Instituto monitora e ajuda a preservar tartarugas no litoral do Piauí

Elas estão sendo monitoradas com ajuda de satélites

Tartaruga | Divulgação
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O sol nasce pouco antes das 6 horas e tinge o céu de vermelho alaranjado e as aves passam em bando como se fossem pequenos pontos negros sobre a imagem do astro-rei. Neste cenário, nas praias do pequeno litoral do Piauí, está sendo iniciada uma pesquisa ambiciosa pela organização não governamental Instituto Tartarugas do Delta, fundada em 2006, e que ajuda a preservar as cinco espécies de tartarugas que põem seus ovos nas areias do território piauiense.

A pesquisa, que utiliza satélites, vai descobrir para onde vão as tartarugas que chegam ao litoral do Piauí para desovar e deixar que seus ovos gerem as pequenas tartarugas que enfrentam a areia das praias, os predadores naturais e o oceano para garantir sua suada e difícil sobrevivência.

Divulgação

A bióloga Werlane Magalhães, vice-presidente do Instituto Tartarugas do Delta, disse que a praia do Barro Preto, em Luís Correia (346 km de Teresina), é um dos berçários de tartaruga marinha. “Aqui no Piauí, a gente começa a fazer esse trabalho de conservação a partir de janeiro”, afirma. Neste ano, o primeiro ninho onde os ovos eclodiram e nasceram as tartarugas marinhas foi localizado no Réveillon, um verdadeiro brinde à vida dessa espécie tão simpática.

O Instituto Tartarugas do Delta finca uma pequena bandeira em cada ninho de tartarugas. Eles estão espalhados em todos os lugares e é um indicador importante do grau de preservação ambiental das praias piauienses, porque as tartarugas escolhem os pontos para sua desova onde não tem poluição e as condições ambientais são propícias para sua reprodução. “Nós colocamos as bandeiras como um trabalho de percepção ambiental para que as pessoas observem onde estão os ninhos das tartarugas marinhas”, adianta Werlane Magalhães.

A pesquisa para identificar os caminhos das tartarugas é chamada de “Rota da Conservação”, que permite o monitoramento das tartarugas por satélite. Os cientistas colocam um transmissor no casco da tartaruga e ficam monitorando o animal, recebendo as informações de seu deslocamento por satélite. Quando a tartaruga sobe para a superfície das águas do mar para respirar, já que tem esse comportamento biológico, libera uma informação. É quando os cientistas passam a acompanhar seu deslocamento. “O objetivo dessa pesquisa é reconhecer o tamanho da área de desova no Piauí”, esclarece Werlane Magalhães.

Efrem Ribeiro

As tartarugas voltam para desovar onde nasceram porque têm uma substância, a magnetita, que facilita o reconhecimento dos fatores ambientais do lugar. As intervenções nas áreas de praias, como a construção de portos, desconfiguram os fatores ambientais, o que leva as tartarugas a não mais reconhecerem os locais onde devem desovar.

As tartarugas, quando chegam nas praias, põem seus ovos no ninho e, no período de 12 a 15 dias, elas retornam para fazer um novo ninho. Uma fêmea pode fazer de três a seis ninhos. Elas retornam depois, em intervalos de dois a três anos. As tartarugas começam a ter esse procedimento reprodutivo a partir dos 25 anos de idade. Por temporada, cada uma delas pode pôr cerca de 450 ovos, caso confeccione três ninhos, porque põe uma média de 150 ovos por ninho. As tartarugas mais frequentes nas praias piauienses são as de pente.

170 ninhos foram identificados só em julho

A bióloga Ana Luiza da Costa, do Instituto Tartarugas do Delta, tem o trabalho de retirar as tartarugas dos ninhos com as próprias mãos. Ela retira as tartarugas que nasceram, as que são natimortas e os ovos que não eclodiram. “A gente abre o ninho e vai verificar quantos nasceram, quantos não se desenvolveram e quantos filhotes de tartaruga acabaram morrendo nesse processo, os natimortos”, ensina Ana Luiza.

Efrem RIbeiro

Ela contou que, no processo de eclosão dos ovos, algumas tartarugas são perdidas antes do nascimento. Segundo a bióloga, de mil filhotes que chegam no mar, um ou dois chegam na idade adulta. “Quando as tartarugas são filhotes, várias espécies de peixes podem se alimentar delas, porque a carapaça ainda não é rígida. Elas são presas fáceis para alguns crustáceos. Quando vão chegando na vida adulta é que o número de predadores vai diminuindo”, afirmou Ana Luiza.

No Brasil, desde a década 70, surgiu a proibição de caça e consumo das tartarugas, e hoje é uma lei internacional que proíbe a pesca e a captura das espécies. No início do mês de julho, nas praias do Piauí, mais de 170 ninhos de tartarugas foram identificados e marcados com as bandeiras do Instituto Tartarugas do Delta.

Instituto faz trabalho de limpeza das praias  

Um grupo de pessoas percorre as praias de Luís Correia recolhendo apetrechos de pesca, principalmente fragmentos de redes de pesca feitas de naylon, garrafas Pet, sandálias e muito lixo. Esse trabalho voluntário tem ligação com o trabalho de conscientização do Instituto Tartarugas do Delta. Afinal, para a sua desova, as tartarugas precisam de áreas ambientais limpas e que não ameacem suas vidas e as de seus filhotes.

Efrem Ribeiro

Com um saco nas mãos, o surfista paulista Marcelo Luna, que enfrenta ondas gigantes de até 25 metros de altura em todo o mundo, e está no Piauí começando a prática profissional de windsurf no litoral piauiense, recolheu lixo na praia Ponta do Itaqui, em Luís Correia.

“Esse trabalho de limpeza é primordial, não só para a gente que vive hoje nessa terra, mas também para a consciência cultural do povo, das pessoas que visitam e dos habitantes. A prevenção, no passado, evitaria tudo o que a gente está fazendo hoje. Esse nosso trabalho também é preventivo,    porque é de limpar e de levar a conscientização para as pessoas e para os turistas sobre a necessidade da preservação da fauna, de flora e de nosso futuro”, falou Marcelo Luna.

O publicitário Artur Fontenelle disse que o trabalho de limpeza das praias evita que as tartarugas e outros animais marinhos sejam mortos por causa do plástico e dos apetrechos de pesca. Os moradores da região encontram, com frequência, tartarugas mortas com nadadeiras presas em fragmentos de redes de pesca de naylon. “Não estamos fazendo mais do que a nossa obrigação”, comentou o empresário Gustavo Rodrigues, proprietário da pousada Itaqui.

Piauí reúne 5 espécies de tartarugas

A pesquisa Rota da Conservação, do Instituto Tartarugas do Delta, ainda não tem o resultado sobre até onde as tartarugas desovam nas praias piauienses. Mas uma pesquisa semelhante realizada no Espírito Santo, que está mais adiantada, localizou, por monitoramento feito com satélites, as tartarugas que desovam no litoral da África. Isso mostra o quão longe elas podem chegar.

Efrem Ribeiro

A bióloga Suzana Bittencourt, do Instituto Tartarugas do Delta, afirma que a pesquisa no Piauí começou em junho deste ano e os estudos que estão ocorrendo no momento são no Espírito Santo, ainda em fase de análise de dados.

Segundo ela, as tartarugas de pente são fiéis às áreas de desova, já as tartarugas de couro não são tão fiéis. “Nós temos no Piauí áreas de desova da tartaruga de couro”, disse. Susana Bittencourt afirma que no Piauí são encontradas cinco espécies de tartarugas, a de pente, a de couro, a verde, a lisa e a cabeçuda.

As tartarugas verdes e cabeçudas fazem desova não regulares nas praias do Piauí, porque vêm em algumas temporadas, e em outras não.



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