Edilson Carvalho, o homem que criou o turismo no Piauí

Ele comprovou que o Piauí era mais belo do que a maioria dos lugares que visitava

O empresário Edilson Carvalho foi o homem que criou o turismo no Piauí como presidente da Empresa Piauiense de Turismo (Piemtur), no período de 1991 a 1993. Ele foi escolhido na administração do ex-governador Freitas Neto, não porque era especialista em turismo, mas porque era o maior turista do Piauí. 

Ele era o maior vendedor, proporcionalmente, dos veículos da General Motors (GM) do Brasil e ganhava, como prêmios, viagens de 30 dias para todo o mundo, conheceu todos os continentes e chegou a uma conclusão: a de que o Piauí era mais belo do que a maioria dos lugares que visitava, mas eram mais famosos e mais vendidos, mesmo que a paisagem fosse só uma mangueira, como conheceu na República Dominicana.

Edilson construiu toda infraestrutura turística

 Ao assumir a Piemtur, Edilson Carvalho construiu toda a infraestrutura turística que temos hoje e ao entregar o cargo para o outro governo deu o sábio diagnóstico de que o Governo do Estado já tinha executado o que deveria fazer para alavancar o setor do turismo e, a partir daquele momento, deveria ser operado e explorado pela iniciativa privada.

 “Os prêmios da GM eram grandes viagens de 30 dias pelo mundo todo. Então, eu conhecia os cinco continentes, viajei muito e vi, por aí, que tinha coisas que nem se comparavam com o que tínhamos aqui, mas era muito bem vendido e frequentado. Vi que nós tínhamos um potencial adormecido, totalmente. Não tínhamos nem o trade turístico”, lembra Edilson Carvalho, dando partida para a criação do turismo no Piauí.



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““Vi que nós tínhamos um potencial adormecido, totalmente. Não tínhamos nem o trade turístico”"
Edilson Carvalho

Meio Norte - Que contribuição o senhor deu para o Piauí ser mais cosmopolita e integrado?

Edilson Carvalho – Eu trabalhei em muitos lugares. Em meu trabalho, eu fui evoluindo com o Piauí, me orgulho de ser piauiense. Eu acho que dei uma contribuição muito grande, mas eu estou deixando uma contribuição ainda maior, a minha prole, a minha família vai ainda fazer muito pelo Piauí.

Meio Norte - Viam com descrença o seu otimismo em relação à viabilidade do turismo no Piauí?

Edilson Carvalho – Não pensávamos nisso, trabalhávamos. Ao mesmo tempo, nós fizemos a Rota Histórica, que era rumo à Serra da Capivara. Por graças, Deus nos deu de presente a arqueóloga Niède Guidon, a quem eu só falo bem porque ela se dedicou, deu a vida pelo Piauí e por aquele trabalho da Fundação Museu do Homem Americano. Nós fizemos uma rota de Teresina ao Parque Nacional Serra da Capivara. Restaurei uma pousada que tinha em Amarante, que era uma coisa linda, mas abandonada. Nós restauramos e o Governo do Estado do Piauí se instalou lá um dia nessa pousada, no dia de sua inauguração. De lá, nós saíamos para Oeiras. Restauramos o Cine-Teatro, que estava no chão, arriado, recuperamos todinho e reinauguramos com um concerto das Meninas dos Violinos de Oeiras. Fizemos em Floriano um Terminal Turístico muito lindo, onde tinha agência da Piemtur, uma agência de viagem, lojas de artesanato, era uma parada, mas não existia, no Piauí, um ônibus com ar-condicionado que pudéssemos levar as operadoras e operadores de turismo, em um funtour para divulgar o nosso potencial turístico. A Piemtur comprou um ônibus com ar-condicionado para fazer esse trabalho. Nós tínhamos uma rota, saía de Teresina, tomávamos café em Amarante, íamos para Oeiras, onde restauramos um Hotel Rimo, que existia, e no Cine-Teatro teve uma apresentação para os turistas. De lá, íamos para São Raimundo Nonato, onde não existia um hotel, onde terminamos um hotel iniciado por Jesualdo Cavalcanti, em 90 dias, o Hotel da Serra da Capivara, lindo, com 40 apartamentos, todo decorado, e entregamos, em comodato, para a Fundação do Homem Americano. Concluímos o Museu do Homem Americano, o primeiro foi concluído em nossa gestão e doamos uma kombi para fazer o translado do museu para o Hotel Serra da Capivara. Em Uruçuí, que estava se transformando na capital da soja, também fizemos um hotel maravilhoso de 40 apartamentos. Infelizmente, soube que está desativado e lá funciona um colégio.

Meio Norte - Quais foram as atividades e ações que o senhor fez como presidente da Empresa Piauiense de Turismo?

Edilson Carvalho – No governo de Freitas Neto, nós não cuidamos apenas de Parnaíba, onde nós fizemos o Porto das Barcas, inauguramos o Porto das Barcas, fizemos o auditório Freitas Neto, construímos a sede da Associação Comercial, levamos muitos artistas daqui para o nosso litoral, nosso Delta do Parnaíba, que era totalmente desconhecido. Eu conheço os três deltas de mar aberto do mundo, o do rio Mekong, na Ásia, do rio Nilo, na África, e o nosso do Piauí. O nosso é o melhor delta de mar aberto, é o maior e muito lindo, mas ninguém podia ir lá porque não tinha meios. O Governo do Estado tinha um barco que servia para farras governamentais, que era o banco Antares, famoso, do governo de Alberto Silva. Esse barco estava lá encostado, eu mandei restaurar e mandei fazer uma licitação e entregamos para uma agência de viagem de Teresina, que era a Ana Maria Ferreira. Ela passou a explorar, levando não só os turistas, mas os funcionários governamentais, os turistas que queriam conhecer o Delta do Parnaíba. O barco era excelente, inclusive com refeições a bordo. Aí o Delta do Parnaíba começou a ser conhecido.


Meio Norte - Quando o senhor percebeu que o turismo do Piauí era viável?

Edilson Carvalho – Eu nunca tinha trabalhado com turismo, mas eu era, na época, o maior turista do Piauí, em função de prêmios que eu ganhei, dez anos seguidos, por ter ficado em primeiro lugar do Brasil, em crescimento percentual da GM. Os prêmios eram grandes viagens de 30 dias pelo mundo todo. Então, eu conhecia os cinco continentes, viajei muito e vi, por aí, que tinha coisas que nem se comparavam com o que tínhamos aqui, mas era muito bem vendido e frequentado. Vi que nós tínhamos um potencial adormecido, totalmente. Não tínhamos nem o trade turístico. O presidente da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) nunca tinha vindo aqui. O primeiro que veio aqui, o Ronaldo Monte Rosa, que eu trouxe. Ele também ficou encantado, deslumbrado e passou a botar as belezas do Piauí nas divulgações das belezas do Brasil. Foi um verdadeiro boom, realmente. Nós passamos a ter turistas, passamos a ter hotéis, melhoramos todas as praias, nós fizemos a avenida Beira Mar e não esquecemos o turismo interno. Freitas Neto sempre teve esse cuidado. Nós fizemos o Terminal Turístico do Farofeiro da Praia da Atalaia, que tinha abrigo para todos os motoristas, que iam e voltavam no mesmo dia e não tinham onde ficar. Fizemos excelentes pousadas para eles, baterias de banheiros para os passageiros tomarem banho antes de entrar no ônibus em seu retorno. Fizemos todo um aparato para que não acabasse o turismo que existia antigamente, que era o turismo do farofeiro do interior e da capital, que podia se misturar com todos porque a praia é o divertimento mais democrático do mundo. Estavam ali pobres, ricos, farofeiros e turistas internacionais, misturados sem nenhum problema. E, daí, a coisa foi muito boa, aí o Guilherme entrou e mudou.


Meio Norte - Como o senhor resolveu esse desafio?

Edilson Carvalho – Chegamos aqui, fomos falar com o governador, com o secretário Jorge Chaib, que era o secretário estadual de Administração. Ele mandou uma mensagem para a Assembleia Legislativa propondo que qualquer empresário piauiense que quisesse investir na rede hoteleira no litoral do Piauí, o Estado participaria com 40% do total dos investimentos cash. O projeto foi aprovado, por unanimidade, pela Assembleia Legislativa. Nós anunciamos o incentivo, e 90 dias depois, nós tínhamos o Rio Poti Hotel, em Luís Correia. Era do Edson Tajra Melo. Não foi só ele, com 120 dias, nós tínhamos o Rio Poti, com 40 apartamentos e 120 leitos; nós tínhamos o Hotel Amarração, do Mirócles Veras, também com 40 apartamentos e 80 leitos, e o Barramares, que juntou 16 casas que estavam prontas, fez terminal, piscinas e recepção, criando assim o Hotel Barramares, com quatro leitos para cada chalé, ficando em 60 leitos. O certo é que 120 dias depois, eu voltei para Brasília para conversar com Canhedo, já com 350 leitos disponíveis para os passageiros. Ele disse: “você já não volta mais em avião de carreira, você vai em meu jatinho, com meu secretário, para tomar todas as providências para o primeiro voo”. O rapaz veio, chegamos no aeroporto, estava tudo beleza, mas fomos surpreendidos. A iluminação do Aeroporto de Parnaíba tinha sido levada para o Aeroporto de Juazeiro, no Ceará. Não tinha iluminação. Freitas Neto, imediatamente, autorizou que eu comprasse os equipamentos e viabilizasse o aeroporto de qualquer maneira. Eu fui para Recife (PE) e encontrei uma empresa especialista nisso, indicada por um coronel da Aeronáutica parnaibano, que estava comandando a Aeronáutica regional, no Nordeste. Ele não só se encarregou da iluminação como também de homologar o aeroporto. Em duas semanas, nós homologamos o aeroporto. Homologado, nós mandamos para Wagner Canhedo a informação e ele disse: “na próxima semana, Edilson, o avião chega em Teresina sem nenhum passageiro e você está autorizado a convidar 200 passageiros para o voo inaugural”. Foi a maior emoção que senti em minha vida foi chegar em um Boeing 727 da Vasp. O Aeroporto de Parnaíba estava lotado, parecia que quem estava chegando era o papa. Eu não conseguia sair do avião. Só saí porque Leal Júnior, que estava entre os passageiros como deputado estadual, me deu um tranquilizante qualquer para que eu pudesse descer. Realmente uma emoção muito grande e nós passamos a ter voos dia sim, dia não, da Vasp. Um dia, ele vinha Brasília, Teresina, Parnaíba e Fortaleza e, no outro dia, fazia o voo Fortaleza, Parnaíba, São Luís e Brasília. Logo depois, fomos procurados pela Taba, com um Fokker 100, para fazer voo diário para Belém, São Luís, Parnaíba, Fortaleza e Ilhéus e, no dia seguinte, voltava de Ilhéus, Fortaleza, Parnaíba, São Luís e Belém.


Meio Norte - Quando o senhor começou a trabalhar com turismo?

Edilson Carvalho – Quando o então governador Freitas Neto saiu do Governo do Estado e assumiu Guilherme Melo, nós produzimos uma revista, “Um Salto para o Futuro”, onde eu fiz uma prestação de contas da gestão Freitas Neto, de 1991 a 1993, na área de turismo, onde a gente coloca que deixa de forma irreversível o turismo no Piauí, uma vez que quando recebemos não tinha nada. Existiam as atrações, mas trabalho nesse sentido era zero, era quase zero, porque antes de mim o ex-governador Alberto Silva tentou fazer alguma coisa, mas não foi para frente. Ele iniciou a construção de um grande hotel, um hotel cinco estrelas, um resort, em Luís Correia, mas quando assumimos tinha menos da metade construído. Conseguimos aprovação de recursos na Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Nós íamos reiniciar, mas era o fim do governo e não deu tempo. O governo seguinte simplesmente pegou esse hotel e dividiu. Deu um pedaço para os funcionários da Polícia Federal, outro para a Associação Industrial, um pedaço para o Emater, outro pedaço a Federação das Indústrias e o hotel foi repartido e dividido. Então não tinha nenhum hotel. Para pensar em turismo, nós tínhamos de ter infraestrutura não só das praias, mas teríamos que ter infraestrutura de estradas e, sobretudo, o transporte aéreo para lá. O Aeroporto de Parnaíba estava, na época, há 20 anos desativado. Era um aeroporto igual ao Aeroporto de Teresina, mas com 200 metros a mais. A primeira preocupação do governo foi restaurarmos e botar para funcionar o aeroporto, com voos regulares, para levar o turismo. O turista não vai para onde não tem transporte e não tem hotéis. Então, nós fomos atrás, com ajuda do então senador Hugo Napoleão, que nos chamou, junto com minha mulher, Dourila Carvalho, para um jantar na casa dele com o presidente da Vasp, Vagner Canhedo, para que colocasse um voo para Parnaíba. Ele perguntou “como?” Já que a pista estava interditada bem no meio. Eu disse que estávamos fazendo e dentro de 13 dias a pista estaria pronta. Ele disse que se um avião dele pousasse no Aeroporto de Parnaíba não teria onde hospedar nem a tripulação, nem os passageiros porque o litoral do Piauí não tinha hotéis. Ele falou que no dia que a gente tivesse uma capacidade hoteleira de 200 leitos, no dia seguinte colocaria um avião para o litoral piauiense, era um compromisso dele com o Piauí. Eu disse que ia aceitar o desafio.


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