Cinco mil jacarés 'presos' em lama podem morrer se não chover no MS

Zilca Maria Campos observou entre 4 mil e 5 mil jacarés em área de açude que secou em Corumbá. Segundo ela, é preciso encher o açude de água ou fazer sombreamento para evitar que as altas temperaturas causem a morte dos repteis por desidratação.

Jacarés 'presos' em lama a 50°C podem morrer se não chover no MS | Divulgação
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Após retornar de visita a área de Pantanal de Nhecolândia, distrito de Corumbá (MS) próximo da fronteira com a Bolívia, a pesquisadora Zilca Maria Campos contou ter visto jacarés que estão amontoados em um lamaçal a 50º C de temperatura. Segundo ela, eles correm risco de morrer caso não chova. O lamaçal fica na área de um açude que secou.

O Pantanal viveu em 2020 sua pior seca em 47 anos, o que contribuiu para o alastramento de queimadas por todo o bioma. O mês de outubro foi o pior da história em focos de incêndio na região: do dia 1° ao dia 28 foram registrados 2.825 pontos de fogo, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

14% da da área do Pantanal foi queimada apenas em setembro, ainda segundo o Inpe. O número é maior que a área queimada ao longo de todo o ano passado. Muitos animais morreram, ficaram feridos ou precisaram fugir das áreas que pegaram fogo.

A pesquisadora Zilca Maria Campos, que há 31 anos atua na Embrapa Pantanal na área de pesquisa e desenvolvimento, contou ao G1 que viu entre 4 mil e 5 mil repteis concentrados no mesmo lugar, onde um açude secou. De acordo com ela, a solução a curto prazo para evitar a morte dos animais seria encher o açude com água ou fazer um sombreamento para evitar as altas temperaturas.

Jacarés amontados em açude no Pantanal de MS — Foto: Redes Sociais/Reprodução 

"Se a chuva não chegar, provavelmente muitos vão morrer. Aliás, muitos já morreram", afirmou a pesquisadora. "Eles morrem por desidratação. Os que podem sobreviver são aqueles que se enterram na folhagem, e lá as temperaturas estão mais amenas. Então, os que buscam refúgio no interior da mata têm maiores chances de sobrevivência", completou.

Ainda conforme a pesquisadora, a alta taxa de mortalidade ocorre por conta de ações chamadas antrópicas, que partem do homem.

"Houve desmatamento da Amazônia, assoreamento de rios e mudanças climáticas. Tudo isso afeta o Pantanal e, reduzindo as chuvas, reduz também os ambientes aquáticos, e as espécies que são aquáticas sofrem, podendo chegar a morte", comentou.

Apenas um açude visitado

Zilca explicou ainda que visitou somente um açude dos milhares existentes na região. "Assim como este, existem inúmeros no Pantanal. É uma área muito grande. A Embrapa Pantanal estimou, na década de 90, 3 milhões de jacarés adultos. Como a gente vai salvar todos eles? É impossível"m disse.

"O que a gente faz para minimizar as ações antrópicas, para que o local volte a ter seu curso de inundação, entre cheias e secas anuais, são as ações a curto prazo, que é o que alguns proprietários já estão fazendo", ponderou.

No local, ainda conforme a pesquisadora, fazendeiros e capatazes estão fazendo açudes. "Isto também beneficia a fauna e especialmente o jacaré, que depende muito da água. Nós estamos contando muito com apoio da população local e acho que esse amor à natureza é fundamental agora para salvar os jacarés.

Eles estão perfurando os poços, que vão ajudar tanto os animais domésticos, bovinos, equinos, e também a fauna silvestre nesse período de escassez hídrica na planície pantaneira", finalizou.



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