De vendedora de salgados a gestora de empreendedorismo em São Paulo

Vendi salgados nos trens do Rio de Janeiro e aprendi tudo sobre varejo. Hoje, defendo os direitos dos empreendedores no governo paulista

Jandaraci Araújo | Divulgação
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Jandaraci Araújo tem uma história de superação. Caçula de uma família de seis irmãos, ela nasceu na Bahia e é mãe de Diumara e Luana, fontes de inspiração e suas fortalezas. "Sou chamada pelos amigos de Janda, sou mulher, preta e nordestina e na minha vida sempre tive que batalhar para proporcionar um futuro melhor às minhas filhas. Por conta disso, me reinventei várias vezes e fiz de tudo, consertei eixo de caminhão e tive uma pequena serralheria onde cortava, moldava e soldada ferros", conta.

Foi vendendo salgados que conseguiu sua primeira oportunidade. "Um professor que sempre comprava comigo um dia perguntou sobre minha história e conversamos. No dia seguinte, ele me deu seu cartão e pediu que procurasse uma de suas gerentes. Cinco dias depois, comecei a trabalhar em uma das maiores redes do varejo. Anos depois soube que a vaga não existia. Fiz minha carreira lá. Fui transferida para São Paulo em 2003", diz.

Hoje, Janda é subsecretária de empreendedorismo e pequenas e médias empresas do estado de São Paulo e também atua como diretora executiva do Banco do Povo Paulista - primeira mulher desde a sua criação em 1997 a ocupar o cargo.

Palestrante, professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e consultora, Janda possui MBA em Finanças e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Se especializou em Gestão Estratégica pela Business School e Inteligência Competitiva pela ESPM São Paulo. Janda é conselheira da Women in Leadership in Latin America (WILL), ONG voltada para o empoderamento feminino nas organizações e voluntária no Grupo Mulheres do Brasil. Atua também como diretora financeira da Aristocrata Clube. Coordena o programa Empreenda Rápido, que promove capacitação empreendedora, formalização e microcrédito. Ano passado, palestrou na TEDxSão Paulo. Em setembro, lançará o livro “Mulheres nas Finanças”, pela editora Leader, onde contará sua trajetória e experiências.  Ao Portal Meionorte.com, ela fala de sua carreira.

Ela fez a trajetória de muitas mulheres e homens que migram. Ao sair da Bahia para o Rio de Janeiro, morou na casa da parente em Nova Iguaçu e logo fui procurar emprego, pois não queria pedir mais ajuda para os meus pais, que já me ajudavam demais com as meninas. Lá tive a ideia de vender salgados na porta de uma universidade, só não sabia que mais tarde eu estudaria lá.

"Tenho muito orgulho da minha trajetória, principalmente das dificuldades que passei por conta das minhas grandes paixões: minhas filhas. Olhando para trás vejo que valeu muito a pena. Hoje a mais velha é formada em direito tributário e a outra estuda para fisioterapia", afirma Janda, declarando que sempre estudou muito, fez vários cursos gratuitos ou não, buscou bolsas de estudo ou patrocínio das empresas onde trabalhou. "Vergonha zero de pedir descontos, propor parcerias e pedir conselhos. A educação é transformadora, acredite!", diz.

Janda tem como propósito lutar por uma sociedade mais igualitária. "Que não precisamos ser cota da cota (negra, mulher e nordestina), que não nos coloquemos como referência de diversidade, mas sim de normalidade, principalmente, nas posições de liderança, seja no setor público ou privado", afirma.

Jornal Meio Norte - Você batalhou muito na vida, se reinventou, na atual realidade, qual o profissional que o mercado exige?

Jandaraci Araújo - O mercado vêm exigindo muito mais que hard skills - qualificação técnica. as soft silks, características ligadas ao lado comportamental, ganham cada dia mais destaque . Lideranças que apresentaram maior grau de adaptabilidade e flexibilidade se destacaram nesse momento de crise mundial, assim como os líderes que são bons comunicadores e conseguem engajar a equipe estão conseguindo obter resultados consideráveis.

MN - Onde as pessoas precisam se reinventar?

JA - Reinventar-se não é uma tarefa simples e requer uma boa dose de autoconhecimento. Entendo que há três pontos de virada de chave, quando pensamos em reinvenção seja pessoal ou profissional que são: accountability - que é assumir a responsabilidade por sua escolhas pessoais e profissionais; ter uma mentalidade empreendedora ; desapego – desapegar de velhos conceitos, estar aberto ao aprendizado e revisitar seus vieses inconscientes que as suas decisões.

MN - Você vendeu salgados, trabalhou com carros , no varejo. No Governo de São Paulo, qual o seu propósito e quais desafios têm enfrentado?

JA - Ter tido uma carreira executiva e ser empreendedora simultaneamente, me fez entender as dores de quem empreende e o qual importante o empreendedorismo é para gerar renda e trabalho . Facilitar a vida do empreendedor possibilitando acesso a crédito barato e qualificação para que possa expandir seu negócio é uma das minhas missões. Confesso que se tivéssemos conhecido o programa de microcrédito que hoje coordeno, seríamos um cliente do programa. O nosso maior desafio é expandir as políticas públicas de empreendedorismo de forma a fortalecer as potencialidades locais, e desburocratizar. Apesar de todos concordarem que é preciso diminuir a burocracia, temos um volume considerável de reformas legais e infralegais a serem realizadas na esfera municipal, estadual e principalmente federal, que precisa de uma forte articulação política para avançar.

MN - Qual o futuro que a senhora enxerga para o Brasil?

JA -  Para que haja futuro, precisamos garantir o presente. Primeiro precisamos diminuir as desigualdades sociais, não há como pensar em um país próspero sem inclusão. Desenvolvimento social e desenvolvimento econômico, não são antagônicos e sim complementares. E principalmente um futuro com mais educação para todos, porque educação é o principal agente transformador de uma sociedade mais igualitária.

MN - Com sua experiência no mercado de varejo e como gestora, quais as dicas que a senhora dá para quem deseja criar e ter um negócio próprio?

JA - A principal dica é planeje, não importa se o motivo de empreender é uma necessidade ou uma grande oportunidade. É necessário ter um planejamento mínimo de como começar, quanto investir, quanto cobrar, para quem vender. Mesmo que esse plano inicial precise ser revisto várias vezes , pelo menos terá uma visão de onde deve corrigir. Outro ponto importante é seja curioso, busque informações, faça cursos existem vários gratuitos.

MN - A senhora pretende escrever um livro sobre sua vida?

JA - Estou escrevendo dois livros , um sou coautoria e ele será lançado em outubro deste ano, sobre Mulheres em Finanças. E o outro ainda sem data prevista para lançamento, pois estou em busca de editora, que aborda o tema Finanças e Empreendedorismo onde irei contar um pouco da minha trajetória e falar sobre finanças.



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