curtir ver, talvez até porque, se ele fosse ator, eu também não iria gostar de ver. Ia ser puxado para mim, né? Tenho a noção de que meu marido está mais maduro, mais homem, e é um gato. O Dudu é muito mais bonito do que eu. Às vezes, falo ?gente, isso tudo é meu??. Eu fico bonita maquiada, ele fica bonito de qualquer jeito.

O casamento de vocês está melhorando com o tempo?

JP: Casamento não melhora com o tempo, nós é que melhoramos para levar o casamento numa boa e sermos felizes. Acho que a gente vai entendendo que não adianta ficar brigando pelo que a pessoa não vai mudar, então tem que ceder. Casamento é difícil, é um leão por dia mesmo.

Depois que Pedro nasceu, vocês preservaram o espaço do casal, tanto que viajam, saem para dançar. Planejaram assim?

JP: Acho que isso é mérito meu, a partir do momento em que entendi que o leme está nas mãos da mulher, se, por analogia, considerarmos o casamento uma embarcação. Não adianta achar que o cara vai, depois de oito anos juntos, chamar para um jantarzinho romântico. A parte lúdica e criativa é inerente à mulher. Então, se você está a fim de um jantarzinho romântico, faça e aprenda a curtir, mesmo não tendo sido uma surpresa feita por ele. É preciso limpar um pouco a nossa cabeça das fantasias de menina.

E deixar aflorar o lado masculino?

JP: Sim, e tomar a iniciativa. Aí, vai virando um ciclo, você vai tomando a iniciativa para organizar as saídas, para o sexo, para o jantarzinho romântico, e ele também vai se contaminando. Enquanto esperei as coisas acontecerem, me frustrei. Quando me livrei da meninice do príncipe encantado, comecei a ficar mais feliz no casamento e passei a não superestimar o amor.

Como assim?

JP: Acredito que as pessoas achem que amar é viver em transe de paixão. Mas o amor do casamento é o carinho do companheirismo, do dividir. A rotina é, às vezes, muito tediosa, mas também te dá um chão saber que vai ter aquela pessoa para conversar, para contar. A gente briga pra caramba, não vive uma vida perfeita. Se, a cada vez que vier uma fase ruim, pensarmos em divórcio, vamos viver numa corda bamba. Faz parte do amadurecimento saber que o momento esquisito vai passar. Porque tem amor.

O Dudu mudou com a paternidade?

JP: Parece que a ficha caiu, porque o homem demora a entender que o playground acabou. Ele sempre teve muito compromisso com o nosso relacionamento, sempre foi um cara trabalhador, mas nunca o senti tão preocupado com o futuro. Agora, o vejo preocupado com o Pedro, com o outro filho que de repente a gente quer ter.

De repente?

JP: Não, vamos ter. Só não estamos ainda com a data certa, mas estou doida para engravidar. Estou ponderando, mas a possibilidade de acontecer depois que a novela terminar é grande.

Gostaria de ter uma menina?

JP: Adoraria, viraria uma minitravesti, porque, do jeito que gosto de enfeite e montação, ia ser muito brilho, paetê e purpurina (risos). Tenho até medo de ter uma filha e Deus só vai me dar se eu tiver merecimento, porque até ele deve ter medo (risos). Mas tenho uma intuição de que vai vir outro menino.

Qual foi o momento com Pedro que mais a emocionou?

JP: Todo dia choro com o Pedro. É impressionante. Ele tem mania de mexer nas orelhas, então outro dia pegou nas minhas e disse: ?Mamãe, carinho?... Aquela carinha me olhando, aquelas mãozinhas quentinhas, fininhas (emociona-se)...

A Bahia, terra de Gabriela, é um lugar de religiosidade forte, em que a umbanda, sua religião, é marcante. Pediu licença ou proteção quando foi gravar lá?

JP: Macumbeiro que é macumbeiro pede licença em todos os lugares que ache que tem que reverenciar. Chego na Bahia e já peço a proteção aos guias, aos orixás... Peço permissão, ajuda e, acima de tudo, inspiração. Às vezes, a gente não sabe por que decidiu pegar uma rua e não outra, e aí descobre que aconteceu alguma coisa do outro lado. Acredito que estamos o tempo todo recebendo orientações e inspirações. Nasci na umbanda e na umbanda me criei. Mas adoro ir à missa, a centros espíritas de mesa, adoro receber um passe. Gosto muito de rituais de outras religiões.

É verdade que você fez um pacto com Deus e prometeu dividir com sua família tudo que ganhasse?

JP: É verdade, e mantenho esse pacto, que fiz muito antes de ficar famosa. Foi uma fase em que minha família passou por muitas dificuldades. A gente parece estar sempre rezando para si próprio e o que queria passar para o plano maior era que eu não queria ganhar as coisas só para mim. Acho que fui ouvida.

Continua se autoanalisando?

JP: Sim, mas agora estou com vontade de fazer terapia, porque vou ter que falar e me ouvir. Quero saber o que o terapeuta vai me devolver.



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