Djan Moreira: "Somos o Procon das crianças"

Conselheiro tutelar já foi menino de rua e conta a experiência que viveu na pele.

Djan Moreira nasceu no dia 22 de março de 1983. Em 36 anos, é conselheiro tutelar há seis. Quando garoto, chegou a ser menino de rua. Hoje ele luta para que as violações de direitos contra crianças e adolescentes, fato que vivenciou na prática, possam ser minimizadas, sem a existência das mazelas do abandono e da negligência.

Quando criança, Djan era filho de uma família de cinco crianças menores. Chegou a pedir esmola na rua para conseguir comprar um lanche. Paralelo a isso, ajudava a carregar sacos de produtos na Ceasa em troca de legumes da xepa. Uma vida marcada por adversidades que fizeram com que Djan criasse força para ir para frente, a partir do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.


Sua missão é fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente

Por vezes apontado como um “conselheiro midiático”, Djan conta que para muitos isso é algo pejorativo. Mas para ele é um compromisso social para publicizar a importância do cuidado à criança e o adolescente. Sua missão é fazer com que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja cumprido.

Embora viva para defender direitos, Djan lamenta a situação do irmão gêmeo, Djavan, que permanece morando na rua em razão do alcoolismo. Para NOSSA GENTE, o conselheiro tutelar descortina a própria vida em um relato repleto de sinceridade.



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““Com cinco anos eu deveria ser tratado como sujeito de direito. Ir para a rua pedir, trabalhar pesado criança, disputar espaço com vários fatores, você se torna a violação em pessoa”"
Djan Moreira

JMN: Você é considerado um conselheiro midiático. Por que é importante estar próximo da mídia?

DM: Vocês [aponta para o repórter e a repórter fotográfica] são nossos parceiros. As pessoas precisam conhecer nosso trabalho, tem gente que nem sabe o que fazemos. Precisamos do respaldo e confiança da mídia. Alguns colegas veem isso de forma pejorativamente, mas para mim é algo positivo.

JMN: Quais as maiores denúncias que chegam no conselho?

DM: Negligência, que culmina com o abandono. São muitas. Somos praticamente o Procon das crianças.

JMN: A droga ainda é a maior vilã?

DM: Seja a lícita ou ilícita. Ela acaba. É a porta de entrada. Até para a prostituição infantil, que por vezes, é até por um refrigerante. Eu mesmo sou gêmeo, e meu irmão, Djavan, não se encontrou. O problema dele é o alcoolismo e não conseguimos resgatá-lo. Ele continua na rua, nesse mundo, aqui mesmo em Teresina. Já tentamos inseri-lo em casas terapêuticas, mas o vício fala mais alto. A gente consegue resolver casos de crianças e adolescentes e pensamos: por que não consigo em minha própria família? Infelizmente adultos terminam sendo mais difíceis de lidar.

JMN: Como menino de rua, o senhor via muitas violações de direito?

DM: Na época eu não tinha esse pensamento crítico, mas não era como é hoje. Fui vítima, claro. Embora eu tenha nascido em 83, a constituição é de 88. Com cinco anos eu deveria ser tratado como sujeito de direito. Ir para a rua pedir, trabalhar pesado criança, disputar espaço com vários fatores, você se torna a violação em pessoa. Dividi espaço com drogas, prostituição… Meu irmão mais velho, que foi tipo um pai para a gente, catava papelão. Estávamos à margem. Morei muito tempo na Vila Bandeirante e vi muitas pessoas se perderem para a droga.

JMN: O senhor foi menino de rua?

DM: Sim. Eu fui criado apenas pela minha mãe, que sustentava cinco irmãos. Ela teve que dar alguns. Nós tínhamos que pedir, ir para rua. Embora ela nunca tivesse mandado. Eu ia para a Ceasa carregar sacolas pesadas. A gente ganhava produtos da “xepa”. Eu costumava pedir perto da Praça Pedro II, ali onde era o Seu Cornélio. Eu queria comer um pastel e não tinha dinheiro, então pedia. Quando não conseguia, pegava do lixo. Cansei de capinar terreno por uma massa de milho. Embora eu não dormisse na rua, meu espaço de vivência era essa.

JMN: Você se sente um profissional completo? Você parece ser apaixonado pela profissão.

DM: Para mim é ter a oportunidade de fazer algo pelas crianças. É uma retribuição. Com 12 anos, fui do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Então estou aqui desde os 30 anos, retribuindo o que recebi lá atrás.

Jornal Meio Norte: Qual o papel do conselheiro tutelar?

Djan Moreira: Tem que fazer valer o Estatuto da Criança e Adolescente. É preciso garantir direitos para essas pessoas. Por mais que não seja fácil. Quem procura o conselho deve receber uma resposta imediata.

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