Dr. Carlos Henrique Nery: Pesquisa a favor da sociedade

Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Piauí e chefe do Departamento de Medicina Comunitária da instituição desde 2015.

O médico Carlos Henrique Costa Nery, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, nasceu em Teresina, em 1951. É formado pela Universidade de Brasília, onde fez a Residência Médica em Clínica Médica e o mestrado em Medicina Tropical. Concluiu o doutorado em Saúde Pública Tropical, na Harvard University, em 1997. Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Piauí e chefe do Departamento de Medicina Comunitária da instituição desde 2015.

Além disso, é médico do Instituto de Medicina Tropical Natan Portella, e coordena o Laboratório de Pesquisas em Leishmanioses. Foi coordenador executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia, da qual é coordenador adjunto atualmente. Publicou mais de 70 artigos em periódicos especializados, quase 200 trabalhos em anais de eventos e publicou dois livros, tendo escrito oito capítulos.

Além da medicina, Carlos Henrique Nery tem paixão por poesia

Orientou mais de uma dezena de teses de doutorado, além de ter orientado dissertações de mestrado nas áreas de Medicina, Parasitologia e Saúde Coletiva. O médico também já recebeu a comenda Mérito Renascença do Governo do Estado do Piauí, o prêmio Mérito pelo Incentivo ao Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação no Estado do Piauí,  

Dr. Carlos Henrique Costa Nery foi também um dos criadores da Rede de Investigação em Saúde Tropical, dos países de língua portuguesa e tem participado de numerosas bancas de tese de doutoramento em diversos países.

Em entrevista ao Jornal Meio Norte, o médico contou como foi o início da profissão e quando surgiu o interesse pela área da pesquisa científica, assim como mostrou um lado pouco divulgado: o de poeta. O piauiense ilustra declamou um dos poemas que escreveu recentemente e retrata o poder da poesia.



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““Nós temos os mais refinados equipamentos que nos possibilitam fazer pesquisa de ponte. Nós temos aqui, por exemplo, sequenciado de genoma inteiro de mais de 150 isolados de Leishmania” "
Carlos Henrique Nery

JMN: Qual o último poema que o senhor escreveu?

CHN: A poesia está lá e aqui e além. Em tudo que existe no espaço. Nos pedacinhos do espaço. Nas beiras do espaço infinito. No que está fora do mundo. E no que está antes do tempo. E depois do tempo. E do outro lado de tudo, Em tudo o que se sabe. E no que não se pode saber. A poesia está em Deus, Estava antes de Deus. E estará depois do Senhor. E quando. Ele decidir pelo fim, Pelo fim do fim e do fim. De tudo o que ainda restar. Do que se chama existência, A poesia ainda aqui estará.

JMN: O que costuma fazer em suas horas livres?

CNH: Eu sou um trabalhador incansável, nos finais de semana, geralmente estou trabalhando nas redações dos trabalhos científicos que não deu para fazer durante a semana, mas gosto muito de escrever. esse é um hobby que tenho, não só artigo científico, mas literatura e poemas. Agora vou iniciar uma atividade empresarial no campo, porque gosto muito de fazenda e estou em fase de aquisição de uma propriedade e iniciar essa atividade.


JMN: Aos 68 anos, o senhor pensa em parar?

CHN: Hoje tenho muitos alunos de doutorado para orientar e não posso parar ainda, não tenho esse horizonte de parar, além dissos enquanto eu tiver saúde física e mental eu tenho que continuar servindo a sociedade. Se Deus me permitir, eu ainda tenho muita atividade científica, médica e humanitárias, eu quero participar da promoção do bem-estar de todos e fazendo o que sei fazer, que é ciência e medicina e também não pretendo parar meu escritório.

JMN: O que realmente almeja ao desenvolver essa atividade?

CHN: Nesse momento nós estamos criando a instituição Centro de Investigação de Doenças Tropicais e Emergências Negligenciados, que possibilitará colocar essa instituição em um patamar acima, de modo que a gente tenha um olhar vigilante para as doenças negligenciadas e emergentes que possa iluminar os governantes oferecendo políticas públicas baseadas em evidência científica.


JMN: Quais pesquisas estão sendo desenvolvidas no Laboratório de Pesquisa?

CHN: Nós fazemos aqui com o nosso objeto de pesquisa, que é o calazar, assim como o HIV/Aids, nós temos os mais refinados equipamentos que nos possibilitam fazer pesquisa de ponte. Nós temos aqui, por exemplo, sequenciado de genoma inteiro de mais de 150 isolados de Leishmania, que é o organismo que causa o calazar, então nós estamos sabendo código por código para poder identificar os fatores de virulência, que são estruturas que as bactérias utilizam para driblar o sistema de defesa do hospedeiro e causar uma infecção, então a gente trabalha isso para que na tentativa de compreender esses fatores a gente possa fazer uma vacina para leishmaniose e muitas outras.

JMN: O que mais gosta na medicina?

CHN: Eu gosto muito de raciocínio clínico, esse segredo da esfinge das doenças, e você tem que descobrir quem é a esfinge inúmeras vezes ao longo do dia, então isso é fascinante. Quando cheguei ao Hospital Natan Portella, que é uma lição de medicina, fui montando laboratório de sala em sala. O primeiro laboratório, por exemplo, foi um engenheiro que fez a reforma, e assim fui ocupando espaço e finalmente consegui esse laboratório onde estamos agora no anexo do hospital.


JMN: Em que momento retorna ao Piauí?

CHN: Quando terminei o mestrado, surgiu uma oportunidade na Universidade Federal do Piauí e vim em condições relativamente precárias, mas como queria muito fazer pesquisa, eu tinha me formado para isso, pedi demissão a todos os meus empregos e voltei, comecei fazendo uma residência de medicina comunitária e nesse intervalo eu ia muito a Brasília e meu professor mentor me perguntou se eu tinha interesse em fazer doutorado em Havard, e aceitei aquela proposta. foi quando montei um projeto com base na epidemia de calazar que havia em Teresina entre os anos de 84 e 85. Foi nesse período que fiz a primeira publicação sobre epidemia urbana de calazar no mundo.


JMN: Por que decidiu seguir pelo ramo da pesquisa e infectologia?

CHN: Quando iniciei o curso tinha disciplinas do ciclo básico de ciências de uma forma geral e eu tinha um livro chamado “A célula viva”, que tinham as grandes descobertas da época, foi quando decidi seguir por esse caminho da pesquisa e sempre com muito ativismo político, ligado ainda à poesia e à arte, então encontrei um professor que fazia pesquisa e falei que queria segui-lo no laboratório, depois descobri outros professores que foram meus mentores e faziam medicina tropical, não era nem infectologia, porque não existia na época a especialidade, e comecei estudando Doença de Chagas, visitando a zona rural, tenho um quadro na minha sala em que me retrata aos 20 anos em cima de uma casa coletando barbeiros, e isso me deixa inteiramente fascinado. Quando comecei a fazer medicina clínica, que passei a estudar a linguagem das doenças, que ela diz quem ela é, aí o fascínio foi realmente completo.


Jornal Meio Norte: Como descobriu a vocação pela medicina?

Carlos Henrique Nery: A paixão pela medicina veio cedo, meu tio Antonio Carlos Costa era otorrino e quando eu era criança ele morava conosco e era um sujeito muito agradável e aquilo me criou uma espécie de fascínio, depois de algum tempo acabei esquecendo e queria fazer economia, mas acabei indo pro Rio de Janeiro, onde estudei no Colégio Santo Inácio, tive dificuldades porque os alunos eram muito avançados, mas consegui dá conta do recado. Quando chegou no final do primeiro semestre do ano que ia prestar vestibular eu tive algumas introspecções e veio à tona a história da medicina novamente, então decidi seguir para medicina e fui aprovado para Universidade de Brasília. Era um momento muito interessante da história do Brasil, em que nós estávamos no auge da repressão da ditadura militar de 1964 e tínhamos uma formação muito humanística, uma visão social muito forte e foram anos de muita luta e formação política, embora eu nunca tenha sido um líder estudantil, exercia uma certa liderança. Meu pai era deputado federal da época e eu tinha uma vida política cultural muito intensa naquela época.

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