Tony Ramos sobre título de bom moço: “Se me pedir 200 palavrões,te dou 220”

No ano em que completa 50 anos de carreira, o ator fala sobre o filme “Getúlio”, que estreou em maio, e do remake da novela “O Rebu”

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Amável, educado, dono de bons princípios. Tony Ramos conquistou o público brasileiro não só pelo vigor e talento que empresta a seus personagens como também pela conduta irrepreensível fora das telas, o que fez dele uma espécie de símbolo do bom mocismo nacional. Apesar da imagem positiva, o ator de 65 anos rejeita o título. ?Não sou arauto de nada, nem meu casamento é exemplo, parem com isso! Sou feliz com minha mulher e não vou pedir desculpas por isso?, diz o ator sobre Lidiane, 63, com quem está casado há 43 anos. Os dois são pais da advogada Andréa, 40, e do médico Rodrigo, 42, que lhes deu os netos, Henrique, 12, e Gabriela, 8.

No ano em que completa 50 anos de carreira, Tony se prepara para atuar na novela O Rebu, que deve ir ao ar depois da Copa, em julho, na TV Globo, e está n elenco do filme Getúlio, sobre os últimos dias do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). A seguir, o ator faz um balanço de seu trabalho, conta como aproveita os momentos ao lado da família e rebate as críticas que recebeu depois que se tornou garoto-propaganda da marca de carne Friboi. ?Temos que ser tolerantes. Não me venham com ditadura?, diz.

Getúlio mostra o povo nas ruas clamando pela queda de Getúlio Vargas, uma época movimentada politicamente. Como foi filmar no Palácio do Catete, em meio às manifestações ocorridas no Rio de Janeiro, no ano passado?

Tony Ramos: Foi empolgante! E essa empolgação estava no texto. No filme, os generais perguntam se Getúlio queria que o exército pusesse os tanques na rua contra o povo. E ele dizia que o povo sabia quando estava insatisfeito. O triste é que as passeatas de hoje foram se modificando com alguns aproveitadores. Você conversava com o povo mais simples e eles diziam que não compactuavam com aquela destruição.

Que balanço faz dos seus 50 anos de carreira?

TR: O balanço é o de um homem satisfeito com a profissão, consciente do que fez, de que buscou o sucesso. Tenho prazer em dizer que nunca caminhei com olhos de terceiros. Nunca tive inveja, nunca quis aquilo que não era para mim. Sou um homem consciente na minha profissão e das responsabilidades sociais que tenho. Mas não me vigio, bebo meus vinhos, meu uísque. Engordo, emagreço, sou um cidadão do mundo.

Talvez por isso as pessoas o vejam como uma pessoa politicamente correta. Isso incomoda?

TR: De forma nenhuma. Não ligo para isso, vou continuar assim. Poderia responder com um palavrão: andei pra isso!

Você fala palavrão?

TR: Claro! Com meus amigos todos, mas não faço isso publicamente, não acho que tenho o direito. Não sou um santinho. Se roubarem contra o meu São Paulo, xingo a mãe do juiz, fico doido, berro. Se você me pedir 200 palavrões, te dou 220. Só que elegância significa você entender que quem te lê e quem te assiste é um público heterogêneo e é preciso respeitá-lo.

Essas opiniões todas reforçam você como um arauto do bom mocismo...

TR: Não sou arauto de nada. Só defendo a elegância, a delicadeza, a ética e a estética. Meu casamento não é exemplo de nada, parem com isso! Sou feliz com minha mulher e não vou pedir desculpas por isso. Mas uma pessoa pode se casar oito vezes na vida e ser feliz na oitava vez. E não importa a opção sexual, cada um tem o direito de ser feliz.

É a favor do casamento gay, então?

TR: É claro, deixem as pessoas serem felizes! O casamento gay na verdade é a possibilidade de duas pessoas do mesmo sexo construírem uma vida do ponto de vista legal, cartorial. O papa Francisco já disse claramente que não pode julgar ninguém nem dizer o que é certo. Conheço muito ateu que é melhor que muito carola de igreja na sua postura e no caráter.

Por falar em questões familiares, como é o Tony Ramos avô?

TR: O avô que não curte os netos tem problema, tem que se tratar. Curto na medida do possível, às vezes, passo duas semanas sem vê-los, e morando na mesma cidade. Gosto de brincar, fazer cachorro-quente para eles, um molho de tomate feito às pressas, no micro-ondas, nada de especial. E gosto de desfrutar do papo. Eles ficam com máquinas na mão, é bonitinho, mas é preciso ter um tempo sem isso. Hora de almoço na minha casa ninguém vai para a mesa com celular na mão, nem na do meu filho, muito menos em restaurante. É a hora de a família se reunir. Só falta o avô se comunicar por WhatsApp!

Você é ligado nas novas tecnologias?

TR: Não tenho Facebook, Twitter, nada, mas reconheço essas mídias. Não sou viciado em internet. Checo e-mails o tempo todo, mas isso é trabalho.

Na TV, você se prepara para fazer O Rebu, novela de apenas 38 capítulos. É a favor dessa estrutura mais enxuta?

TR: Isso tudo é relativo. Nesses 50 anos de profissão, fiz mais de 40 novelas. Perguntam se eu aguento. Não é que eu aguente, eu gosto de fazer! Gosto da obra aberta, e a novela brasileira é de uma grande comunicação e cumplicidade popular, não importa a classe social. Tem umas que são melhores do que outras, outras não vão tão bem, isso é parte do jogo. Todo mundo fala em crise da novela, não é de agora.

Você assiste a novelas?

TR: Claro. As pessoas falam que a novela está muito comprida, aí, de repente, acontece uma Avenida Brasil. Ninguém falou que era longa demais. Estive viajando com a Lidiane no começo do ano para os Emirados Árabes, Austrália, Nova Zelândia e perdi as três primeira semanas de Em Família. Vejo e adoro. É uma novela que tem diálogos ótimos, lindos. Estamos vivendo tempos de gerações muito clipadas, é uma ansiedade, tudo tem que ser corrido. A vida não é um clipe.

Você falou da sua relação com o seu público. Como foi a reação dele quando fez a propaganda da Friboi?

TR: A mais popular, normal e simpática possível. As pessoas talvez não lembrem ou não saibam, mas tudo começa com uma matéria do Fantástico de cerca de 12 minutos, importantíssima, que denunciava o abate clandestino no país, em várias regiões. Quando isso aconteceu, várias empresas de abate de gado se preocuparam em mostrar que nem tudo é assim. A Friboi saiu na frente, me procurou, achei pertinente. Sou carnívoro, como churrasco! Achei importante avisar ao povo que prestasse atenção ao selo da Anvisa.

Não teve medo de desagradar aos vegetarianos?

TR: Negativo. Temos que ser tolerantes. Fui criado assim. Minha avó, mãe da minha mãe, vó Dodô, me criou assim, com bife de fígado para dar energia. Ia para a escola com sanduíche de fígado. Eu respeito toda e qualquer defesa de uma ideia, mas não queiram impor uma ideia de cima para baixo, na porrada. Tenho três cachorros e, se eu vir alguém chutando um animal, vou chamar a polícia. Pergunte se quero que matem foca e baleia, como fazem por aí... Ninguém pergunta. Sou culturalmente resultado de um meio. Podem dizer: ?Mas mude!?. Mas por quê? Não me venham com ditadura. Estou comendo comida confinada.

Acompanhou o caso do Roberto Carlos, que foi criticado por também fazer propaganda da marca depois de anos sendo vegetariano?

TR: O Roberto come carne há mais de cinco anos. Aquilo foi uma intolerância com ele, uma indelicadeza. Ele é criador de boi há anos. E não venham dizer que quem não come carne tem mais caráter do que eu. Esse maniqueísmo comigo não cola.



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