Banco Central mira mudanças no Pix para evitar fraudes e conta laranja

No golpe do Pix, os infratores pulverizam o dinheiro das vítimas rapidamente em diferentes contas, dificultando o bloqueio e a recuperação dos recursos

banco | reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

NATHALIA GARCIA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Quase um ano após ser criado pelo Banco Central, o mecanismo especial de devolução do Pix –que tem como objetivo reaver valores desviados por fraude ou golpe– só recupera 5% dos recursos. Para aumentar sua eficiência, mudanças estão sendo estudadas no sistema.

Banco Central do Brasil avalia fazer mudanças no pix  

No golpe do Pix, os infratores pulverizam o dinheiro das vítimas rapidamente em diferentes contas, dificultando o bloqueio e a recuperação dos recursos. O BC pretende criar medidas para aperfeiçoar o rastreio das operações e, assim, coibir fraudes e uso de contas laranjas -abertas por criminosos em nome de outras pessoas.

O sistema permite hoje que o banco estorne valores para a conta do pagador em casos de fraude ou falha operacional. O retorno de recursos pode ser solicitado tanto pelas instituições envolvidas quanto pela pessoa que fez o Pix. Em caso de golpe, é preciso registrar um boletim de ocorrência.

As alterações para aperfeiçoar o sistema de pagamentos instantâneos foram apresentadas no Fórum Pix, que reuniu no dia 22 de setembro um grupo de trabalho coordenado pelo BC e secretariado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

A autoridade monetária resolveu acatar algumas das sugestões feitas no encontro por membros do mercado financeiro. A informação foi publicada inicialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha de S.Paulo.

"Até que o cliente identifique a fraude, realize a contestação ao seu PSP [prestador de serviços de pagamento], e este dê sequência na abertura da notificação de infração associada a uma devolução até a análise do caso, perde-se o time [tempo] para o bloqueio e recuperação dos recursos", destacou o grupo de trabalho na apresentação feita ao BC.

"A sugestão é a abertura automática de eventos para casos de triangulação de valores utilizando o Pix", continuou.

Hoje, o banco da vítima usa a infraestrutura do Pix para notificar a instituição que está recebendo a transferência para que os recursos sejam bloqueados. A ideia da "versão 2.0" do mecanismo especial de devolução é ampliar o bloqueio até a quinta camada de ramificação, ou seja, nas contas subsequentes ao destinatário inicial.

Entre as regras sugeridas, os participantes propõem uma limitação de até 30 minutos após o recebimento da transação para a abertura automática da ramificação -tempo que pode ser adequado conforme estudos posteriores do comportamento dos fraudadores.

Dada a complexidade do novo modelo operacional da ferramenta, a mudança requer tempo. Após a publicação das documentações técnicas, o grupo estima oito meses para seu desenvolvimento, dois meses para homologação em ambiente controlado com simulações reais e mais dois meses de operação controlada.

A proposta será incorporada à agenda de trabalho prioritária do BC, que prevê a elaboração de um plano de ação.

Enquanto a nova versão não sai, o BC se dedica ao aperfeiçoamento do mecanismo já em operação em uma tentativa de melhorar o fluxo de comunicação das instituições com os clientes, trazendo mais celeridade ao processo de devolução de recursos.

Outra mudança significativa que recebeu o sinal verde da autoridade monetária foi a criação de "etiquetas" específicas para a identificação de tipos de fraudes, como falsidade ideológica e conta laranja. Os CPFs e CNPJs suspeitos do uso indevido de contas receberiam essas marcações no banco de dados operado pelo BC.

O DICT (Diretório de Identificadores de Contas Transacionais), base de dados gerida pelo BC e que armazena as informações dos usuários recebedores e das respectivas contas, funcionaria como um "hub" de informações compartilhadas entre instituições financeiras –que teriam mais subsídios para coibir transferências suspeitas para determinadas contas e fortalecer seus mecanismos antifraudes.

Para ser implementada, a proposta precisa passar por ajustes operacionais e tecnológicos, que dependem tanto de atuação do BC quanto das instituições.

Em maio, em audiência pública na Câmara dos Deputados, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou sobre a intenção de responsabilizar os bancos por contas laranjas usadas em golpes e fraudes.

Algumas proposições mais simples feitas no fórum também foram aceitas pelo BC, como a criação de um questionário de autoavaliação a ser preenchido pelas instituições financeiras para se certificar de que estão em conformidade com o manual de segurança do Pix. A autoridade monetária trabalha agora no refinamento do conjunto de questões.

Em busca de simplificação do sistema, o grupo sugeriu, entre outras medidas, a exclusão da obrigatoriedade de limites por transação via Pix. Há o entendimento de que essa barreira é pouco efetiva, já que o usuário pode fazer diversas operações no valor máximo permitido desde que respeite o limite por período (diurno ou noturno).

De acordo com o BC, as medidas propostas no Fórum Pix estão sendo discutidas e aprimoradas internamente. Algumas delas podem ser anunciadas ainda neste ano.

"Seus contornos definitivos dependem ainda de apreciação das áreas técnicas do BC, além de avaliação pela diretoria colegiada e outras instâncias decisórias. Por isso, neste momento, não há um cronograma para a publicação e vigência de eventuais medidas", informou.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES