Vagner Ribeiro: “alcoviteiro da arte popular”

Músico e antropólogo mostra a cura através das manifestações populares e confessa que gosta dos santos juninos e tudo que remete a essa aura popular, que significa gente comendo bem e dançando

Antônio Vagner Ribeiro Lima, nascido no dia 22 de junho de 1973, não nasceu na época junina por acaso. Ele aponta a cultura popular como a cura para todas as doenças sociais. Usando a música como suporte, ele mostra que a antropologia pode abraçar as manifestações artísticas que vêm do povo e transformá-las em conhecimento científico. Músico por formação e antropólogo com mestrado, Vagner Ribeiro é mais que um cientista do povo. É um aporte de exaltação para o Reisado, a Folia do Divino e as festas dos santos populares. Com um violão ou sanfona na mão, ele entoa uma cantada para a cultura piauiense. Levando uma “vida mística”, como ele mesmo definiu, Vagner Ribeiro considera-se um alcoviteiro da arte popular.


De norte a sul do Piauí, Vagner dá o tom aos cantores populares

Seu quintal é o mundo, sua alegria é o sorriso no rosto do povo. Criativo até na campainha de casa, que é um sino bem nordestino, Vagner é capaz de tranquilizar qualquer pessoa com sua voz de tom manso.

Como compositor, escreveu um álbum em 2012 e agora luta para lançar o segundo rebento até 2020. Paralelo a isso, um livro também está sendo escrito com memórias de suas andanças pelo Piauí. Mas seu maior desejo é que as pessoas encontrem na natureza e na cultura popular a solução para diversos problemas cotidianos. Para NOSSA GENTE, Vagner Ribeiro conta a trajetória de anos bem vividos em prol da arte e da cultura. De Norte a Sul do Piauí, Vagner dá tom aos cantos populares de forma única, levando a banda Valor de PI consigo.



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““A música para mim é um objeto de trabalho, que hoje são sonoridades nas falas das pessoas. É um universo ampliado. Ela é muito direta. É a mais imediata, não tem quem não goste de música”"
Vagner Ribeiro

JMN: Quais seus planos futuros?

VR: Tenho um álbum para lançar e estou escrevendo um livro de memórias. Meu sonho é fazer que a gente usasse mais energia solar. Além de valorizar as microproduções, agricultura familiar. Também acho importante a cultura popular porque ela movimenta as pessoas. Quero ser um agitador disso, um alcoviteiro da cultura popular.

JMN: Você se acha uma pessoa predestinada à música?

VR: Eu vivo uma vida meio mística. Não sei como é a predestinação. Mas muitos milagres acontecem em nossas vidas. Vivo a música. A música para mim é um objeto de trabalho, que hoje são sonoridades nas falas das pessoas. É um universo ampliado. Música é muito direta. É a mais imediata, não tem quem não goste de música.

JMN: Você também tem um trabalho com Luís Gonzaga, certo?

VR: Sim. É nossa pesquisa sobre o Nordeste a partir de Luís Gonzaga. Temos a Colônia Gonzaguiana, liderada por Wilson Seraine, que escreveu vários livros. Ele é um professor de física que sabe muito de cultura popular. Criamos a Procissão das Sanfonas, que todo mundo caminha na rua, tem sanfoneiras mulheres. Já fica o convite, acontece no dia 2 de agosto no Calçadão da Simplício Mendes. Vamos em cortejo até o Museu do Piauí. Começa às 15h e entra um pouquinho na noite. Fazemos um arrastão. Este ano será muito especial porque comemoramos 30 anos sem Luiz Gonzaga, que morreu no dia 2. Além disso, temos o aniversário de 30 anos da morte de Raul Seixas, que também era Gonzaguiano, além dos 100 anos de nascimento de Jackson do Pandeiro. São três reis da música.

JMN: E sua carreira de compositor?

VR: Tenho um álbum de 2012 que chama “O Piauí Contando Histórias”, que tem 12 composições que mostram o pagode do Amarante, o boi, mas tudo sob minha composição. Dialoga com a tradição, pois faço questão de ser dessa vibe mais popular. Tenho um trabalho que estou gravando, o “Roda do Mundo”, que traz muita coisa, como o Mestre Ibiapina, Antônio Conselheiro… A história do Nordeste passa pelo Piauí de forma alinear. Quero lançar em 2020, se possível.

JMN: Você é divulgador de manifestações culturais que podem se perder com o tempo. É um trabalho de resgate ante a modernidade?

VR: Infelizmente acabamos não convivendo muito. Na minha opinião a cultura não acaba. Ela se adapta, muda de lugar. Mas perdemos muita coisa, algo rico. O poder de sociabilidade dessas festas entra com a arte em uma coisa que precisamos muito: que as pessoas se encontrem como pessoas. É preciso fazer o que tem sentido. Quem não tem uma vivência de arte precisa se expressar emocionalmente, o que é danado para cair na violência, ansiedade e depressão. Eu creio que podemos enxergar a cultura como algo que precisa ser vivido para sanar vários problemas. A alegria é a prova dos nove, movimenta, dá gás.

JMN: Você trabalha com duas áreas atreladas. Qual o encaixe da música com a antropologia?

VR: Casa muito. A música é uma linguagem artística. E a cultura, objeto de estudo da Antropologia, é um leque ampliado. Não temos só música. Temos a oralidade, a sabedoria popular, o folclore, o conhecimento ancestral. As próprias relações das comunidades. Isso é muito caro, me custa muito. Conhecer as ciências naturais da espiritualidade, da cura, dos rituais advindos das festas, como o Reisado, a Folia do Divino. São festas com o toque das caixas, com as cantadeiras. Temos várias cidades que fazem essas festas, como Amarante, que tem um Divino forte.


JMN: Como foi esse processo?

VR: Acabei estudando música na Universidade Federal do Piauí, onde formei em 98. Fiz regência e coral, com cursos de verão. Depois fiz Jornalismo, mas não cheguei a terminar. Queria saber o que era o agenda setting. Depois fiz Antropologia em nível de mestrado, porque trabalho diretamente com cultura.


JMN: O desejo de ser músico veio desde criança também?

VR: Foi uma construção natural. Eu não pretendia ser músico. Mas meu avô era músico, meu tio também. A música é envolvente demais. Com grupos de jovens, ainda adolescente, comecei a tocar violão e cantar, muito na igreja. Então tive uma oportunidade de sair do Brasil, fiz um intercâmbio cultural, fui à França, rodei alguns países. Lá na Europa a música era algo sério. Lá decidi ser músico.


Jornal Meio Norte: Você nasceu em pleno período junino. Isso, de certa forma, contribuiu para que você buscasse a cultura popular?

Sim! Não gosto de foguetes, mas adoro festas. Adoro o fogo, fogueiras. Os santos juninos e tudo que remete a essa aura popular, que significa gente comendo bem e dançando, faz bem para mim.


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