Em Minas Gerais, sirenes tocam bem mais após tragédia

Para especialistas, após desastre de Brumadinho, técnicos temem atestar estabilidade de estrutura com rejeitos

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Sirenes não tocaram quando a Barragem 1 da Vale se rompeu em Córrego do Feijão,Brumadinho , em 25 de janeiro. Mas, desde então, soa em Minas Gerais com frequência jamais observada. Para especialistas, as sirenes são o som do medo dos técnicos das empresas de consultoria, que temem declarar a estabilidade das barragens de rejeito depois do desastre de Brumadinho. Não há uma cascata de barragens subitamente em risco, mas sim uma mudança na conduta das empresas contratadas para avaliar a segurança.

A emergência é anunciada por determinação da Agência Nacional de Mineração (ANM) quando uma barragem tem a declaração de estabilidade negada pela empresa independente contratada para emiti-la. Na semana passada, sirenes tocaram quando o nível máximo de emergência, o 3, foi acionado pela Vale na barragem B3/B4, em Nova Lima. A emergência também foi declarada nas barragens de Forquilhas 1 e 2, em Ouro Preto. Na semana anterior, o nível máximo de risco foi atingido no reservatório Sul Superior, em Barão de Cocais. Todas são da Vale.

Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

E as sirenes vão continuar a soar em Minas à medida que mais declarações de estabilidade precisarem ser renovadas e forem negadas, afirma Carlos Barreira Martinez, professor de segurança de barragens das universidades federais de Itajubá e de Minas Gerais.

— As barragens não se tornaram nem mais nem menos perigosas agora. Mas, após a prisão dos técnicos envolvidos com Brumadinho, os profissionais da área temem se comprometer e, acredito, quase todas serão reprovadas — enfatiza Martinez.

A maioria das barragens de rejeito data das décadas de 1970 e 1980, mas vários reservatórios sofreram alterações nos últimos anos devido à pressão por mais minério e o aumento das exportações. Com isso, as barragens foram sendo alteadas para receber mais rejeito, o que elevou o risco em potencial.

Foi o caso da Barragem de Fundão, da Samarco, controlada pela Vale e a BHP Billiton, e que se rompeu em Mariana, em novembro de 2015. Para o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, consultor de segurança em barragens e que se tornou testemunha-chave no caso do rompimento de Fundão, não há uma epidemia de barragens na iminência de romper.

— A tragédia de Brumadinho fez com que consultores e a Vale passassem a temer um novo desastre. A emergência 3 não significa que uma barragem se romperá naquele momento, e sim que ela oferece perigo elevado. Mas agora ninguém quer se comprometer — diz ele.

Ávila projetou Fundão e relatou à Polícia Federal, em 2016, que seu projeto havia sido alterado pela mineradora. Ele havia alertado a Samarco sobre o risco de rompimento um ano antes do desastre.

O engenheiro acrescenta que, depois de Brumadinho, a ANM também mudou as regras e tornou o processo mais rigoroso. As inspeções passaram a ser semestrais. E uma empresa não pode mais declarar a estabilidade com ressalvas. Ou aprova ou reprova, sem meio-termo. Ainda assim, a própria ANM tem somente três engenheiros em Minas para fazer a fiscalização das 218 barragens de mineração inseridas na Política Nacional de Segurança de Barragens. Segundo a agência, “com o corpo técnico atual (três engenheiros), foram vistoriadas, em 2018, 68 barragens, sendo que algumas destas mais de uma vez”.

— O medo agora impera — diz Ávila.

E o medo não é só dos técnicos das empresas contratadas para emitir o laudo de estabilidade. É também das pessoas que vivem junto às barragens. Martinez estima que, no Quadrilátero Ferrífero, onde estão Grande Belo Horizonte e também a maioria das barragens, haja 200 mil pessoas junto a áreas com algum grau de risco.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES