Thaylor Lubanzadio relembra episódio sofrido em 2017: A Espanha é racista

O agressor verbal que o atacou, assim como no caso de Vinicius Jr., era membro de uma equipe da Comunidade Valenciana

Jogadores de clubes espanhóis alvo de racismo | Reprodução/Colagem
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Ao presenciar as ofensas racistas dirigidas ao jogador brasileiro Vinicius Jr. durante a partida entre Real Madrid e Valencia no domingo (21), o jogador espanhol de futebol Thaylor Lubanzadio sentiu que sua própria história estava se repetindo. O incidente despertou em Lubanzadio lembranças dolorosas e ressaltou a persistência do problema do racismo no esporte. 

No ano de 2017, Lubanzadio, foi alvo do insulto racial ,"puto negro", durante uma partida de futebol profissional da segunda divisão espanhola. Naquela época, o jogador atuava pelo Real Unión de Irún, clube localizado no País Basco, região do norte da Espanha onde Lubanzadio nasceu e cresceu. O agressor verbal que o atacou, assim como no caso de Vinicius Jr., era membro de uma equipe da Comunidade Valenciana, região costeira do Mediterrâneo espanhol. 

Durante o ocorrido ele parou a partida pós perceber que havia sofrido racismo, reclamou o ocorrido ao juiz. 

"Ele simplesmente me falou para continuar o jogo", contou, em entrevista ao g1. "Depois do jogo, fui reclamar que nada foi feito. O juiz ignorou novamente e me mandou para o vestiário. Fiquei com muita raiva e disse que ele era um 'cagão'". 

A reação do jogador diante do incidente, mesmo ocorrendo fora de campo, foi registrada na ata do jogo e comunicada à Federação Espanhola de Futebol, resultando em uma suspensão de quatro jogos para Lubanzadio. Surpreendentemente, o insulto racista proferido dentro de campo não foi mencionado na ata.

Compreendendo que a questão transcendia os limites do futebol, Thaylor Lubanzadio, filho de pai angolano, decidiu ir à delegacia para denunciar o insulto racista. No entanto, a polícia não chegou a convocar o jogador valenciano para prestar depoimento e, devido à ausência de legislação específica, o caso foi arquivado.

Esse episódio poderia ter sido um grande revés na carreira do jogador basco. No entanto, acabou abrindo portas para um novo universo: o da luta contra o racismo, uma causa na qual ele nunca havia se interessado anteriormente, apesar de já ter sido alvo de insultos e ter sua nacionalidade questionada devido à cor de sua pele.

"A Espanha é racista porque não é antirracista. E não há um ponto médio", disse o espanhol.

Depois do que aconteceu com ele,  nota que o episódio de Vinicius Jr. não pe uma exceção ou exclusividade do futebol em seu país.

"Não se trata de uma minoria. (O que aconteceu com Vini Jr.) é um reflexo do que é a sociedade espanhola. O estádio tem 40 mil pessoas. Mesmo que sejam 'só' 500 falando isso ('macaco'), já são muitas pessoas, as mesmas que estarão do meu lado tomando um café, ou cujos filhos irão à escola com os meus. As pessoas não têm nem sequer conhecimento do que é racismo".completou.

Essa ausência de reconhecimento se reflete nas estatísticas. Na Espanha, há uma escassez de estudos demográficos que levem em consideração a questão racial, o que é uma reivindicação importante da comunidade negra.

Não existem censos raciais e as pesquisas populacionais não incluem perguntas sobre cor da pele, seguindo uma tendência observada em alguns países europeus, como Alemanha e França, onde é inclusive proibido coletar dados sobre raça e etnia.

No entanto, um levantamento realizado pelo governo espanhol em 2021 apontou a existência de aproximadamente entre 700 mil e 1,3 milhão de afrodescendentes na Espanha, com base em uma estimativa estatística. Dentro desse total, pouco mais da metade são estrangeiros, enquanto cerca de 47% são pessoas nascidas no próprio país europeu.

Apesar desses números aproximados, fica evidente que essa população constitui uma minoria, considerando que a Espanha possui cerca de 47 milhões de habitantes.

"O racismo na Espanha ainda é completamente silencioso, mas ao mesmo tempo está presente em todos os espaços. A negação em relação ao racismo é muito forte, e as vítimas frequentemente são tratadas como agressoras. Tudo isso visa limpar a consciência, porque quando dizemos que alguém é racista, essa pessoa se sente mal. 

Além disso, a Espanha é um país extremamente católico, onde todos desejam sentir que são pessoas boas", afirmou a psicoterapeuta espanhola Marian Nvumba Mañana. Ela é afrodescendente, especializada em identidade e senso de pertencimento de pessoas que sofrem com o racismo no país, e teve que buscar formação em outros países, concluindo seus estudos na West London University para se especializar na perspectiva racial.



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