E-mails relatam as últimas aventuras do brasileiro Gabriel

A morte do brasileiro Gabriel Buchmann, de 28 anos, foi provada porhipotermia no monte Mulanje, no Maláui, na África

Gabriel Buchmann morreu no monte Mulanje | Divulgação
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A morte do brasileiro Gabriel Buchmann, de 28 anos, de hipotermia no monte Mulanje, no Maláui, na África, pegou amigos e parentes do viajante de surpresa. Mas, quem acompanhou as andanças do economista, experiente em escaladas, pelo mundo tem uma certeza: ele fazia o que mais gostava e viveu, só no último ano, mais experiências do que muita gente que vive até os 100 anos.

Nesta quarta-feira (19), faz um mês que, nas contas da família, o carioca desapareceu. O G1 teve acesso a alguns dos últimos e-mails em que Gabriel conta detalhes de suas aventuras. Os episódios vão desde navegar entre hipopótamos e crocodilos, brincar com tigres e elefantes, até comer cachorro, morcego e água viva.

?Ele brincava que a culpa era minha, que dei o livro ?As Aventuras de Marco Pólo? para ele ler quando criança?, lembra a mãe, Fátima Buchmann, que passou o aniversário de Gabriel "mochilando" com ele pela Tailândia e Camboja. ?Foi a melhor coisa que fiz?, conta.

África fantástica

Em mensagem enviada à família e amigos, em maio, da África, ele contou suas primeiras impressões do continente: ?Podia escrever horas sobre essa minha primeira semana aqui. Tô realmente muito contente por tudo estar superando minhas melhores expectativas. Tenho encontrado pessoas incríveis e fascinantes a cada dia, que me apresentam a outras e, de conexão em conexão, vou penetrando aos poucos na alma da África?.

O melhor, dizia Gabriel, é que lá era possível por em prática a viagem que sempre idealizou. Onde podia, trocava albergues por casas de moradores e, ajudava as famílias com o que economizava do seu orçamento. Foi numa dessas que, com US$ 40, pagou todo o ano de estudos de um menino.

?Tô muito feliz com isso de conseguir estar vivendo grandes aventuras e realizando uma viagem de profunda imersão no continente africano, absolutamente não turística e de forma totalmente sustentável, transferindo 80% dos meus gastos pra africanos pobres. Aqui, com quase nada, você faz uma substancial diferença na vida das pessoas?, explicava ele, que conheceu garimpo de diamantes e campos de refugiados.

À caráter

Por onde andava, Gabriel tentava viver como um nativo. ?Quando cheguei na Índia, ele estava vestido de indiano e, na África, de africano. Mas ele tinha roupas de paquistanês, tailandês, chegou a ser batizado e a ganhar roupas e armas da tribo Massai?, conta Cristina Reis, lembrando que o namorado chegou a estudar o Alcorão para visitar países muçulmanos e chegava a discutir o livro sagrado.

?Ele se impregnava do lugar em que estava?, completa ela. A impregnação incluía pernoites em tribos e casas de moradores. ?No Burundi, ele conheceu um casal e, no final da conversa, pediu a indicação de um hotel barato. Acabou hospedado na casa deles, levava os filhos na escola, participava. Aí descobriu que havia sido hospedado pelo 3º homem mais rico do país?, lembra Fátima.

Escaladas e trilhas

Apesar de ter desaparecido pouco depois de dispensar um guia e seguir escalando o Monte Mulanje, Gabriel estava longe de ser um aventureiro despreparado. Isso é comprovado pelos seus próprios relatos de viagens.

Em alguns, ele conta experiências como a da província de Shanxi, na China, onde fez uma trilha de 12 horas na madrugada para subir Huan Shan, segundo ele, a montanha sagrada do taoísmo.

No Vietnã, o economista subiu o pico mais alto da Indochina, o Fen Xi Pan, com 3100 metros de altura. ?O que todos fazem em três ou quatro dias, fizemos em um. Foi irado, subimos e descemos no pique e demos a grande e rara sorte de pegar o visual inteiro aberto?, detalhava ele, por email.

Pesadelo no Camboja e arrozal no Vietnã

Na volta ao mundo, o brasileiro se impressionava com o que via e ouvia, como no Camboja. ?Já fui a dois campos de concentração nazistas, mas o que se passou por aquelas bandas não tem como nada ser pior. Tive pesadelo todas as minhas noites no país?, admitiu ele, que chorou e riu com os povos que conheceu.

No Vietnã, se divertiu num casamento tradicional, escalou e seguiu viagem colhendo alface e regando arrozais. ?Cheguei num lugar onde todos os aldeões estavam reunidos. Todos levantaram, me aplaudiram de pé e me convidaram para ficar, jantar e beber com eles. Cada um que sentava a meu lado me fazia brindar e virar um copo de vodka?, divertia-se ele, no email. A noite terminou com o hino vietnamita e Gabriel, entoando ?pátria amada, Brasil?.

Roteiro de viagem

Na viagem, ele conheceu ainda lugares como Rússia, Mongólia, China, Nepal, Paquistão, Irã, Jordânia, Uganda, e Kenya, além da Europa. O Maláui era o último destino do plano de viagem do brasileiro, que passaria um mês no Brasil antes de ir, em setembro, para os Estados Unidos, onde faria um doutorado na Califórnia.

?Afirmo, com certeza, que o povo que ele mais gostou foi o paquistanês, o lugar mais lindo, a Jordânia e uma das emoções mais fortes foi no topo do Kilimanjaro, na Tanzânia?, contou a namorada Cristina Reis, que passou um mês com ele na Índia e outros 20 dias na África. ?Vivemos duas luas de mel lindíssimas?, conta.

Homenagem no Maláui

A família estuda organizar uma exposição de fotografias, com os registros dessas viagens e criar uma Organização Não-Governamental (ONG) ligada à educação em memória de Gabriel. ?Ele queria provar que a educação era importante e um bom investimento econômico?, conta Fátima.

Durante a entrevista, ela e Cristina receberam a notícia de que o Mulanje Mountain Conservation Trust (MMCT), ONG que deu suporte às buscas de no Monte Mulanje, vai colocar uma placa em homenagem ao economista. Enviada pela família, ela resume o sentimento de quem conheceu o viajante: ?Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena?.



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