Juan, do Flamengo, sobre aposentadoria: 'Não tenho na cabeça'

Juan quer ser Campeão da Copa do Brasil.

FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

As qualidades ainda superam as deficiências trazidas pela idade. Juan admite que em dezembro, encerrada a temporada, fará um balanço das condições físicas, das perdas e dos ganhos de uma vida dedicada ao futebol, parte dela ao Flamengo, seu time de coração. O zagueiro já sente as limitações de quem no passado, mesmo em desvantagem no posicionamento, tinha a agilidade como arma. Mas se vangloria por não ter perdido a leitura do jogo. E também não perdeu a motivação. Juan quer ser Campeão da Copa do Brasil.

— Seria realizar um sonho — diz o zagueiro.

Foram 14 anos fora do Flamengo. O quanto acha que o clube mudou?

Em estrutura e nas finanças, é totalmente diferente. Para o padrão brasileiro, é um clube rico. Mas a paixão do torcedor, a pressão, isso não muda. Isso é do tamanho do clube.

Ter dinheiro ampliou a cobrança no clube?

Sem dúvida. Estamos vivendo o outro lado da moeda. Tem grandes jogadores, parece que é obrigação vencer todos os jogos e dar espetáculo. Por um momento a gente se colocou esta pressão. Na Libertadores, fomos eliminados por não pontuar fora de casa. Mas não sofremos, nunca jogamos muito mal. Talvez, se a gente jogasse pelo empate, teria os dez pontos necessários. Talvez tenha mudado com o Rueda, e não é crítica ao Zé Ricardo, que merece ser valorizado. Rueda chegou num momento em que se pedia isso (mais cuidados). Talvez sem ser tão brilhantes quanto antes, estamos sendo efetivos.

O que falta para o clube ser de novo vencedor?

É tudo muito novo. Talvez seja o primeiro ano que o Flamengo extrapola no investimento em elenco. Claro que a exigência é de resposta rápida, mas a longo prazo vai ser inevitável.

Há quem fale em recuperar ambição...

Talvez reaprender a ter paciência para ser vencedor. A pressão no Brasil é por ganhar tudo.

É possível o torcedor aceitar um time mais pragmático?

No fim das contas, o torcedor quer ganhar. Quem entende de futebol sabe que a forma mais fácil é jogar bem. Mas no Brasil é difícil jogar bem sempre, o equilíbrio é grande. Temos um campeonato em que os times que têm a bola não ganham. Na Europa, há seleções dentro dos clubes, um abismo entre grandes e pequenos. Então os números se tornam falsos. No Brasil, também falta tempo de trabalho, time para jogar assim tem que se conhecer muito bem.

Com Zé Ricardo, o time jogava mais adiantado. Isto prejudicava você?

Não, havia formas de evitar o contra-ataque e fizemos, até comigo em campo. Mas quando você perde e toma gols de contra-ataque, associam à idade.

O futebol brasileiro lida mal com jogadores mais velhos?

O problema é o pré-julgamento: tomou gol, é porque está velho. Perdeu gol, é porque é novo.

Como a idade impactou o seu jogo?

O que tenho de bom, e nunca deixei de ter, é a parte tática e leitura de jogo. Impactou o meu jogo pessoal: arrancar para o ataque, me dar ao luxo de estar mal posicionado e recuperar na velocidade, infelizmente não posso mais.

A defesa mais composta com Rueda facilita?

Para mim e para todos os zagueiros do Brasil. Lembro que num Fla-Flu, corri com o Richarlison e disseram: “Perdeu na corrida, tá velho”. Mas o Richarlison ganha de 70% a 80% dos zagueiros. Se todo mundo que perder na corrida para ele tiver que parar, não tem mais zagueiro. E têm se destacado os defensores que jogam protegidos. Mas tem que ser eficiente. Não pode jogar no Flamengo, ficar todo mundo atrás protegendo o zagueiro e não fazer gol.

A Copa do Brasil é suficiente para coroar o novo momento do clube?

Pode abrir as portas. Este grupo precisa de uma vitória para ter mais tranquilidade e buscar mais coisas, tirar o peso de investir e ter que vencer. E seria realizar um sonho. Eu não imaginava estar no Flamengo aos 38 anos.

Qual sua ligação com o Flamengo?

O Flamengo é o meu time, sempre foi e sempre vai ser. Eu era torcedor fanático. Mesmo se eu não voltasse, nada mudaria.

O que define a identidade do clube?

A grandeza, a torcida e o fato de que, na hora difícil, o Flamengo dificilmente recua. Antes do primeiro jogo com o Botafogo, tivemos uma reunião. Eu tinha lido algo dizendo que o Flamengo era o clube de momentos como aquele. Eu parei para pensar e vi que sempre foi assim mesmo, na dificuldade o Flamengo cresce, na decisão... Eu disse aos jogadores: “Este clube é assim. Na hora de decidir, a gente aparece. Porque temos torcida, então temos tudo”.

Mas o Flamengo vinha falhando nos grandes jogos...

Talvez pela pressão de ganhar, convencer, jogar bem.

Preocupam os valores e o julgamento em torno do Vinícius Junior?

Os números hoje são altos, era inevitável que um jovem fosse vendido por esse valor. Ele tem muito talento e me deixa tranquilo ver o dia a dia dele de trabalho, a vontade de brilhar no Flamengo. Outros poderiam ter a cabeça em Madrid. Quando a gente conversa com ele, fala que não precisa, a cada jogada, justificar por que ele é o Vinícius Júnior e foi para o Real Madrid. Ele tem que jogar como nos juniores. Tem a hora de tocar para o lado e a hora do lance de efeito.

Quando você para?

Não tenho na cabeça. Em dezembro, avalio minhas condições, ouço o que o clube pensa de mim. Ainda convivo bem com sacrificar o dia a dia e a família. O jogo me dá prazer e o fato de jogar no Flamengo. Em outro clube, talvez não jogasse mais.

Vai se manter no futebol?

Venho usando uma marca minha nas redes sociais. A intenção é usá-la para me voltar para projetos sociais. Já faço um trabalho com a casa Ronald McDonal’s. Quero retribuir o que o futebol me deu. Se puder associar ao Flamengo, ver o clube ser pioneiro neste campo, seria um sonho. Acho difícil sair do futebol, mas ainda não encontrei a função.

Por que é tão difícil ver você sorrindo?

Não sei. Todo mundo fala isso pra mim. Às vezes, em rede social, coloco uma foto rindo e todo mundo comenta. Acho que sou sério no trabalho e, como sou reservado fora de campo, quase ninguém me vê em momentos de lazer.

Se ganhar a Copa do Brasil, vai ter sorriso?

Aí sim, com certeza.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES