Bolsonaro anuncia projeto que permite mineração em área indígenas

Texto regulamenta artigo da Constituição, e será analisado pelo Congresso. Bolsonaro disse que índios são 'tão brasileiros quanto nós', e que se pudesse, confinaria ambientalistas na Amazônia.

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta quarta-feira (5) um projeto de lei para regulamentar a mineração e a geração de energia elétrica em terras indígenas. O texto será analisado pelo Congresso Nacional.

O projeto também abre a possibilidade de as aldeias explorarem as terras em outras atividades econômicas, como agricultura e turismo. A exploração mineral e hídrica está prevista na Constituição Federal, mas nunca foi regulamentada.

Bolsonaro assinou o projeto durante uma cerimônia em referência aos 400 dias de governo, no Palácio do Planalto. Até a última atualização desta reportagem, a íntegra do projeto de lei ainda não tinha sido divulgada.

Para entrarem em vigor, as regras precisam ser aprovadas na Câmara e no Senado e sancionadas pelo presidente da República. Em discurso, Bolsonaro se referiu à regulamentação como um "sonho", e disse que o índio "é tão brasileiro quanto nós."

“Espero que esse sonho pelas mãos do Bento [Albuquerque, ministro de Minas e Energia] e os votos dos parlamentares se concretize. O índio é um ser humano exatamente igual a nós. Tem coração, tem sentimento, tem alma, tem desejo, tem necessidades e é tão brasileiro quanto nós”, declarou.

'Confinar ambientalistas'

Enquanto falava sobre o projeto, Bolsonaro ironizou ambientalistas e disse que, se pudesse, confinaria o "pessoal do meio ambiente" na Amazônia. ONGs e especialistas têm criticado a proposta de exploração econômica nas aldeias, sobretudo por empresários e trabalhadores não índios.

"O grande passo depende do parlamento, vão sofrer pressão dos ambientalistas. Esse pessoal do meio ambiente. Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que ele gostam tanto do meio ambiente, e deixem de atrapalhar os amazônidas aqui de dentro das áreas urbanas”

O que diz o projeto?

A regulamentação do garimpo e de outras atividades extrativistas em terras indígenas é defendida por Bolsonaro desde o início do mandato. O governo trabalhou por meses na proposta enviada agora ao Congresso, e capitaneada pelo Ministério de Minas e Energia.

De acordo com o Planalto, o projeto define “condições específicas para a pesquisa e lavra de recursos minerais, inclusive a lavra garimpeira e petróleo e gás, e geração de energia hidrelétrica em terras indígenas”.

O texto não foi divulgado mas, segundo o governo, a proposta incluirá:

Critérios mínimos para consulta das comunidades indígenas afetadas

Procedimento administrativo de autorização do Congresso Nacional para empreendimentos minerários, inclusive de petróleo e gás natural, e de geração de energia hidrelétrica;

Pagamento às comunidades indígenas afetadas no resultado da lavra e da geração de energia hidrelétrica e de indenização pela restrição do usufruto dos indígenas sobre as suas terras;

Uso desses recursos privados a conselhos curadores, entidades de natureza privada, compostos por indígenas, para repartir o dinheiro entre associações que representem as comunidades indígenas afetadas;

Possibilidade de os indígenas explorarem economicamente suas terras, por meio de atividades como agricultura, pecuária, extrativismo e turismo.

O Artigo 231 da Constituição determina que seja assegurada às comunidades "participação nos resultados da lavra". Segundo o governo, essa regra seguirá o que já existe para exploração em terrenos privados.

Por conta disso, de acordo com o Palácio do Planalto, a regulamentação das atividades também não terá impacto nos pagamentos dos royalties da mineração a estados e municípios.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou na cerimônia que as terras indígenas já são exploradas, porém de forma “ilegal” e “muitas vezes criminosas”.

“As terras indígenas são, sim, exploradas de forma ilegal, muitas vezes criminosas, não restando aos indígenas lamentar as perdas incalculáveis ou gerar conflitos que levam violência e morte”, disse o ministro.

Onyx ainda comparou o projeto à Lei Áurea, de 1888, que aboliu a escravidão.

“Pois hoje, presidente, com a sua assinatura será a libertação. Ou seja, nós teremos a partir de agora a autonomia dos povos indígenas e sua liberdade de escolha. Será possível minerar, gerar energia, transmitir energia, exploração de petróleo e gás e cultivo das terras indígenas. Ou seja, será a lei áurea”, disse.

Poder de veto?

Segundo o chefe da Assessoria de Acompanhamentos de Políticas do Ministério de Minas e Energia, Roberto Klein, o garimpo só poderá ser exercido por não indígenas, em área demarcada, se houver consentimento dos índios daquela região.

Essa regra não vale para atividades de outras atividades de mineração e exploração hidrelétrica. Nestes casos, os índios serão ouvidos "em busca de um consenso", mas sem poder de veto.

“No que concerne ao garimpo, o não-indígena em terra indígena a atividade terá que ter consentimento dos índios. Com relação às outras atividades de mineração, exploração hidrelétrica de petróleo e gás, eles vão ter que ser ouvidos, obviamente vai buscar-se o consenso das comunidades”, declarou.

Questionado se a terra poderá ser explorada contra a vontade dos indígenas, ele disse que “muito provavelmente, não”, e afirmou que a Constituição não prevê poder de vetos aos índios, mas sim uma consulta.

“Como falei anteriormente, a gente busca nas consultas às comunidades que vão ser feitas dentro de requisitos pré-estabelecidos na linguagem deles, lá onde eles residem, dando toda possibilidade deles discutirem a matéria e buscar o consenso. A atividade garimpeira precisa do consentimento das comunidades”, afirmou.

“A Constituição não prevê poder de veto para os índios. Ou seja, ela prevê, sim a consulta à comunidade. Este poder de veto na atividade de garimpo, o governo achou por bem colocar este consentimento para esta atividade quando proferida por não índios”, explicou.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES