Criança de dois anos tem face reimplantada, após ataque de cão

Passados 22 dias do ataque e 11 da alta hospitalar, Murilo se alimenta normalmente, brinca, conversa, sorri e não fala mais sobre o cão.

Murilo Rocha | Reprodução
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Um menino de dois anos é atacado por um pitbull e tem o lábio superior, as bochechas e parte do nariz arrancados na mordida. O avô avança sobre o cão e consegue fazê-lo soltar o retalho de pele, músculo e cartilagem.

Sangrando muito, a criança é levada pelos avós a um posto de saúde próximo. Lá, os médicos acionam o helicóptero Águia da PM. A avó se lembra, então, de que um pedaço do rosto do neto havia ficado no local do ataque, e o avô corre para buscá-lo.

Meia hora depois, o garoto já está no Hospital das Clínicas de São Paulo sendo preparado para o reimplante de parte da face mutilada.

Passados 22 dias do ataque e 11 da alta hospitalar, Murilo se alimenta normalmente, brinca, conversa, sorri e não fala mais sobre o cão. Nos primeiros dias, repetia: "Mamãe, au-au modeu Lililo."

A incrível história de "Lililo" não só comoveu a equipe médica do HC como também entrará para os anais da cirurgia plástica reparadora.

Não há registro na literatura médica mundial de uma criança tão nova ter sido submetida, com sucesso, a esse tipo de reimplante.

TEMPO

"O tempo é crucial. O segmento [pedaço da face] fica sem sangue, morre naquela hora. O socorro tem de ser rápido. O jeito certo de conservar o tecido também é fundamental [veja quadro nesta página]", diz a cirurgiã plástica do HC Rachel Baptista, 30, formada pela USP e com especialização na Espanha.

Ela e o namorado Guilherme Barreiro, 30, médico assistente do HC, são os responsáveis pelo reimplante. Estavam de folga (era sábado) quando foram chamados.

"As chances de dar errado eram imensas. A habilidade do cirurgião conta muito, mas, para mim, isso foi um milagre", diz Barreiro, egresso da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e com especialização no Japão.

Antes do início da cirurgia, o pedaço da face de Murilo foi limpo com soro fisiológico.

"Estava bem machucado porque foi mastigado pelo cão. Também tinha resto de terra e grama", conta Barreiro. O menino recebeu antibióticos para evitar possível infecção e vacina anti-rábica.

Tudo nesse tipo de cirurgia é micro. As artérias e veias do menino mediam 0,7 mm e 0,3 mm, respectivamente, e o fio usado para suturá-las era dez vezes mais fino do que um fio de cabelo. A operação foi feita com microscópio que amplia o campo em 20 vezes.

"São instrumentos delicados, e as estruturas são muito pequenas. Foi glorioso termos encontrado veias. Isso é raro", explica Rachel.

Três dias após a cirurgia, Murilo teve de ser reoperado porque o implante começou a necrosar. "Às 11h, ficou roxo. A gente abriu os pontos e raspou", diz Barreiro.

Segundo Rachel, as condições clínicas do garoto favoreceram o problema. "Ele estava anêmico, e o tubo da respiração tinha saído da posição certa. Isso instabilizou a parte mais sensível do corpo, a área do reimplante."

FAMÍLIA

Depois do susto, a recuperação de Murilo segue sem sobressaltos. "Os médicos nos prepararam para o pior. Mas a recuperação foi assombrosa", diz a mãe, a dentista Helen Rocha, 25, que estava trabalhando no dia do ataque.

Ela mora com o filho na casa dos pais, que fica num condomínio em São Bernardo do Campo (ABC). O pitbull era do vizinho. "Já tínhamos reclamado, mas ele não tomou providências." O dono do cão está sendo processado.

Na hora do ataque, Murilo e o avô, Walter Rocha, estavam na área externa do condomínio. "Quando vi, o cachorro estava com o rosto do meu neto dentro a boca. Tentei abrir os dentes dele, mas o bicho tinha muita força. Quando soltou, o pedaço [do rosto] caiu da boca dele."

Walter conta que não tinha esperança de que o tecido pudesse ser reimplantado.

"Estava todo mordido, só peguei por desencargo de consciência, porque minha mulher tinha mandado."



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