Joaquim Vida é o arquivo vivo do Delta do Parnaíba

Joca é referência no litoral do Piauí

Nascido na região dos pequenos lençóis maranhenses, no município de Paulino Neves, Joaquim Vidal ou Joca, para os amigos, é uma referência no litoral do Piauí, Maranhão e Ceará, mas seu foco mesmo sempre foi o Delta do Parnaíba e todas as suas riquezas naturais com esportes de natureza. Vivendo entre as cidades de Teresina e Parnaíba desde a década de 1970, ele é um verdadeiro arquivo vivo do processo de implementação e incremento do turismo nessa área do litoral nordestino.


Joca tem paixão por esportes radicais

Desde muito jovem, Joca alimenta a paixão pelos esportes radicais, em especial off-road, natureza, aventura e viagens exploratórias como as várias que fez na área do Cânion do Rio Poti, expedições que ajudaram no mapeamento e proposta para criação de um parque estadual. Referência quando o assunto é turismo na região da Rota das Emoções que ele ajudou a sonhar, pensar e implementar, Joca não perde uma oportunidade de divulgar para o Brasil e o mundo as belezas naturais dessa região do Nordeste. Produtor de uma série de programas nacionais da Discovery Channel e de várias emissoras de televisão do Brasil e do exterior, além de uma série de documentários, no ano passado, ele recebeu um grupo de 11 jornalistas da Europa, em especial da Alemanha, Aústria e Suíça para apresentar o Delta do Parnaíba. Todos voltaram para o velho continente impressionados. Nesta entrevista, ele fala um pouco da importância e das belezas do Delta e da Rota das Emoções e como foi realizar mais um projeto em parceria com o jornalista André Pessoa.



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““Não precisamos de grandes estruturas que interfiram nessa paisagem natural. Precisamos, sim, de bons meios de transporte, bons meios de hospedagem”"
Joaquim Vidal

Jornal Meio Norte: Você pode falar um pouco da importância e relevância natural e turística do Delta do Parnaíba?

Joaquim Vidal: A região do Delta do Parnaíba recebeu no início da década de 1970 o selo de 3º Polo Turístico do Brasil e desde então vem tentando se firmar como tal, mas infelizmente, por falta dos investimentos necessários e até mesmo o descaso com o turismo isso ainda não aconteceu. O Delta é um verdadeiro mosaico de paisagens onde o visitante pode contemplar em um único passeio a beleza selvagem dos igarapés e manguezais; a aventura de um safári fluvial e a beleza da revoada dos guarás; as majestosas dunas de areias brancas e as melhores praias para banho do litoral brasileiro com uma temperatura ideal e uma plataforma continental plana que permite ao banhista adentrar no mar sem muito perigo. Aliado a tudo isso temos a cultura local com um artesanato rico e variado; temos a história vibrante do conjunto arquitetônico do Porto das Barcas e uma gastronomia das mais saborosas do Brasil. É isso que o turista quer ver, a natureza ainda quase no seu estado primitivo, principalmente os gringos, não precisamos de grandes estruturas que interfiram nessa paisagem natural. Precisamos sim de bons meios de transporte, bons meios de hospedagem, mas tudo em harmonia com o meio ambiente.


JMN: Como surgiu a ideia da Rota das Emoções?

Joaquim Vidal: A Rota das Emoções surgiu da necessidade do mercado em se conectar, devido a sua proximidade, os atrativos de Jericoacoara, no Ceará; Delta do Parnaíba, na divisa do Piauí com o Maranhão e Lençóis Maranhenses, no Maranhão. São três destinos singulares cada um com suas belezas e encantos. Então na segunda metade da década de 1990 com a explosão do movimento off-road no Brasil grupos de expedicionários se aventuravam a percorrer por trilhas esse roteiro – na época não havia estrada asfaltada – inclusive, nós do Jeep Club do Piauí fomos uns dos pioneiros a fazer essa aventura. Então, eventualmente, começou a surgir uma pequena demanda de turistas para conhecer esses três destinos em uma única viagem e com isso começaram a surgir algumas empresas especializadas nesse roteiro. Até que o SEBRAE, vendo nisso uma oportunidade real de negócio, decidiu investir na formatação de um roteiro integrado, foi aí que nasceu o consórcio que inicialmente se chamava CEPIMA – Ceará, Piauí e Maranhão (eu achava esse nome horrível) Então após muitas reuniões e acalorados debates com o trade turístico e representantes dos governos dos três estados, por sugestão do empresário Roberto Ferroli – italiano proprietário do Boa Vista Resort em Camocim – CE – e inciativa do Secretário de Turismo do Piauí, Sílvio Leite e sua equipe que criaram a logomarca, foi oficializado o nome e a marca “ROTA DAS EMOÇÕES”. Queria aqui ressaltar que tudo isso só foi possível devido as articulações e mobilização do trade feitas pelo SEBRAE dos três estados.

JMN: Na sua opinião, quais os aspectos que levaram o aeroporto de Parnaíba a perder o protagonismo na região com a inauguração do aeroporto de Jericoacoara, no Ceará?

Joaquim Vidal: Na realidade, esse “protagonismo”, de fato, nunca houve, apesar de termos uns dos melhores aeroportos da região desde a década de 1970. Quando a Rota das Emoções foi institucionalizada houve um acordo entre os governos dos três estados para que o aeroporto de Parnaíba fosse o portão de entrada para aquele roteiro integrado, mas isso não impedia que os Ceará e o Maranhão viessem a construir os seus próprios aeroportos em Jericoacoara e Barreirinha respectivamente, o que acabou acontecendo no Ceará. Isso se deu pela falta de vontade política para, de forma efetiva, dar o alegado protagonismo ao aeroporto de Parnaíba. Não basta reduzir impostos no combustível para atrair as empresas aéreas para operarem aqui. Temos que criar e alimentar uma demanda que justifique a operação de voos diários para Parnaíba e somente estes voos sendo diários é que o destino “Delta do Parnaíba” será atrativo comercialmente para as grandes operadoras de turismo. O aeroporto de Parnaíba atinge aproximadamente um milhão de habitantes num raio de 200km entre os estados que formam a Rota das Emoções, e nós não tiramos proveito disso. Além de baixar os impostos dos combustíveis o governo deveria promover uma grande campanha em todos esses municípios informando a população que o aeroporto está em pleno funcionamento e com isso aproximando as pessoas. Hoje quase ninguém quer se submeter a fazer uma viagem longa que pode durar dias em ônibus, a classe média e até mesmo boa parte da classe “C” já adquiriu o hábito de voar, e seria esse público que a curto e médio prazo supriria a demanda dos voos até que o aeroporto, também, se consolidasse como destino turístico.


JMN: Como você vê crescimento do turismo no Delta?

Joaquim Vidal: Eu gostaria que o crescimento do turismo aqui no Delta fosse como o voo do guará, que os turistas chegassem aqui em grandes “bandos”, mas infelizmente isso não acontece apesar de termos uma demanda razoável de pessoas que visitam esse paraíso da natureza. Não basta embarcar em uma lancha e sair para dar uma “voltinha” até o encontro do rio Parnaíba com o mar e na volta pegar o transfer e seguir para Jericoacoara ou Lençóis Maranhenses, aí ele é um “visitante”. Para ser considerado turista ele tem que passar pelo menos uma ou duas noites no destino e, como isso, alimentar toda a cadeia que forma o turismo: hotéis, bares, restaurantes, lojinhas de artesanato, espaços culturais etc, e assim dar sustentabilidade ao destino. Falta um trabalho eficaz junto as grandes operadoras para comercializarem a cidade de Parnaíba e região e não apenas o acidente geográfico DELTA. Não é raro nos depararmos com turistas revoltados porque a operadora não incluiu um tempo maior em Parnaíba. Com o encurtamento das distâncias em função das estradas asfaltadas entre Jericoacoara, Parnaíba e Barreirinhas, hoje boa parte dos turistas que visitam a Rota das Emoções chegam em Parnaíba, fazem o passeio do Delta e seguem para o próximo destino, poucos são aqueles que se demoram por aqui. Uma exceção é o público do kitesurf que passam dias e até temporadas mas tem como destino preferido as praias de Barra Grande e de Macapá, poucos são os que ficam em Parnaíba.

JMN: Durante muitos anos o litoral do Piauí perdeu espaço com o protagonismo de Jericoacoara com sua oferta de serviços de gastronomia e hospedagem de alto nível. Mas na última década praias como Barra Grande se destacaram no cenário regional. Fale um pouco desse aspecto.

Joaquim Vidal: Jericoacoara é um daqueles destinos turísticos que além das belezas naturais tem uma “áurea mística” que a envolve, além disso caiu no gosto da mídia e das grandes operadoras. Não considero JERI concorrente de Parnaíba, portanto não concordo com essa tese de que perdemos espaço para ela. Pelo contrário, são atrativos que se completam, assim como os Lençóis Maranhenses. O que acontece é que os cearenses fazem o “dever de casa” todos os dias e nós ficamos aqui esperando algo cair do céu. Barra Grande é uma feliz exceção nesse contexto e isso se deu principalmente pela iniciativa do médico e empresário Ariosto Ibiapina que soube aliar sua paixão pelo kitesurf a um empreendimento hoteleiro que passou a ser referência e modelo para outros empreendedores, não só em Barra Grande, onde isso é mais forte, mas em todo o nosso litoral. Eu sempre acreditei no potencial de Barra Grande, por muitas vezes tive embates com os consultores do SEBRAE para incluírem Barra Grande dentro dos programas de qualificação e divulgação do nosso turismo, inclusive, essa minha luta tem o reconhecimento do próprio Ariosto. E hoje, Barra Grande é o grande diferencial do nosso turismo com bons hotéis que prestam um bom atendimento ao cliente. Engana-se quem pensa que Barra Grande é coisa de velejador de kitesurf, muito pelo contrário, é para lá que vai boa parte do turista que vem visitar o Delta e deseja passar um ou mais dias. A gastronomia ainda é muito insipiente, mesmo assim, já temos boas iniciativas que oferecem um cardápio com pratos sofisticados.

JMN: Fale um pouco do seu mais novo projeto, a Base Delta.

Joaquim Vidal: Eu sempre fui um apaixonado por turismo, principalmente o turismo de natureza e aventura. No turismo eu comecei trabalhando com expedições e depois com o receptivo no que mais tarde viria a ser a Rota das Emoções – JERI – DELTA – LENÇOIS, fazendo o transfer de pessoas em carros 4x4 entre estes destinos e passeios de lanchas no Delta do Parnaíba, mas eu ainda não estava realizado, pois percebia que estava apenas fazendo o “transporte” de pessoas. O turista de hoje é muito dinâmico e irrequieto, ele não quer apenas visitar um atrativo turístico e fazer algumas selfies, ele quer interagir com a natureza com alguma atividade que o lugar possa oferecer.

Então percebi que aqui no Delta não existia esse tipo de oferta, foi aí que eu decidi montar uma base avançada em um recanto isolado do Delta onde pudéssemos oferecer conforto, boa gastronomia e atividades esportivas, tudo isso aliado a um convívio harmônico com a natureza, daí nasceu a basedelta, um refúgio ecológico situado em frente ao porto pesqueiro de Luís Correia que pode ser acessado em uma travessia de barco de apenas cinco minutos. Lá temos circuitos para caminhada na restinga e nas dunas; temos circuitos de remo para caiaques e stand up paddle, inclusive, com os equipamentos para locação. A partir da Base é possível se fazer passeios incríveis acompanhados de nossos monitores, remando pelos pequenos igarapés e manguezais com paradas para banho e caminhada nas dunas. Lá na Base temos uma estrutura completa de bar e restaurante. Temos que aproveitar tudo que a natureza nos deu e criar junto a ela novos atrativos, sempre com o conceito de preservação e sustentabilidade, acredito que essa seja uma tendência a ser seguida por novos empreendedores na região do Delta.

JMN: Você pode citar alguns trabalhos de destaque nacional e internacional que você realizou em parceria com André Pessoa?

Joaquim Vidal: Foram tantos que fica até difícil citar, mas vou tentar: Além de várias matérias para jornais e revistas como a National Geographic, fizemos a produção e locação para uma série de reality shows do Discovery Channel; também já fizemos alguns fam press com jornalistas estrangeiros para divulgarem as belezas e o potencial turístico do Delta do Rio Parnaíba e já estamos com um mega projeto para a Rota das Emoções para o ano que vem.


JMN: Como foi trabalhar com André Pessoa e sua equipe?

Joaquim Vidal: Conheci o André em 1998 quando convidei uma equipe do Jornal Meio Norte para fazer a cobertura de uma expedição do Jeep Club do Piauí à Barra do Rio Preguiças no Maranhão. Dali em diante nos tornamos amigos e sempre que possível estamos fazendo algum trabalho juntos. Trabalhar com o André é um aprendizado, pois ele está sempre se reinventando. Agora mesmo ele me aparece com uma modelo linda para fazer um ensaio para o JMN – passou dos registros de bichos da caatinga, cobras e sapos, para clicar uma sereia em pleno Delta do Parnaíba – e deu conta do serviço, o ensaio ficou fantástico. Ele resolve tudo com uma máquina, algumas lentes e um iluminador, o resto fica por conta do seu talento. Isso é trabalhar com André Pessoa e sua equipe.


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