Surfista atingido por prancha na cabeça quer voltar a competir

Nesta terça-feira à noite, o potiguar de 39 anos recebeu alta do hospital de Dalinde, na Cidade do México, onde estava internado

Surfista brasileiro Aldemir Calunga sofreu acidente e ficou três dias em coma | Angel Salinas/CentralSurf.tv
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No domingo, 2 de setembro, o surfista Aldemir Calunga foi nocauteado por sua prancha e se afogou em meio a ondas de 3 metros em Puerto Escondido, México. Ficou mais de 5 minutos inconsciente e sem respirar ? sobrevivendo graças a um eficiente resgate. Depois de três dias na UTI sob coma induzido e uma cirurgia para retirar areia do pulmão, ele despertou, trazendo alívio a toda a comunidade do surf no Brasil. Nesta terça-feira à noite, o potiguar de 39 anos recebeu alta do hospital de Dalinde, na Cidade do México, onde estava internado, e tomou o avião de volta para casa. Mas, antes, conversou sobre o acidente que, por pouco, não lhe custou a vida.

Do que você se lembra?

A lembrança da hora do acidente não existe. Agora que estão começando a vir pequenas lembranças. Mas, do momento em que eu fiquei embaixo d?água, não dava pra ter a consciência de onde estava. Só sabia que estava mal e que queria sair daquela. Então tinha que me manter forte e positivo. Mas eu sabia que estava entregue. Graças a Deus, ao meu lado estavam pessoas que são sérias com primeiros-socorros ? watermen ? porque senão eu tinha sobrado. No caso, o Marcos Monteiro [salva-vidas e surfista de ondas grandes], que deu uma força enorme, não me soltou.

Qual é a última coisa de que você se lembra?

Do blackout, enquanto eu afundava na água e pedia a Deus pra voltar rápido e que alguém me visse. Porque na hora eu tive consciência de que estava desmaiando por causa da pancada. Não lembro de nenhum momento durante a onda e nem antes, durante o surf em si, mas lembro do momento que antecedeu a pancada. Depois já deu um blackout geral, tanto do surf quanto do pancada. A lembrança é impressionante. Depois disso, a única coisa de que lembro foi quando acordei. Comecei a chorar e vi que realmente a vida tinha voltado.

Você sentiu que realmente voltou à vida?

Sim, cara. Foi muito rápida a troca para esse mundo que vivi. A transição foi muito rápida, uma coisa louca. Mas eu estava totalmente consciente do que estava passando, foi interessante isso. Mas pelo menos nos primeiros minutos, tentei me controlar. Estava totalmente apagado por causa da pancada.

Como foi ter seu amigo e patrocinador Petrônio Tavares com você, na hora que acordou?

Quando eu acordei, ele não me soltou por nada. Não saia de perto de mim. Toda hora estava aqui. E ele viu o que aconteceu lá na praia. Então, a gente viveu praticamente a mesma situação. Eu só tenho que agradecer, porque ele não me soltou em momento algum até eu receber alta. Como você está agora? Eu tive alta hoje [terça]. Mas, analisando o que foi feito de avaliação médica, percebi que realmente fiquei na mão de Deus. Foi Ele quem não deixou que entrasse tanta água em mim. Quem me salvou foi Ele, o Marcos Monteiro, o Lapo Coutinho [surfista de ondas grandes]... Não me deixaram beber tanta água mesmo com o tamanho do mar, não me soltaram nenhuma vez. Então foi uma irmandade pura, foi fruto da força de vontade dos salva-vidas e dos paramédicos que me deixaram aqui. Todos eles salvaram minha vida. Me tiraram da água na hora certa e fizeram o procedimento correto.

Você terá que fazer algum tratamento?

Não. Estou há dez dias no hospital e durante todo tratamento que tive aqui, os médicos foram excepcionais. Trabalharam tanto o psicológico quanto os problemas do pulmão e as lesões. Não tive graves crises, isso foi bom. O que eu tive mesmo foi um tempo grande dentro da água. Mas, quando eu fiquei submerso, eu não estava totalmente inconsciente, mesmo com a pancada, então eu travei a respiração. Sabia que estava mal. Então não bebi tanta água, o que me levaria ao afogamento. Apesar de que depois tive que fazer uma limpeza do pulmão, para tirar a areia. Também vou começar um treinamento para restabelecer o corpo, mas não há trauma.

Você já conversou com sua família?

Faz nove dias [do acidente], não dava para conversar. Ultimamente tudo tem sido meio embaralhado. Hoje é o dia que estou melhor até agora, mas ainda não consegui passar a mensagem a eles pelo Facebook. A cabeça fica um pouco embaralhada, mas isso vai recuperando com o tempo.

E você já está pensando em surf?

Cara, já estou muito a fim de surfar. Mas agora é o seguinte, tenho que dar um tempo para restabelecer o corpo e a mente. Eu me sinto um pouco fraco devido aos antibióticos que tenho tomado. Mas sem medo do surf. Vai voltar tudo a ser do mesmo jeito, obviamente com certas precauções que não me levem àquela situação. Embora eu tenha sido pego de surpresa pelo vento, graças a Deus tinham pessoas gabaritadas para me salvar. Agora é partir para o próximo swell, sem trauma, está tudo bem. Só tenho a agradecer a essa equipe toda que me ajudou. O Marcos Monteiro, o corpo dos paramédicos que veio em minha direção, o Dado Montenegro... As pessoas que foram fundamentais.

O que você tira disso tudo, Calunga?

Só tenho que agradecer ao esforço de todos os salva-vidas, à energia positiva que todos me mandaram, postando em blogs, sites... E agradecer a Deus por eu sentir confiança no mar, que é a minha casa, e por ter a certeza de que ainda tenho muito a fazer não só no mar. Acho que agora buscarei cada vez mais evoluir, fazer tudo o que soma para o ser humano. Nessas horas a gente vê os dois lados... Como a gente é frágil e o que a gente precisa fazer por um mundo melhor. Então agora é partir com a missão de trabalhar melhor o corpo e a mente e ajudar o próximo cada vez mais, porque sem isso não somos nada. Quero tentar me aprofundar um pouco mais nisso, porque, quando o mar devolve a gente, temos que retribuir a ele ? pelo menos para a comunidade costeira. Acho que teve uma razão, que eu vou ter que ler e entender por quê isso aconteceu comigo.



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