Wellington Soares mostra um diagnóstico de educação na “contramão”

Escritor e professor, Wellington Soares, através do projeto Pré-Enem-Seduc, melhorou a performance dos estudantes de escolas públicas nas universidades em geral

Wellington de Jesus Soares, nascido em 15 de dezembro de 1958, é um teresinense que brinda 26 anos dedicados à literatura. Polêmico, perspicaz e exato nas palavras, o professor de literatura transformou oportunidades para estudantes de escolas públicas com o então “Cursinhos Populares”, hoje conhecido como Pré-Enem Seduc.

No comando da Balada Literária

Crítico ao Governo Federal e aos cortes à educação, o educador mostra que muitas coisas da ditadura estão cada vez mais contemporâneas. Para balizar o argumento, ele lembra os tempos de movimento estudantil e a luta contra a ditadura militar à censura, que terminava tolhendo o ambiente universitário. Autor de vários títulos, como os clássicos “Cu é Lindo & Outras Histórias” e “O Dia Que Quase Namorei a Xuxa”, Wellington promete novas produções ainda para 2019. Entre literatura erótica, contos e material didático, o professor acredita que artista de verdade deve transgredir.

Como movimentador cultural, ajudou a lançar a pedra fundamental do Salão do Livro do Piauí (Salipi), hoje o maior evento de literatura do Piauí. Além disso, mantém a Revista Revestrés, publicação de cultura que faz o maior sucesso em Teresina. Agora ele também está à frente da Balada Literária, uma ideia importada de São Paulo que também está fazendo sucesso por aqui.



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““Precisamos de mais recursos para a educação. Sonho como isso como aluno, professor e ex-líder estudantil. Sonho com a universalização do ensino superior no Piauí” "
Wellington Soares

JMN: Como está sua produção literária?

WS: No momento estou produzindo com o Natan Souza uma antologia reunindo “Autores Piauienses Consagrados”. Espero lançar até setembro. É um livro focado na literatura piauiense. Como professor de literatura, trabalho a literatura brasileira, portuguesa e piauiense. Mas na literatura piauiense há um vácuo, pois não conhecemos nossos autores. É um livro mais didático. Mas estou trabalhando um novo livro de contos, que ainda não decidi o nome. Livro é que nem redação, tem que deixar o título para o final. São contos novos, curtos e instigantes. Com uma pegada extremamente crítica, tipo um “conto-twitter”. Também estou escrevendo uma novela erótica. Adoro retratar o amor carnal.

JMN: Não parecem que os tempos são os mesmos? O senhor acredita em uma reforma universitária?

WS: Infelizmente. Acredito que uma reforma positiva é válida, e isso incluiria melhores salários para professores, ampliar as vagas, melhorar a universidade. Mas o que o Governo Federal quer é completamente diferente. É no sentido de privatizar, reduzir vagas, cortar bolsas, estamos indo na contramão. Inclusive perseguição política! O Governo Federal está perseguindo quem pensa diferente. Estão fazendo um levantamento de quem é comunista e de esquerda. Falavam tanto de liberdade de imprensa, mas agora perseguem jornalistas. O próprio Reinaldo Azevedo foi afastado de alguns órgãos de imprensa. O Paulo Henrique Amorim morreu de desgosto. É um governo que desmonta tudo que foi feito em termos de inclusão social, universitária e econômica. Ampliamos muito o número de universidades, mas o número é muito aquém quando comparado a outros países da América Latina. Precisamos de mais recursos para a educação. Sonho com isso como aluno, professor e ex-líder estudantil. Sonho com a universalização do ensino superior no Piauí.

JMN: Como o senhor analisa a atual conjuntura da educação brasileira?

WS: Eu acredito que há um risco muito grande. Mas os estudantes brasileiros já mostraram que querem lutar, e com meu apoio, claro. Sou ex-líder estudantil, ex-presidente do DCE. Acredito que o Governo Federal terá resistência. Basta ver as manifestações ocorridas no dia 15 e 30 de maio. A UNE acaba de eleger uma nova diretoria e ouvimos muita disposição para lutar contra cortes de verbas. Agora mesmo uma universidade teve a energia cortada. Isso nos deixa preocupado, além dos cortes para bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Esse governo atual não tem nenhum compromisso da educação. Nem por parte do presidente, como do ministro da Educação. Não há interesse em aumentar universidades ou institutos federais, eles querem um modelo norte-americano, onde os alunos se viram para fazer curso superior. É um desejo das elites, que tentam isso há longas datas. Como presidente do DCE, de 1983 a 1984, lutamos contra a ditadura e a privatização das universidades.

JMN: Qual o maior marco deste processo?

WS: Quando chegou em 2009 nós tiramos o primeiro lugar para medicina na Uespi, com uma aluna oriunda de escola pública. Ela fez Cursinho Popular. A partir de 2015 virou Pré-Enem Seduc, com a Rejane Dias. Aquilo dali foi um salto de qualidade muito grande. Pois muitas pessoas até duvidaram da capacidade dela. De lá para cá viemos aumentando as aprovações. Ano passado foi mais de 10 mil, com muitos aprovados em medicina.


JMN: O que mudou neste paralelo?

WS: Os estudantes não tinham orgulho nenhum de serem estudantes de escola pública. Chegavam a esconder a farda. Faziam vestibular para cursos menos concorridos. Mas mostramos que é possível, com um pouco mais de esforço, atingir os objetivos, apesar de certas dificuldades.

Jornal Meio Norte: O senhor idealizou o embrião do Pré-Enem Seduc, no tempo dos Cursinhos Populares. Como isso começou?

Wellington Soares: Quando o Wellington Dias tomou posse, eu o procurei com esta ideia. Ele topou implantar o projeto. Eu lecionei a vida inteira em colégio privado, com curta temporada no Liceu Piauiense. Observei esse distanciamento dos dois âmbitos. A escola pública precisava de um recurso, e não só os que estavam cursando o ensino médio como aqueles que terminaram e não poderiam pagar um pré-vestibular privado. Ele gostou da ideia e montamos os Cursinhos Populares, em 2003. Mas somente em 2005 e 2006 eu tomei frente, então melhoramos a performance dos estudantes de escolas públicas nas universidades em geral. Naquele tempo era com vestibular setorizado, cada universidade tinha o seu.


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