A era de ouro dos podcasts: entenda o boom

Estamos só na infância do podcast

Podcast | Divulgação
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Em 2004, no auge da era do iPod, o jornalista britânico Ben Hammersley percebeu que o tocador de músicas da Apple estava facilitando a emergência de programas de rádio amadores on-line. Sugeriu alguns nomes para o fenômeno: audioblogging, guerillamedia e podcasting. Quinze anos depois, dá para saber qual foi o que pegou.

Faz sentido: segundo o próprio Spotify (que não divulga dados específicos para o Brasil) de abril de 2017 a abril de 2018, o aumento no número médio de ouvintes no mundo inteiro de podcast diários na plataforma foi de 330%. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da CBS News concluiu que dois terços dos americanos escutam podcasts pelo menos ocasionalmente, com 23% deles ouvindo mais de uma vez por semana. Na TV, surgem produções derivadas do sucesso de podcasts, como a série da Amazon com Julia Roberts, “Homecoming”, e “Dirty John”, da Netflix. Segundo Javier Piñol, diretor do Spotify Studios na América Latina, a empresa estima que em breve 20% de todo consumo de áudio da plataforma será conteúdo não musical.

“O formato está realmente evoluindo e, enquanto o produto ainda é um negócio relativamente pequeno hoje, vemos um incrível potencial de crescimento”, afirma ele.

Se lá fora o mercado já está em ebulição, no Brasil ainda há muito a se caminhar — embora também haja crescimento. Outra plataforma on-demand de áudio, o Deezer reporta um aumento de 40% no consumo de podcasts no último ano entre os usuários brasileiros. Em 2017, a companhia passou a investir em conteúdos originais em parceria com terceiros. “Estamos na fase de entrar na produção achando gaps de conteúdo”, afirma Bruno Vieira, diretor geral da Deezer no Brasil.

Segundo ele e outros entrevistados, a penetração dos podcasts no Brasil demorou a acontecer porque, inicialmente, esse tipo de mídia era consumida em iPods e iPhones, itens de luxo por aqui. Porém, com a democratização do acesso a smartphones, a melhora da qualidade de conexão na rede celular e o surgimento de plataformas de streaming que agregam no mesmo lugar conteúdo tanto de grandes veículos quanto de produtores independentes, o cenário agora é outro. É também o que pensa Carlos Merigo, fundador e editor-chefe da B9 , pioneira responsável por podcasts como “Braincast” e “Mamilos”.

“Quando começamos em 2006, era uma coisa nichada. A pessoa tinha que saber o que era um feed, baixar um arquivo e botar no tocador dela. O 4G abriu para um público maior. E, de 2018 para 2019, o que mudou foi a consciência do mercado. O podcast passou a ser visto como um formato de mídia, o que faz com que mais marcas invistam”.

Tamanho da louça para lavar, ou do tempo da esteira

Por parte do público brasileiro, o podcast é descoberto como um alento para quem lida com uma vida urbana em que falta tempo para dar conta de tudo: segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Podcasters (ABPod) em parceria com a rádio CBN , em 2018 79% dos ouvintes de podcast no Brasil fazem esse consumo durante trajetos de locomoção, e 68% durante a realização de tarefas domésticas. Entre eles, a média ponderada de consumo diária chega a 2h52min.

Gerente de jornalismo da CBN Rio, Thiago Barbosa defende que os podcasts são rádio da mesma forma, apenas em uma nova maneira de consumir. Ele cita o fato de mais pessoas estarem morando sozinhas e de sentirem a necessidade de otimizar o tempo como explicações para o boom do formato.

“Com o áudio, você consome informação enquanto faz alguma atividade física ou manual. Tem gente que fala que gosta deste ou outro podcast porque é o tamanho da louça para lavar, ou do tempo da esteira”. A consolidação dos podcasts, no entanto, passa por desafios. Uma das prioridades da ABPod é levantar de forma independente e auditada a audiência no Brasil.

“Estamos só na infância do podcast”

No Brasil e no mundo, o tipo de podcast mais comum é como um bate-papo: um grupo de amigos ou debatedores conversam em torno de algum tema comum, de política e futebol a games e cultura pop. Mas os podcasts mostraram todo o seu potencial em 2014, quando a jornalista Sarah Koenig, veterana da rádio pública americana, lançou a primeira temporada “Serial”.

O programa se dedicava a investigar o assassinato da estudante Hae Min Lee, ocorrido em 1999. Com técnicas narrativas que remetem à radionovela, a reportagem investigativa virou o podcast mais popular no mundo.

Aqui no Brasil, já surgem iniciativas semelhantes, como o “Projeto humanos”. Na atual temporada, o podcaster Ivan Mizanzuk narra a história do crime que ficou conhecido no país como “Caso Evandro”. A cada episódio, Mizanzuk revela uma peça do quebra-cabeça que cerca o desaparecimento do menino Evandro Ramos Caetano, ocorrido em 1992 em Guaratuba, no litoral do Paraná. Com o sucesso, a HarperCollins prepara uma adaptação do podcast para livro, com previsão de lançamento para 2020.

Tanto em “Serial” quanto no “Caso Evandro”, o locutor explica como conduziu sua investigação e expõe suas dúvidas e impressões conforme colhe depoimentos dos envolvidos no crime, o que gera uma empatia maior com o ouvinte. Para o professor do Núcleo de Rádio e TV da UFRJ, Marcelo Kischinhevsky , a inovação em formatos e linguagens é apenas o começo no áudio digital. “Estamos só na infância do podcast em termos de potencialidade. A realidade aumentada é um possível aliado do rádio nos próximos anos. Podemos trabalhar com geolocalização, conteúdos imersivos e criar audiogames sonoros”, exemplifica.



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