Alunos são recebidos com flores em escola alvo de massacre em SP

Alunos puderam entrar no prédio e pegar objetos pessoas que foram deixados para trás no momento em que assassinos invadiram o local e mataram sete. Ao todo, dez morreram.

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Professores, funcionários e alunos da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), foram recebidos com abraços e flores nesta segunda-feira (18) ao voltar ao local. Parte dos estudantes retornou apenas para buscar os materiais que foram deixados para trás na pressa de fugir durante o massacre, na última quarta-feira (13), que deixou dez mortos.

Psicólogos participam da acolhida à comunidade escolar. Nesta segunda, alunos puderam entrar no prédio da escola para pegar seus pertences. De acordo com o cronograma divulgado pela Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, a partir desta terça-feira (19), a Raul Brasil será reaberta para os alunos participarem de atividades de acolhimento. A data de retomada das aulas ainda não está definida.

A secretaria estadual de Educação informou que atuam na recepção equipes especializadas do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Suzano, da Universidade de São Paulo (USP) e de outras instituições, além de profissionais de secretarias do governo nas áreas de Educação, Justiça e Procuradoria-Geral.

 Foto: Maiara Barbosa/G1

Maria Eduarda Levino, de 14 anos, é estudante do primeiro ano do ensino médio. Ela ganhou uma flor quando foi pegar a mochila, que estava guardada na sala da diretoria.

"A sensação é estranha. Você passa no local que aconteceu e lembra de tudo. Parece que agora é que caiu a ficha. Eu estava na cantina, ouvi os tiros, foi tempo de olhar para trás e correr para a cozinha. Ganhar essa flor foi uma coisa boa, porque a gente se sente acolhido. Ganhei muitos abraços lá dentro. Eu volto, sim, porque o que tinha que acontecer já aconteceu", diz Maria Eduarda.

Danielle Letícia de Oliveira, de 15 anos, esteve na escola nesta segunda para retirar o material escolar. Ela diz que esta é a primeira vez que retorna ao prédio depois do massacre.

“Como era horário da merenda, todas as nossas coisas estavam na sala. Eu saí só com o celular e a chave de casa que estavam comigo. Meus documentos, RG e cartão de ônibus ficou tudo dentro da sala junto com os livros", afirma Danielle.

A aluna conta que, na hora do massacre, se escondeu na cozinha. Ela diz que não sabe se vai mudar de escola ou não. A mãe dela, Janaína de Oliveira, de 42 anos, afirma que apoiará qualquer decisão da filha.

Foto: Glaúco Araujp/G1

"Se ela quiser voltar, eu vou apoiar, mas a gente pensa na transferência para Mogi das Cruzes também porque ela joga futebol lá. É uma decisão difícil, é um momento muito difícil. Eu não consigo dormir direito porque tenho pesadelo. Sonho que estou puxando o colar de um dos mortos", diz a mãe da jovem.

"Eu chamo a Danielle para dormir comigo e estou tentando ocupar a mente dela. Mas, ao entrar, ela vai relembrar tudo aquilo, as cenas. Eu que tive a sorte de ver a minha filha viva, já sofro. Imagino as mães que perderam seus filhos. Eu agradeço as merendeiras, porque elas foram heroínas sem armas."

O aluno Vinícius Santos Moura foi de uniforme à escola, em respeito às vítimas. Ele tem 15 anos e está no segundo ano do ensino médio. O jovem pretende continuar estudando no Raul Brasil.

“É muito difícil, mas é uma fatalidade que poderia acontecer em qualquer outra escola. Eu consegui sair só quando a polícia entrou. O professor Agnaldo chamou para a gente se esconder em uma sala perto da quadra. Eu ouvi muitos tiros. Quando eu saí, foi muito triste ver os corpos no chão", contou Vinícius.

Edmar Pereira Baião trabalha na limpeza da Escola Raul Brasil. No dia do massacre, ela não estava no colégio. Mas, mesmo assim, ele afirma que a dor é grande. "Eu conhecia os alunos todos. Eu estou sentindo toda a dor dos pais. Dói muito. Eu tiro forças de Deus para voltar, mas é muito difícil."

Ajuda de psicólogos

A coordenadora-geral dos programas de cidadania do Estado de São Paulo, Eliana Passareli, afirma que a intenção é atender todos os professores e funcionários que passarem pela escola nesta segunda.

"Esse acolhimento é feito individualmente e em grupo com conversas, consulta e atendimento psicológico. Isso também será feito nesta terça-feira com os alunos que queiram vir até a escola", diz ela.

Eliana destaca que não existe uma obrigatoriedade de presença nem de funcionários e professores nem alunos.

"A intenção é um acolhimento e que eles venham para começarem a entender o que aconteceu. Esse programa faz um chamamento, um convite para o tratamento para termos a percepção de quem precisa de um retorno com mais calma. Depois faremos a busca ativa que é ir na casa dos professores, alunos e funcionários e ajudá-los no sentido de tratamento para o retorno ou não."

A psicóloga Luciane Inocêncio atua na rede estadual e junto com o Centro de Referência e Apoio a Vítima (Cravi) da Secretaria Estadual da Justiça. Ela disse que psicólogos da rede estadual estão trabalhando na recepção e que será feito um trabalho de longo prazo com os alunos, professores e funcionários.

“Vamos trabalhar o trauma do que aconteceu, da violência em si. E também do luto pela perda dos amigos. Vamos trabalhar isso a longo prazo dando atendimento e suporte a vítimas e familiares", diz a psicóloga. "Hoje vamos definir como será esse calendário de volta às aulas. A ideia inicial é fazer um acolhimento sem atividade pedagógica. Pensamos em um café da manhã para eles se reencontrarem e ficarem juntos. Não necessariamente aula."

Segundo a Luciane Inocêncio, alguns alunos já manifestaram a vontade de voltar.

Fachada da escola foi pintada

Parte da fachada da escola foi pintada. As paredes internas também vão receber outra roupagem. A placa com o nome da escola está no chão por conta da reforma. Uma estrutura metálica usada na reforma está montada na entrada principal da escola.

No muro da escola, muitas pessoas deixaram homenagens, como cartazes, flores e velas.

No domingo (17), vizinhos e familiares das vítimas estiveram na frente da escola para prestar algum tipo de solidariedade às vítimas do massacre.

O ataque

Os assassinos Guilherme T. Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, mataram sete pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, na quarta-feira. Antes do ataque, um deles havia baleado e matado um próprio tio, em uma loja de automóveis.

A investigação aponta que, depois do ataque na escola, um dos assassinos matou o comparsa e, em seguida, se suicidou. A polícia diz que os dois tinham um "pacto", segundo o qual cometeriam o crime e depois se suicidariam.

Sobrevivente lutou contra assassino

Uma das sobreviventes, Barbosa dos Santos, de 15 anos, que é lutadora de jiu-jítsu, contou que lutou contra um dos assassinos.

Ela ainda conseguiu abrir a porta de entrada e da escola para que outros estudantes pudessem escapar.

Mas Rhyllary recusa o título: "Sou apenas uma sobrevivente".

Arma falha e adolescente sobrevive

Gabriel Martins Margarida, de 16 anos, disse que sobreviveu porque a arma de um dos assassinos falhou.

No momento do ataque, Gabriel conta que estava com dois amigos: um deles segue internado e o outro morreu.

De acordo com o adolescente, o assassino chegou perto dele e dos colegas e começou a atirar, acertando três tiros no amigo.

"Ele estava a mais ou menos um metro de distância de mim", diz. Neste momento, diz Gabriel, as balas do revólver acabaram.



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