Gênio como atleta, Pelé ainda sonha em fazer sucesso como cantor

Rei do Futebol realizou, ao lado de Edson, mais uma tentativa de fazer sucesso com música

Meio fora do ritmo, Pelé se esforçou . | R7
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Um elemento estranho ao cenário sertanejo invadiu, na madrugada desta sexta-feira (5), um show na zona oeste de São Paulo.

Precisamente à 1h50, Pelé, o Rei do Futebol, apareceu ao lado do cantor Edson (ex-parceiro de Hudson) para acompanhá-lo, entre desafinos e playback, na música Sou Brasileiro, composta pelos dois.

Edson Arantes do Nascimento é um músico amador que usa a influência de Pelé para entrar em palcos profissionais. É também um exemplo de obstinação.

O mesmo sujeito que encarou a plateia da casa noturna country na sexta, em 2006, durante a Copa do Mundo na Alemanha, deu carteirada parecida e incluiu suas canções entre um e outro comentário para a TV estatal de Berlim.

Os narradores ouviam-no sem entender nada. Ele cantava em português, tocava violão e fazia observações do tipo: ?Agora vou tocar uma que fiz para uma grande cantora do Brasil?... tudo sem tradução em alemão.

O Rei do Futebol cultiva a paixão pela música desde a época de jogador. Em 1969, um ano antes do tri na Copa do México, Elis Regina lançou no Brasil o compacto Tabelinha, com duas composições do então atleta metido a artista.

Na segunda canção do disco, que tinha Perdão Não Tem e Vexamão, ele brinca na letra com o fato de não saber cantar.

- Eu, todo desajeitado, cantando tudo errado, sem saber como parar. Foi um tremendo de um vexame, mas o engraçado é que eu cantava errado e os ?puxa? achavam bom.

Nove anos depois, ele lançou seu próprio LP, com seis músicas próprias e produção do consagrado Sérgio Mendes, ícone da bossa nova que o conheceu durante sua passagem pelo Cosmos, nos Estados Unidos. Nesse disco, a faixa Cidade Grande era cantada ao lado de Jair Rodrigues.

Não só Elis Regina e Jair Rodrigues, mas também Wilson Simonal, Gilberto Gil e outros artistas cantaram músicas suas. Quem tem coragem de recusar um pedido de Rei?

Longe de ser consagrado nesse campo, Pelé escreveu em seu livro Pelé, a Autobiografia, de 2006, que seu sonho é gravar um CD com todas as músicas que compôs.

Entre elas, o hit ABC, que estrelou uma campanha do Ministério da Educação em 1998 e, 12 anos depois, foi relembrado na zona oeste paulista.

Peixe fora d?água

Algumas horas antes disso acontecer, no entanto, a promessa de que Pelé apareceria naquela noite no Villa Country foi recebida com ceticismo.

O atarefado mito do futebol, que faltou, por exemplo, à inauguração de uma cafeteria sua e com seu nome em 2007 e que já deixou autoridades nacionais esperando horas até avisar que não poderia comparecer ao evento, não iria aceitar ser estrela secundária em uma balada sertaneja . Realmente, não havia lógica.

À 0h25, um tumulto vindo do lado oposto ao palco chamou a atenção. Quatro seguranças atentos, assustados, afastavam fãs que tentavam se aproximar do astro... Latino. Pelé chegou meia hora depois, sem causar agitação alguma na plateia que lotava a casa noturna.

E olha que ele tinha tudo para ser percebido. Para começar, não trajava um único item que o aproximasse daquelas pessoas. Não usava chapéu, bota ou calça jeans apertada. E a camisa, com uma bandeira do Brasil estampada, estava para fora da calça, um sacrilégio na moda sertaneja.

Enquanto um gordinho, um amigo e seis mulheres perto de mim mostravam conhecer todas as variações de dança de música country, Edson abriu o show e anunciou que um dos convidados daquela noite ele preferia ?nem dizer o nome?.

- Ave maria, esse eu não vou nem falar nada, vocês vão ver só...

Suspense no ar, música vai, música vem, o gordinho parecia incansável. Roberto Carlos, do Corinthians, via ao lado de Cicinho, do São Paulo, o show de um canto privilegiado, enquanto homens de meia-idade partiam para cima de mulheres mais novas ? garotas que, aliás, são a esmagadora maioria nesse tipo de festa.

Após a oitava música, Edson disse para a plateia que ele e um grande amigo, ?que infelizmente não pode vir hoje?, fizeram uma música ?muito bonita?, que ele tinha certeza que iria pegar.

No meio da canção, de versos e rimas simples como ?1, 2, 3 já, vamos juntos pular, pode ser de qualquer jeito, vamos comemorar, brasileiro é alegria, é festa todo dia, tá no DNA?, o Rei do Futebol, contra todos os palpites, entrou na arena que não é a sua.

Pulando meio fora do ritmo, mas com a mesma simpatia e entrega de toda a vida, ele se esforçava para seguir Sou Brasileiro da melhor maneira possível.

Cantou ABC, dançou e agradeceu

Pelé estava rouco. Talvez gripado. Na segunda parte da música, subiu o som de fundo, para ajudá-lo, e mesmo com o playback não pareceu fácil a missão do ex-atleta. Em cinco minutos, cantou ABC, o verso ?Abre a porteira, que eu quero entrar?, de Cidade Grande e, puxado por Edson, dançou abraçado com o cantor.

Pelé parecia cansado. Os olhos com pouca expressão e as rugas no rosto mostravam a realidade de um senhor próximo de completar 70 anos (o que acontece em outubro deste ano). Um sexagenário determinado a realizar o desejo de virar músico de uma pessoa que jamais viu ou que sempre lutou contra suas limitações.

Após a cantoria desgastante, agradeceu de uma forma que pareceu exagerada para quem não conhece sua intenção de ser reconhecido nessa área.

- Essa é uma das maiores emoções de toda minha vida. Muito, muito obrigado a todos.

Quando o sertanejo Edson contou que haveria um sorteio para o público, Pelé, que ameaçou ir embora, voltou para o centro do palco.

- Eu e o Pelé quase brigamos lá atrás [no camarim] porque ele queria sortear uma bola, mas eu falei que não, aqui a gente ia sortear um violão. E é esse violão aqui, gente, que nós vamos sortear.

Entre a bola e o violão, Pelé teve de ceder mais uma vez.



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