Atentado a escolas é um ataque real ao ensino, por José Osmando

Mais um ataque a escola veio se somar às inúmeras ações criminosas que vêm assustando o Brasil.

Alunos fazem homenagem a professora morta e pedem fim da violência | Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress
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Mais um ataque a escola, praticado na manhã de hoje (11), no Colégio Estadual Dr. Marco  Aurélio, em Santa Tereza de Goiás, veio se somar às inúmeras ações criminosas que vêm assustando o Brasil. O suspeito de cometer o crime foi um adolescente de 13 anos, aluno da escola. Ele deixou três alunas feridas, uma delas com cortes em pelo menos três partes do corpo.  

No dia 27 de Março, na Unidade Escolar Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, um adolescente, também de 13 anos de idade, e igualmente aluno da escola atacada, matou a professora Elisabeth Tenreio, de 71 anos de idade, deixando outras quatro feridas a facadas. No dia 5 de Abril, em Blumenau, SC, um elemento de 24 anos de idade, invadiu uma creche particular, matou 4 crianças de 4 a 7 anos de vida, fazendo outras cinco feridas. Todas foram mortas ou feridas a machadadas, a arma que o sujeito portava.   

Em menos de 20 dias, essa foi a terceira manifestação de ódio em escolas do Brasil, deixando mortos e feridos, abrindo uma ferida de dor, revolta e incompreensão, difícil de ser sarada. O país vive uma fase de disseminação de pânico direcionada às comunidades escolares. 

Casos orquestrados

Vi o depoimento de uma dirigente do Sinpro, Luciana Custódio, sobre essa questão. São alarmantes os seus relatos. 

Ela conta que em Brasília, ao menos cinco colégios sofreram ameaças de ataques nas últimas duas semanas. E esse tipo de ataque contra escolas é bem específico, perpetrado por um grupo bem definido de adolescentes / jovens do sexo masculino, com perfil socioeconômico já delineado, que se reúnem em grupo em redes sociais.  

Esses grupos vêm sendo monitorados por jornalistas especializados desde 2011, após o ataque contra a escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no subúrbio do Rio de Janeiro. Os jornalistas que monitoram os grupos nas redes sociais, alertam que a subcomunidade de adolescentes monitorada recebeu uma leva de perfis novos que estão inflando supostas ameaças de ataques – e são supostas porque estão fora do padrão do que se observava na comunidade anteriormente. 

Fica muito claro nos relatos de Luciana que os ataques a escolas no Brasil não são ações isoladas, fora de conexão, obras de lobos solitários, como muitas vezes setores da mídia querem qualificar. Esse tipo de olhar, enviesado, de rotular esses elementos de “monstros”,  serve apenas para camuflar a realidade, na tentativa de esconder que esses atos criminosos são, de fato, orquestrados por integrantes da extrema direita em vários países do mundo, sobretudo nos Estados Unidos, e que chegaram com força no Brasil, avançando de maneira cruel nos últimos seis anos. 

Sobretudo a partir do massacre de Columbine, no Colorado, em 20 de abril de 1999, quando criminosos organizados mataram 12 alunos e um professor e fazeram 21 pessoas feridas, tais manifestações de ódio cresceram e ganharam toques de reinvenção. O massacre dos EUA foi complexo e altamente planejado. Envolveu o uso de bombas para afastar a polícia, um arsenal de 99 explosivos, carro-bomba e armas de fogo. No final, os dois elementos se suicidam, no suposto desejo de passarem aos futuros jovens a imagem de ídolos, heróis. 

Esse tipo de prática e essa manifestação de sentimentos também se expressou durante o ataque à Escola Raul Brasil, em São Paulo, praticado 20 anos depois de Columbine, em 13 de Março de 2019, com critérios detalhados de imitação. No tiroteio e ataque à Escola, deixaram  6 alunos, uma professora e uma funcionária. Ao final, os dois se matam, na visível intenção de entrar no imaginário de jovens futuros, como heróis. 

Extrema direita

O professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP, cientista político e dirigente da Campanha Nacional de Direito à Educação, afirma em documento produzido para a comissão de transição do Governo Lula, que a violência às Escolas é obra engendrada e planejada pela extrema direita. Tanto a ONU, quanto as inúmeras embaixadas de países com quem ele mantém colaboração, têm essa clara compreensão de que se trata de uma ação internacional da extrema direita. 

A Luta é contra a instituição escola, contra a instituição ensino, contra a instituição conhecimento. A extrema direita não aceita que a escola seja, como deve ser, um vetor de liberdade, de igualdade, de eliminação da escalada de exclusão, da transformação social, da obtenção de autonomia por parte dos mais pobres. Daí, essa ira insana que está levando a morte às escolas, numa forma extremada de amedrontar crianças e adolescentes, pais e mães, professores e professoras, fazendo diminuir o papel e a importância do Estado perante a educação, deixando os mais carentes numa posição impossível de competição com a iniciativa privada. 

Educação de valor

É bom lembrar. Enquanto o interesse do setor privado ganha força, especialmente com essa reforma do ensino médio ora em debate, 13 dos últimos ataques a escolas no país foram perpetrados de 2019 para cá. Uma triste confluência de interesses. E não é coincidência.  

Torna-se urgente a união dos que querem uma educação de valor, que qualifique e eleve, que assegure a democratização do ensino, fazendo conter essa onda avassaladora de ódio e violência. Onda que também se mostra na forma de gula do mercado, que sonha em tirar a educação das mãos do Estado. De fato, o atentado a escolas é um ataque planejado à instituição Ensino.



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