Vladimir Silva: um maestro do mundo

Doutor em Regência foi um diferencial no ensino de música no Piauí. Atualmente, é professor nos cursos de graduação da Universidade Federal de Campina Grande

Vladimir Alexandro Pereira Silva, mais conhecido no meio artístico como Vladimir Silva, nasceu e hoje vive em Campina Grande – PB, mas parte da vida lecionou em Teresina. Em terras piauienses ele pôde construir uma verdadeira potência da música regional: o Madrigal da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em Teresina, onde muitos integrantes chegaram a participar de apresentações nos Estados Unidos e Europa.

Tenor e regente, é doutor em Música pela Louisiana State University (EUA). Como regente, solista e conferencista já atuou na Argentina, França, Itália, Áustria, Alemanha, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Como professor convidado, lecionou em diversas universidades brasileiras e no exterior, nos Paineis FUNARTE de Regência Coral e nos Festivais de Música de Goiás e Londrina.


Vladimir é considerado uma autoridade internacional

Como compositor, tem peças publicadas pela FUNARTE e Gentry Publications/Hal Leonard (EUA). Estreou obras de importantes compositores, destacando-se Eli-Eri Moura, Luís Passos, Reginaldo Carvalho, Danilo Guanais, dentre outros.

Deste último, regeu a world première da Missa de Alcaçus, no Carnegie Hall (EUA). Seus artigos estão publicados no Choral Journal, Per Musi, Musica Hodie, ICTUS, Opus e European Review of Academic Studies. Foi membro do Conselho de Cultura da Paraíba (2011-2013).

Atualmente, é professor nos cursos de graduação da Universidade Federal de Campina Grande (Ufcg) e pós-graduação com o Mestrado em Música da Universidade Federal da Paraíba, além de Diretor Artístico do Festival Internacional de Música de Campina Grande.

Com um currículo desses não é difícil imaginar porque Vladimir Silva tenha fama de exigente. No entanto, as cobranças por parte do maestro conseguem extrair o melhor de seus músicos, que hoje trilham caminhos importantes no mundo da música erudita, onde Vladimir já é considerado uma autoridade internacional.



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“"A música nas escolas ajuda a ampliar o mercado e a visibilidade de diferentes artistas e grupos. Há um grande número de orquestras em projetos sociais""
Vladimir Silva

JMN: Quais os planos pós-pandemia?

VS: Manter-se vivo é a regra básica. Depois, ajudar outras pessoas nesse processo. Há muita gente com fome, sem renda, emprego e, o pior, sem esperança. Fala-se muito em novo normal, reinvenção do cotidiano. Não acredito em nada disso. Os sistemas econômicos e políticos não serão alterados. Penso que cada um, individualmente e com grande esforço, é que poderá mudar, redefinir estratégias e táticas, perceber os limites e as possibilidades de sobrevivência nesse novo ambiente. Creio que música, de modo geral, e a prática coral, em particular, são veículos importantes nesse processo de catarse, de realimentação das utopias. Porque somos educadores, pesquisadores e artistas, a nossa missão é profética, política e poética.


JMN: A música brasileira tem sido valorizada? Ou a cultura, de modo geral...

VS: Grosso modo, precisamos de uma política cultural mais efetiva em nosso país. É necessário criar mecanismos de incentivo, aprimorar as leis, estimular o investimento nesse setor, que é produtivo e rentável. Além de parar com essa campanha de demonização dos artistas, é preciso abolir o cerceamento dos processos criativos e que está em sintonia com uma linha de pensamento retrógrada e fundamentalista. Muito embora o contexto seja desafiador, devemos continuar lutando por melhorias, pela democratização e preservação do rico e variado patrimônio artístico-cultural brasileiro.


JMN: E da música contemporânea no geral?

VS: Creio que a arte contemporânea, de modo geral, tem absorvido as tecnologias na construção de novas propostas. Esse é um caminho sem volta e é importante abrir-se para essa tendência, promovendo o diálogo entre o analógico e o digital. Não falo em substituição de um pelo outro, mas vejo que os computadores, e todo o mundo midiático que temos ao nosso dispor, podem e devem ser usados como ferramentas para o ensino, a criação, a performance e a divulgação da nossa produção.


JMN: Como o senhor analisa o atual momento da música erudita?

VS: Acho que a criação de novos cursos de Licenciatura e Bacharelado foi crucial para a expansão do nosso campo de trabalho. Temos mais orquestras, bandas e coros. Mais pessoas tocam, compõem e regem. A música nas escolas ajuda a ampliar o mercado e a visibilidade de diferentes artistas e grupos. Há um grande número de orquestras em projetos sociais, que têm trabalhado com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, ajudando a transformar essa realidade. Em alguns anos, olharemos para trás e ficaremos ainda mais felizes com tudo isso.


JMN: O senhor já realizou concertos em todo o mundo. Qual foi o mais especial?

VS: Tenho várias experiências no Brasil, Argentina, Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos, Itália e Portugal. Cada uma tem uma verdade, uma história, uma beleza, seja no palco de teatros históricos e suntuosos, seja em igrejas ou pequenos auditórios. Indiscutivelmente, o momento mais marcante foi a estreia da Missa de Alcaçus, de Danilo Guanais, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, em 2017. Até hoje, não consigo esquecer aquele instante, tampouco apagar a emoção que senti quando adentrei o camarim ou o palco para o ensaio geral. Nas duas ocasiões, chorei.


JMN: Você obteve muito destaque trabalhando com corais. Inclusive no Piauí, com o Madrigal da UFPI. Como foi a experiência?

VS: Os anos na UFPI foram de grande aprendizado. Tive a oportunidade de trabalhar ao lado de grandes mestres, como Emmanuel Maciel e Reginaldo Carvalho, bem como interagir com alunos de alto nível, muitos dos quais integrantes do Madrigal da UFPI. Com este grupo, consegui realizar grandes projetos, desenvolver um intenso programa de educação musical, incluindo o aprendizado da técnica vocal. Juntos, participamos de vários eventos em diferentes estados, representando Teresina e sempre provocando muito espanto, já que as pessoas têm uma visão muito equivocada do que somos capazes de fazer nessa região do país. O Madrigal da UFPI foi parte da minha família no Piauí, razão pela qual tenho grande carinho por todos aqueles que integraram o grupo.


JMN: Seu doutorado é em regência, uma área que para muitos pode parecer um pouco abstrata. O que é um regente e como ser um bom regente?

VS: O regente, além de ser um bom músico, deve também ser um empreendedor, um administrador, um indivíduo com ampla visão. Trabalho sempre criando estratégias para dirimir conflitos e problemas em potencial que podem surgir no ensaio de uma banda, coro ou orquestra. Imagine, por exemplo, 60 pessoas tocando ou cantando ao mesmo tempo. É preciso ter liderança para conduzir o trabalho. Os músicos precisam acreditar na capacidade técnica do regente, na sua autoridade, que só vem com muito estudo. Por isso, para ser um regente é preciso saber liderar, ser organizado, ter metas claras e definidas para o grupo a curto, médio e longo prazo, promovendo, de modo geral, o crescimento de todos em várias instâncias.


JMN: Quando decidiu que iria ser professor de música?

VS: Logo que comecei a estudar música, fiquei fascinado. Meus professores foram a minha grande inspiração. Eles me motivaram a seguir a trajetória profissional, a estudar na UFPB, a reger. Quando comecei a dirigir um coral, tinha apenas 16 anos. Isso foi uma experiência determinante, pois, naquele momento, percebi que, pelo resto da vida, gostaria de lecionar, pois todo regente é essencialmente um professor. Quando fiz a Licenciatura em Música, tomei mais gosto e aprendi várias técnicas para atuar em sala de aula e no ensaio.


Jornal Meio Norte: O senhor sempre gostou de música?

Vladimir Silva: Sim. Gostava de cantar quando criança, especialmente as músicas da igreja, já que ia sempre à missa com a minha tia-avó. Para mim, era um prazer ouvir o pessoal cantando acompanhado por violão, serafina, a uma e duas vozes. Além disso, gostava de ir às matinês no clube perto da casa onde morava. Enquanto os meus colegas iam dançar, eu ia ver o conjunto tocando, ficava ao lado do tecladista, vendo toda a movimentação. Depois, ainda adolescente, comecei a estudar flauta doce e a cantar em coro, no tenor. Aí, de fato, encontrei minha profissão.


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