Profissionais do cinema e da TV falam sobre o que rola em gravação de cenas de sexo

A cena é uma performance com um desconhecido transformado em parceiro de atuação.

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Pelo que conta a maioria dos atores, filmar cenas de sexo não é excitante. Há todas aquelas grandes câmeras, e os integrantes da equipe de filmagem, igualmente grandes, que vêm com elas. A cena é uma performance com um desconhecido transformado em parceiro de atuação, diante de um diretor que julga cada carícia e cada murmúrio. Os astros nos asseguram, em suas entrevistas de TV, que esse tipo de trabalho é o contrário de erótico. Mas se você conversar com os cineastas, encontrará uma visão diferente.


“Eu, pessoalmente, fico muito empolgada quando filmamos cenas de sexo”, diz Sarah Treem, criadora de The Affair, série do canal Showtime. “Porque acho que elas podem ser muito transgressivas; podem ser muito, muito reais”. Quando funcionam, ela acrescenta, todo mundo curte, de verdade.

Naturalmente, nem todas as cenas de sexo são amorosas. Algumas, como as que Jean-Marc Vallée filmou para Clube de Compras Dallas e Livre, têm por objetivo causar desconforto, e esse tipo de cena está entre os mais difíceis de criar.

Em entrevistas individuais por telefone, esses profissionais do cinema discutiram um dos aspectos mais estranhos de seu trabalho, a logística das cenas de sexo.

Roteiro, ensaio e coreografia? Ou só deixar a câmera rodar?

Treem: Há uma diferença entre a maneira pela qual cenas de sexo são escritas e interpretadas. Temos direções de cena detalhadas. Muita coisa muda no dia da rodagem da cena, porque elas são um momento vulnerável para os atores. Alguns atores diriam que elas os apanham do modo mais honesto.

Schumer: Acho que detalhei demais as cenas de sexo que escrevi. Havia meia página de instruções de cena muito específicas antes que eu dissesse minha primeira palavra na cena.

Apatow: Tiro fotos de todos os ângulos em que uma pessoa pode fazer sexo, mas no dia da filmagem tudo isso vai por água abaixo. Não há tantos lugares assim em que se possa posicionar as câmeras para essa atividade.

McGarvey: Fizemos ensaios para que os atores se sentissem confortáveis inicialmente, e para vermos de que maneira podíamos fotografar as cenas de sexo. Também era adequado que as primeiras cenas de sexo mostrassem algum desconforto entre eles. A câmera ficava mais longe. Na Sala Vermelha, quando as coisas esquentam um pouco, há menos coreografia. Às vezes usávamos uma câmera montada em uma armação de controle remoto, para que os atores não tivessem a presença de um operador debruçado sobre eles.

Lyne: Você tenta criar uma situação na qual existam possibilidades. Sempre achei que sexo improvisado era mais divertido que aquelas cenas de cama esculturais. Por isso, em Atração Fatal, na cena em que eles fazem sexo na pia, eu sabia que havia possibilidades de humor, porque havia pratos e copos lá. Se você não coloca algum humor, a plateia rirá de você e não com você, porque todo mundo fica nervoso ao assistir essas cenas.

Vallée: Não havia coreografia específica, mas existe um modo de ditar o tom. Equipe reduzida, iluminação restrita para que possamos movimentar a câmera em 360 graus - a intenção é essa, e aí é só deixar a cena rolar. [Em Livre], não havia um plano específico para que o cara apanhasse Reese [Witherspoon], a virasse de costas e a pegasse por trás, mas foi o que aconteceu na filmagem. E [em Clube de Compras Dallas], com Matthew [McConaughey], há uma cena de ménage à trois, com duas mulheres no trailer em que ele vive, enquanto o amigo assiste, e ele estava muito inspirado.

Você pede nudez, e depois se preocupa em ter de cobri-la mais tarde?

Lyne: Essa é a melhor maneira de trabalhar. [Em Atração Fatal], sempre me lembro de que Michael Douglas estava tentando carregá-la para a cama, mas não conseguia terminar de tirar as calças, e ria histericamente. Ele estava nu - bem, só de camisa. Percebemos na edição que havia literalmente um quadro no qual seus testículos eram visíveis. Não havia como cortar - é uma imagem muito, muito breve. [Risos.] Espero que Michael me perdoe por contar essa história.

Treem: Na nossa série, temos atores cuja relação com a nudez varia muito; as pessoas se dispõem a mostrar certas coisas mas não outras, e respeitamos essas decisões. Temos de criar cenas de sexo que façam parecer que não estávamos tentando cobrir determinadas porções de um corpo, mesmo que estivéssemos. E - isso foi uma descoberta para nós - às vezes as cenas de sexo mais fortes são filmadas em close e mostram só o rosto dos atores.

McGarvey: Nós protegemos os atores. Jamie [Dornan] usou uma capa sobre o pênis. Dakota [Johnson] tinha uma proteção que cobria sua área púbica e envolvia seu corpo. Vivemos a curiosa situação de ter de acrescentar pelos púbicos na pós-produção. Não digo que isso tenha sido um dos pontos altos de minha carreira, mas certamente foi um dos momentos mais surreais. Usamos uma dublê de bunda para Dakota. Tive o prazer de selecionar um traseiro não tatuado - momento surreal número dois.

Schumer: Sou uma pessoa sem muitos limites, o que aliás estou tentando mudar. Na nossa casa, nudez nunca foi grande preocupação, e por isso não era problema para mim. A questão era a equipe. Nas cenas de sexo engraçadas, eu não ligava, mas nas que eram mais sexuais de verdade, é como se aquelas pessoas estivessem me vendo muito vulnerável. Frank, o operador do microfone, certamente ia pensar que “opa, é assim que a Amy faz quando está realmente a fim”. Entre cada tomada, eu gritava “mas que vergonha!”

Cenas de sexo significam equipe reduzida. Mas a que distância as câmeras são posicionadas, e quantas tomadas vocês rodam?

McGarvey: Sempre filmamos cenas de sexo com duas câmeras, para evitar a necessidades de tomadas numerosas. Eu já tinha feito cenas de sexo com mais abandono, por exemplo em Precisamos Falar sobre Kevin. Quando fiz aquela cena com Tilda Swinton e John C. Reilly, com uma [câmera] 5D, estava posicionado literalmente embaixo das cobertas com eles.

Lyne: [Em Proposta Indecente], a cena com Woody Harrelson e Demi Moore, lembro-me de ter filmado em zoom, para poder aproximar a imagem e registrar detalhes sem ter de parar, e depois afastar a câmera e pegar uma imagem mais aberta. Parar os atores é um erro. Usualmente elas são rápidas, cenas de amor como aquela, porque a resistência dos atores têm limite. Mesmo que seja só o caso de beijar alguém, não se pode manter um beijo para sempre.

Os atores precisam estar excitados?

Vallée: Nunca vi um ator com uma ereção, em todos os filmes com cenas de sexo em que trabalhei, mas isso não significa que eu nunca tenha visto um cara excitado. O trabalho é muito técnico, mas somos todos humanos, e eles estão nus, e tocando um ao outro.

Lyne: A cena não funcionaria se não estivessem. Obviamente não está acontecendo penetração literal, mas os dois estão excitados; precisam estar - ou a cena seria horrível.

Atores expressam preocupação quanto aos seus corpos?

Lyne: Sim, tive [um ator preocupado com o tamanho de seu membro] - e sem a menor razão para isso. Mas isso mostra o quanto eles podem ficar paranoicos. Tive de dizer que 'ei, você é ótimo, você é grande'.

Vallée: Aconteceu no meu primeiro longa. A atriz principal tinha de fazer uma cena de sexo, e acho que ela tinha 35 anos, naquela altura. Ela queria conversar sério sobre os ângulos de filmagem, e não queria que eu a mostrasse por trás; de lado tudo bem, mas não os seus seios quando ela estivesse deitada. É compreensível.

Schumer: Eu certamente perguntei para minha irmã [uma das produtoras do filme] se eu estava bonita. Eles querem que você esteja bonita, e não vão dizer algo como 'oba, uma tomada realista de celulite'. Antes da cena, me preocupo com minha aparência, mas depois que as câmeras estão rodando, isso é a última coisa que me preocupa. Mas certamente deixei de lado minha tradição de comer tacos toda terça-feira.

Silêncio no estúdio - sim ou não?

Vallée: Com os atores, quando eles estão lá fazendo sexo, eu me mando calar a boca, mesmo que tenha vontade de dizer alguma coisa.

Lyne: O que eu tenho horror é de ver aquelas pobres almas em completo silêncio e sem saber se estão parecendo bem. Por isso, sempre me pronuncio, como se eu estivesse transando com eles: 'Isso foi bom. Façam de novo'. Depois é preciso cortar minha voz.

McGarvey: Joe Wright [o diretor] acredita muito em música como recurso para colocar os atores no clima. Ela ajuda a integrar os movimentos dos atores e das câmeras, porque é como uma dança. Em Desejo e Reparação, havia uma cena na biblioteca entre o personagem de James McAvoy e o de Keira Knightley, e filmamos ao som de Come to Me, de Mark Lanegan e PJ Harvey, uma canção muito lânguida e sexy, e rodamos com a câmera na mão.

Você se sente desconfortável com alguma dessas cenas?

Treem: Uma das cenas de sexo do episódio quatro - o personagem de Alison não consegue [ter um orgasmo]. Ela está de luto, perdeu um filho, tem desejos sexuais mas não pode desfrutar deles; até que consegue. Chegar a esse ponto foi um desafio. Fiquei interpretando as cenas de sexo para Jeff Reiner [o diretor do episódio]. Fiquei lá, fingindo um orgasmo, com a equipe toda me olhando, até ele por fim dizer 'tá bom, entendi'.

Vallée: Fico excitado, mas não sexualmente. Excitado como cineasta.

Apatow: Sou muito tímido. Quando fizemos O Virgem de 40 Anos, havia uma cena de speed dating, e a piada era que os seios da mulher pulam para fora do vestido. Eu mal tinha filmado metade da coisa e já estava dizendo que podíamos parar, já tínhamos o necessário.

Schumer: [As cenas] estão lá para servir à história; não são gratuitas. Se você quer saber se eu preferiria uma cena de diálogo com alguém em um restaurante, em lugar de com o cara cutucando minha coxa - sim, preferiria o restaurante, e pediria uma torta de coco. [Mas] estou feliz por termos feito as cenas.



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