Brasil tem capacidade de fabricar 5 milhões de carros até 2015

Mercado brasileiro já o 4º maior do mundo, mas só o 6º em produção, diz presidente da Fiat

Fabricação de carros | Arquivo
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O Brasil tem capacidade de fazer 5 milhões de veículos por ano até 2015. O número representa um acréscimo de 1,6 milhão de veículos sobre o total que deve deixar as fábricas neste ano. Para o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, só assim o nosso mercado vai ganhar escala global para concorrer em pé de igualdade com gigantes como os asiáticos.

Hoje, o mercado brasileiro já passou a Alemanha como o quarto maior consumidor. De janeiro a agosto, foram 2,077 milhões de unidades vendidas aqui, contra 2,027 milhões de lá. Mas somos só o sexto maior produtor ? a previsão é fechar 2010 com 3,4 milhões de unidades.

- Nosso sonho é atingir 5 milhões de unidades no país até 2015. Temos muito a crescer ainda. O Brasil tem uma lição de casa para ser feita. Os asiáticos estão vindo: de 2006 a 2010, os coreanos e os chineses cresceram mais de 1.200% por aqui. Isso acendeu o farol amarelo. Então, temos que nos organizar em termos de produtividade e eficiência.

Um de cada cinco carros que vieram para o Salão do Automóvel de São Paulo, que abre as portas para o público desta quarta-feira (27) até 7 de novembro, é asiático. Para Belini, essa chegada dos carros baratos da Ásia acirra a concorrência, e ?a concorrência traz o progresso?.

O presidente da Fiat, que também ocupa a liderança da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), ainda tocou na questão cambial e reconheceu que as importações têm crescido a níveis nunca vistos no Brasil, já que o dólar está barato e os produtos estrangeiros acabam sendo mais acessíveis. As importações devem contribuir ? e muito ? com o recorde nas vendas neste ano.

- Quando há moedas com grande desvalorização enfrentando um real forte, então há um desequilíbrio. A questão do aço também preocupa. Mas temos que nos organizar em termos de produtividade e eficiência e encontrar alternativas. O ideal é ter produtividade e competitividade dos produtores nacionais, e não dos estrangeiros.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

R7: O Brasil é o segundo mercado mais importante para a Fiat, atrás só da Itália. O que isso significa?

Cledorvino Belini: Representamos em volume de vendas quase um terço das vendas da produção da Fiat no mundo. A empresa confia no Brasil e na América Latina. Faz nove anos que a Fiat lidera as vendas no mercado brasileiro. Acho que temos a felicidade de interpretar os anseios e desejos dos consumidores, traduzir isso em produtos bonitos, com design maravilhoso, competitivos, com baixa emissão de poluentes e performances adequadas. É isso que entendemos ser a receita do bolo.

R7: Como manter essa liderança de mercado por mais nove anos?

CB: Nosso foco sempre foi não a liderança de mercado, mas a liderança de resultados. Liderança de mercado é fácil. Mas o importante é a liderança de resultados. E o que é isso? É você atender toda a cadeia: os clientes, os parceiros, os fornecedores, os concessionários, os acionistas, o meio ambiente, a comunidade. Esse é o nosso desafio. Nossa estratégia de longo prazo é a mesma de sempre: manter a liderança nos segmentos em que já estamos na frente. Acima de tudo, temos que buscar competitividade e eficiência. Temos um programa que prevê R$ 10 bilhões de investimentos entre 2011 e 2015 que vai abarcar produtos, capacidade produtiva, tecnologias, e mais. Ainda estamos em uma fase de definição desses investimentos.

R7: A Fiat é líder na Itália, mas é superada pela Volkswagen em outros países da Europa. No Brasil vocês são líderes, superando até a alemã. Como você avalia isso?

CB: São conjunturas de mercado diferentes. Não há comparação...

R7: O Brasil pode virar o terceiro mercado mundial de veículos e bater Japão...

CB: ...é o nosso sonho!

R7: Como fazer isso?

CB: É um grande desafio, um salto enorme. Antes de falar em ser terceiro colocado, preciso antes dizer que nosso sonho é ter um mercado de 5 milhões de unidades. Isso vai dar escala de produção. Com estabilidade econômica, o Brasil crescendo e a renda do trabalhador aumentando, dá para chegar lá.

O setor automobilístico deve manter um bom ritmo, não com dois dígitos [neste ano a produção deve crescer 14%], mas um dígito já está bom internamente. Basta que o crescimento da economia seja sustentado pelas mesmas medidas deste ano, com inflação sob controle, política cambial e juros definidos, e o PIB com crescimento forte.

R7: Neste ano, a meta de 5 bilhões não vai ser batida, mas já somos o quarto mercado mundial. O que o senhor acha disso?

CB: Tem duas coisas: somos um mercado de 3,4 milhões de unidades, mas só o sexto em produção. Temos que ganhar escala para ser o quarto produtor. Só em 2015 devemos atingir essas 5 milhões de unidades. Considerando que os outros mercados fiquem como hoje, seríamos o terceiro. O Brasil tem uma lição de casa para fazer. Os asiáticos estão crescendo no mercado. De 2006 para 2010, os coreanos e os chineses cresceram mais de 1.200% aqui. Isso acendeu o farol amarelo.

Precisamos reconhecer que já temos um mercado e uma indústria madura. Temos a mesma quantidade de produtos que a Europa, mas lá o mercado é de 12 milhões de unidades. A diferença é a escala de produção. Temos que ser tão competitivos quanto um mercado de 12 milhões de veículos, mas em uma escala bem menor. Temos sempre que buscar melhorias e qualidade para enfrentar o mercado. Temos aqui mais de 40 marcas disputando o mercado e mais de 600 produtos ou versões sendo vendidas.

R7: O que impede o Brasil de avançar neste sentido?

CB: Acho que o grande problema é a questão cambial. Quando há moedas com grande desvalorização enfrentando um real forte, então há um primeiro desequilíbrio. Em segundo lugar, o custo de capital por aqui é caro. Depois, a infraestrutura e logística deixam a desejar ? é o que chamam de ?custo Brasil?. Isto é, não deve ter só câmbio favorável, mas estrada, porto, aeroporto. É um conjunto de fatores.

A questão do aço também preocupa. Temos que nos organizar em termos de produtividade e eficiência e encontrar alternativas para o aço, que é um dos produtos importantes do veículo e o mais caro desse tipo de produto. A Fiat, especificamente, importa muito pouco aço, por isso o preço dessa matéria-prima nos afeta pouco. Vejo que o ideal é ter produtividade e competitividade dos produtores nacionais, e não dos estrangeiros. A concorrência traz o progresso, mas os estrangeiros jogam o nosso jogo com igualdade se eles pagarem o mesmo preço para o aço, para as peças, para a carga de tributos...

O mundo tem capacidade para fazer 85 milhões de carros [novos por ano]. Os consumidores chegam a 57 milhões. Então já há em torno de 27 mi ou 28 mi de carros sobrando no mundo. Mesmo assim há brechas em todos os lugares. O Brasil, com mercado forte e real valorizado, tem lugar para esses players [montadoras chineses, indianas e coreanas] entrarem. As montadoras já consolidadas por aqui sofrem, mas cada uma tem sua estratégia. A Fiat decidiu investir e lançar carros. Nós também podemos importar, mas não temos essa intenção. O que queremos é voltar a exportar mais.

R7: Isso significa que, com o real fraco e o brasileiro ganhando mais, está preferindo o carro importado?

CB: Tem de tudo um pouco... O que aconteceu é que éramos um grande exportador, chegando a exportar 900 mil e importar 100 mil alguns anos atrás, e agora trazemos e enviamos em torno de 600 mil. Houve esse desequilíbrio. As exportações caíram em torno de 30% e as importações se multiplicaram por seis.

R7: Neste ano vocês lançaram o novo Uno. Tem o Bravo chegando. Para 2011, quais as novidades?

CB: Como sempre, teremos muitas novidades... várias. Pelo menos uma por mês. Acreditamos no mercado brasileiro. Somos uma empresa muito identificada com o Brasil e vamos tentar atender a expectativa do consumidor. Por isso estamos investindo em produtos, em tecnologias...

R7: E o carro elétrico, quando chegará?

CB: A melhor matriz energética do mundo está aqui no Brasil. O etanol é a nossa onda verde. Sobre veículos elétricos, esse é um nicho que está chegando aqui. Mas para abastecê-los, precisamos de energia elétrica. Um dos nossos problemas é resolver a equação elétrica. Veja: num horário de pico, com as hidrelétricas baixas, não faz sentido ter carro elétrico e ser obrigado a ligar a termelétrica [para atender o consumo residencial, por exemplo]. Então o etanol é o melhor modelo, porque é limpo. O segundo problema é global: ainda é preciso desenvolver baterias mais baratas, porque hoje tudo é muito caro. Ainda vai demorar para esse nicho amadurecer aqui no Brasil. Ainda temos a etapa do etanol, que é a melhor alternativa. Nós já fabricamos um elétrico. Mas ele é caro para os padrões do mercado brasileiro.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES